WandaVision

O fim de uma era pode gerar naqueles que a vivenciam o sentimento de luto, mas também a oportunidade de recomeço e renovação. WandaVision é exatamente isso para o universo Marvel, o desenvolvimento do processo de luto e a indicação de que novos tempos estão por vir. 

Na minissérie Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany), vivem o sonho americano no subúrbio, em preto e branco, na decada de 1950, em um episódio típico de siticoms daquela década! O que não faz o menor sentido considerando como estavam na última vez em que os vimos. Ela recém "blipada" e quase derrotando o Thanos sozinha. Ele morto!

É claro, há algo mais acontecendo ali, mas não vou contar mais do que isso! Pois, cabe principalmente ao público especular e tentar adivinhar o que realmente está acontecendo, enquanto o programa se modifica a cada episódio emulando sitcoms familiares de diferentes décadas. Uma escolha ousada e criativa, que pode afastar alguns, mas que oferece uma inovação bem merecida na "fórmula marvel".


De I Love Lucy, à Modern Family,  a série transita pela história da TV, mais especificamente de comédias de situação, fazendo uma bela homenagem repleta de referências a diferentes programas, e até as propagandas de cada época. Tudo à serviço de uma história maior construída ao longo do caminho. Cada elemento, e ideia escolhido propositalmente, com diferentes interpretações e funções na narrativa. 

E por falar nesta história maior, esta tem a ver sobre luto. Foi Wanda quem mais perdeu com os atos de Thanos, é aqui que a vemos enfrentar todos os estágios do luto. Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, podem inclusive ser relacionados a diferentes episódios ao longo da temporada.  Um arco bem trabalhado que constrói e reapresenta a Feiticeira Escarlate. Há também tempo de vermos como seria a relação de Maximoff com Visão, do qual só vimos relances nos filmes. 

Enquanto Wanda lida com o luto, o mundo que a cerca trata de renovação. Personagens são resgatados com novas funções como Darcy (Kat Dennings, muito divertida embora sub aproveitada especialmente no final). Outros são introduzidos no universo Marvel como a agora crescida Monica Rambeau (Teyonah Parris), tem tem sua história de origem como heroína desenvolvida aqui. Pronta para novas aventuras, assim como outros elementos apresentados aqui e deixados para serem desenvolvidos nos próximos filmes e séries. 

Produção e direção de arte, acertam em cheio ao recriar as as séries de diferentes épocas. Figurinos, objetos de cena, forma de filmar e até a textura das imagens seguem o que podia ser visto nas diferentes épocas, sem no entanto destoar das produções atuais, quando o "mundo real" finalmente é apresentado. O roteiro também faz um trabalho coerente, ao reproduzir episódios de sitcoms e incorporar neles, elementos da trama atual. 

Acompanhando a versatilidade da produção o elenco também surpreende, ao se adaptar à forma de atuação de cada época. Paul Bettany traz mais camadas e sutilezas ao seu sintezóide de vibranium, enquanto Kathryn Hahn  rouba a cena, com um carisma que nos faz torcer por sua personagem, mesmo quando não deviamos. Mas a série é de Elizabeth Olsen, que consegue expressar toda a confusão e poder da personagem, trazendo camadas e profundidade a ela. 

O formato de episódios semanais, e perfeito para especulação e discussão. A série tem ciência disso. O que é visível tanto na forma ponderada com que libera informações, quanto nas pistas e possibilidades que deixou em aberto, mesmo sem necessidade. Apenas para que a audiência especulasse sobre. 

O ponto fraco aqui é a bagagem que o espectador precisa para apreciar a obra em sua totalidade.  É óbvio, quem tem conhecimento de história da TV (estadunidense, diga-se), vai aproveitar muito mais as referências. Enquanto quem as desconhece pode ser afastado pela diferença de linguagem, especialmente nos dois primeiros episódios. 

Apesar de toda ousadia e inovação WandaVision ainda é uma série da Marvel, e tem uma cartilha a seguir. Easter Eggs estão lá, seja os da história da TV, seja detalhes do universo dos quadrinhos. Assim como pontas soltas a serem desenvolvidas em novas aventuras. Um grande embate heroico no clímax (atenção à batalha filosófica travada por Visão).  E claro, alguns episódios tem cenas pós créditos.


Inteligente, bem planejado e diferente, WandaVision tem muitas funções no MCU. É o ponto de partida para a nova fase, estabelece caminhos, personagens e elementos. A renovação instiga, o luto emociona, enquanto a jornada entretém e faz uma divertida homenagem ao mundo da TV. É provavelmente uma das obras mais complexas e bem desenvolvidas da Marvel. Tomara que a nova era siga esta linha!

WandaVision tem 9 episódios, todos já disponíveis no Disney+!

Leia mais sobre o Universo Cinematográfico da Marvel.

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