Em 2013, o primeiro Invocação do Mal revolucionou o cinema de terror da época. Apostando mais em construção de atmosfera e personagens, para dar estofo às ameaças sobrenaturais, e amplificar nossa preocupação por quem está em tela. O fenômeno criado por James Wan, foi tão bem sucedido que deu origem não apenas à uma franquia, mas um universo compartilhado, que contou com filmes da boneca Annabelle, da Freira e o isolado A Maldição da Chorona, além da linha principal os "Invocação do Mal".
Entretanto, entre filmes bons e ruins, nenhum superou a qualidade do primeiro. E pior, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, teve a oportunidade de inovar e revitalizar a franquia, ao abordar os eventos sobrenaturais por outra premissa. Mas desperdiçou o argumento com excesso de tramas e um diretor que imita o estilo de James Wan, só que sem a destreza a qualidade do criador desse universo.
E assim chegamos à Invocação do Mal 4: O Último Ritual, último filme da linha principal da franquia. Que acompanha as histórias do casal de demonólgos Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga). Se as outras linhas narrativas do chamado invocaverso vão voltar, depende do interesse do público e do estúdio, ou seja da capacidade de fazer dinheiro. E este quarto e último filme, traz de volta, Michael Chaves diretor do anterior, do insoso A Maldição da Chorona e do mediano A Freira 2, para conduzir uma história sobre família.
É 1986, os Warren já estão aposentados dos casos, fazendo palestras e escrevendo livros, enquanto sua filha Judy já é adulta e está prestes a se casar. Mas um caso mal encerrado da época em que lorraine ainda estava grávida, assombra uma família inocente, ressuscitando fantasmas do passado, os obriga à votar à ativa, para resolver esse último caso!
Se o terceiro filme teve a oportunidade de mudar a fórmula dos filmes protagonizados pelos Warren, O Último Ritual parece querer voltar para o formato apresentado no primeiro filme. Alternando o crescimento da ameaça à família Smurl, iniciada com a chegada de um artefato amaldiçoado - péssima propaganda para brechós e vendas de garagem" - E o cotidiano dos Warren, adiando o encontro das famílias, e o envolvimento dos protagonista no caso. Leva mais de uma hora, para as histórias se unirem.
Mas o formato que no primeiro filme servia para construção de atmosfera, e apresentação dos personagens. Até porquê naquele momento não conhecíamos ninguém, nem os protagonistas. Aqui parece uma enrrolação sem propósito na linha do tempo dos demonologos. Alternada com uma frágil apresentação da família ameaçada.
Além de mal decorarmos os nomes dos personagens, a própria ameça é mal desenvolvida. Os eventos sobrenaturais ora se intensificam, ora suavizam. Assim como a reação das vítimas a ele. Quem ficaria em uma casa amaldiçoada após vomitar litros de sangue? Ou ainda brinca com uma boneca já vista andando sozinha e flutuando pela casa? Inclua aí saltos de tempo, já que leva meses para os warren se envolver, e consequentes omissões de eventos.
Talvez o longo período abordado seja uma tentativa de se manter fiel ao caso real, que sim, durou meses. Mas o filme omite quase que por completo, a desconfiança em torno da veracidade dos fatos, e apenas menciona o apelo midiático que a família conseguiu na época, e que justificaria sua permanencia em tal lugar. E claro, omite o fato de que não teriam sido os Warren que resolveram o caso de fato.
Já no que diz respeito aos Warren, os roteiro se divide entre os problemas de saúde de Ed. Mencionado à exaustão, mas que não tem tanto peso assim nos momentos cruciais. E nos traumas de Judy (Mia Tomlinson), que não aprendeu a lidar tão bem com as habilidades que herdou da mãe, e ainda guarda traumas de sua interação com a boneca endemoniada em
Annabelle 3: De Volta Para Casa. Não que o medo impeça a moça de se colocar no olho do furacão, no momento em que deveria estar evitando à todo custo participar.
Se a filha esquece seus medos na hora chave. Os pais por sua vez esquecem toda sua experiência de anos de trabalho, e mais de mil casos. Uma vez que tudo que fazem ao chegar na casa é perambular por ela, sem plano, pesquisa, ou mesmo uma água benta. Nunca pareceram tão desperaparados. Acredito que isso se deva ao fato de que o filme parece estar mais preocupado em criar sequencias "aterrorizantes" marcantes, do que de fato contar a história a que se propôs. Assim, há muitas aparições, ataques e sustos. Mas poucas explicações sobre as entidades, e sobre a forma que foram derrotadas.
E nesses momentos, Michael Chaves até imita bem o estilo de James Wan, mas não coloca propósito em suas escolhas de direção. Filma de determinada forma pois vai ter a "cara da franquia", e não porque, vai agregar à narrativa. O que fica ainda mais evidente no clímax, onde as cenas de embate são mal coreografadas ao ponto de ficarem confusas.
É o nosso apego aos personagens, construído ao longo de três filmes, e principalemten o carisma de Patrick Wilson e Vera Farmiga, que nos mantém conectados até o final. Ainda que Lorraine aqui, pareça mais despreparada do que nunca. Acompanhamos os Warren há mais de uma década, e ainda torcemos por eles. Por isso, ficamos.
Invocação do Mal 4: O Último Ritual é melhor que o filme anterior, mas ainda é uma despedida à quem do que a franquia poderia entregar. Entretém e até dá medo sim, mas não resgata a qualidade do longa que gerou uma franquia tão grande e duradoura.
Invocação do Mal 4: O Último Ritual (The Conjuring: Last Rites)
2025 - EUA - 135min
Terror
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