Eternos

Oficialmente a fase quatro da Marvel nos cinemas foi inaugurada por Viúva Negra (nas séries o primeiro passo foi dado por WandaVision) entretanto, Eternos quem parece vir para marcar esta mudança. O longa dirigido pela ganhadora do Oscar Chloé Zhao é o primeiro na tela grande à tentar entregar algo novo. Aposta que tem dado muito certo nas séries do Disney+.

Os Eternos estão na Terra há sete mil anos, criados e enviados para cumprir a nobre missão de proteger a humanidade dos predadores Deviantes, acompanhando e facilitando nossa evolução, sem nunca interferir bruscamente. O grupo precisa se reunir quando a ameaça dos Deviantes reaparece, trazendo de volta velhas feridas de família, e claro, uma ameaça oculta ainda maior.

 Ajax (Salma Hayek), Sersi (Gemma Chan), Phastos (Brian Tyree Henry), Druig (Barry Keoghan), Sprite (Lia McHugh), Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Kingo (Kumail Nanjiani) Gilgamesh (Ma Dong-seok) e Makkari (Lauren Ridloff), esta produção da Marvel tem um total de dez protagonistas completamente inéditos. E precisa apresentar cada um deles, toda a mitologia envolta em sua existência, além de introduzir o personagem Dane Witman (Kit Harington), para aventuras futuras.

É muito trabalho, mesmo para as quase três horas de duração do filme. Por isso, a escolha aqui, foi focar um pouco mais em alguns personagens, usando a relação entre Sersi e Ikaris como guia da trama principal. Não que os demais personagens não tenham seus arcos. Eles tem, alguns melhor desenvolvidos que outros. Mas o roteiro escolhe "protagonistas ente seus protagonistas". Com isso, muito temas interessantes, são apenas pincelados ou apontados.

Dentre os arcos menores, o mais relacionável é de longe o de Phastos, uma vez que o personagem é o mais conectado aos humanos. As jornadas de Thena e Druig, trazem temas extremamente interessantes, mas pouco explorados. Enquanto o dilema de Sprite (Duende na versão dublada) é jogado sem grande preparação durante o clímax do filme. Makkari e Gilgamesh são visivelmente subaproveitados, e Kingo é relegado ao papel de alívio cômico chegando a ser descartado em alguns momentos.

Escolhas necessárias para retratar tantos personagens, que trazem pontos altos e baixos para a produção. Se por um lado, consegue apresentar razoavelmente cada um deles e seus poderes e personalidade. Por outro, prejudica o desenvolvimento de alguns em benefícios de outros. No caso, os beneficiados, Sersi e Ikaris não os menos interessantes do grupo. Especialmente o personagem de Richard Madden que, na maior parte do tempo, é o herói branco, aos moldes do super-homem, que já vimos dezenas de vezes. 

Diferente da diversidade oferecida por seus colegas de equipe. Uma equipe diversa, com diferentes etnias, condições, orientação sexual, qualidades e falhas, apesar de sua condição divina. Diversidade que está presente de forma natural e nada panfletária. A produção não está levantando bandeiras, está mostrando o mundo como ele é, diverso, simples assim. 

O roteiro tenta fugir da tradicional fórmula Marvel, embora ainda esteja preso a algumas convenções deste. A conexão com os demais filmes é leve, apenas uma ou outra referência para situa-los neste universo. Enquanto a obrigatoriedade de alívios cômicos constantes, que já foram criticadas em produções anteriores do estúdio, tiram um pouco do peso dramático da história. É como se o longa precisasse se apresentar constantemente como uma divertida aventura super heroica, mesmo que sua jornada tenha mais a oferecer como drama em muitos momentos. 

Ainda sim, Eternos entrega uma obra que foge da fórmula, e que vai espantar aqueles que esperam mais do mesmo. O que pode ser um problema para alguns públicos menos abertos à mudanças. Mais contemplativa e menos frenética, até em sua fotografia menos colorida, a produção ousa tentar ser diferente, e consegue em muitos aspectos. Além de seguir o caminho bem sucedido das séries do Disney+.

Apesar de um ou outro escorregão Chloé Zhao, conduz essa trama complicada e abarrotada de forma fluida e elegante. O tom mais contemplativo e a fotografia valorizam as belas locações reais, dando o tom de grandiosidade que a história, e seus personagens poderosos e milenares pedem. Some-se isso, ao mundo novo a que estamos sendo apresentados, e mal sentimos a longa duração do filme. 

O elenco entrega boas atuações, compreendendo bem seus personagens, e criando uma dinâmica familiar bastante crível entre eles. Embora ninguém tenha tempo de tela suficiente para oferecer grandes destaques. 

Os figurinos, leia-se uniforme de heróis,  não chamam tanto a atenção quanto poderiam, mas são funcionais e são coerentes com a proposta da criação destes seres. Enquanto as cenas de ação, são bem construídas, explorando tanto as habilidades únicas de cada um, como o uso conjunto delas. A sequencias não são tão frequentes quanto em outras produções do gênero, mas não decepcionam quando surgem, mesmo com o design genérico dos Deviantes. 

As obras da Marvel estão desenvolvendo personalidades próprias, ousando testar formatos, gêneros e estilos diferentes. Eternos é a primeira produção a trazer isso para a tela grande de forma mais significativa. Ainda não é revolucionário, mas já é algo novo, diferente, sem deixar de ser divertido. Que este seja apenas o primeiro, e a fase quatro traga muito mais desta originalidade. 

Eternos (Eternals)
2021 - EUA - 156min
Ação, Aventura, Drama, Ficção-científica

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