Thunderbolts*

Desde Ultimato, a Marvel tem ensaiado, sem muito sucesso, sua nova grande equipe. Trazendo desde equipes formadas como os Eternos, até novos personagens isolados que um dia podem vir a se reunir, como Shang-Chi e a nova Pantera Negra. Mas à exceção de Guardiões da Galáxia e do trio de Homens-Aranha, equipes com bastante história pregressa no cinema, nada parecia muito promissor, especialmente entre as novas aquisições. Então é surpreendente que um filme sem grandes ambições, que reúne "personagens descartáveis", tenha funcione tão bem.

Thunderbolts* traz ex-vilões, sidekicks e coadjuvantes, para uma mesma aventura. Cada um com seus conflitos internos, e em processo de transição e busca por novos propósitos. É essa busca e a reunião dessas incertezas que movem e dão profundidade à um embate mais simples, mas extremamente impactante. 

A Viuva Negra e irmã de Natasha Romanov, Yelena Belova (Florence Pugh), o ex-Capitão América, John Walker (Wyatt Russell), a vilã incompreendida de Homem-Formiga e a Vespa, Ava Starr,  a Fantasma (Hannah John-Kamen), o Guardião Vermelho e pai adotivo de Yelena, Alexei Shostakov (David Harbour) e o civil Bob (Lewis Pullman), se reúnem em uma situação incomum e nada agradável, criada pela diretora da CIA, Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus). E por causa das ações dela, são forçados a entrar em ação, sob a "supervisão" do ex-Soldado Invernal, e agora congressista Bucky (Sebastian Stan).

A escolha de Bucky para ser uma espécie de bússola moral da equipe é mais que acertada. Além do elo com a primeira fase do MCU, o personagem já passou pela transição que seus colegas de equipe vão enfrentar aqui. Aprender a aceitar e lidar com seu passado de vilão, lidar com a depressão e cicatrizes dessas ações, e compreender que pode seguir novos caminhos apesar disso. Todos falhos e com questões próprias a resolver, o grupo precisa aprender que não serão o escalão da nobreza heroica, mas podem sim proteger as pessoas. 

Evolução que atinge a todos, mas é muito bem centrada em Yelena. A personagem muito bem compreendida e executada por Florence Pugh, pega o protagonismo para si, espelhando em sua própria evolução o desenvolvimento de todos. Após a destruição da Sala Vermelha, o sumiço de cinco anos do blip, e a descoberta da morte da irmã, a personagem, que na série Gavião Arqueiro buscava vingança, agora se vê sem propósito, entediada, solitária e afogada em luto. Encontrando na preocupação e identificação com o igualmente perdido Bob, o caminho para o renascimento, passando pelo sacrifício. E conquistando uma atenção e desenvolvimento que a Viúva Negra anterior nunca teve. 

E os demais acompanham essa evolução, Alexei assumindo responsabilidades e compreendendo como conquistar a relevância que deseja. John Walker aprendendo a ser menos imbecil, e mais honesto sobre si mesmo. E até o Bucky aceitando que não se encaixa no caminho político, forma que escolhera para fazer a diferença. 


Apenas Ava Star parece não ter sua evolução bem definida, além de deixar de ser mercenária. Até mesmo o caminho que a levou até ali é confuso. Hank Pin não iria ajudá-la antes de blip? Ele não procurou por ela quando retornou? Ela foi blipada? Se não, como lidou com sua condição física delicada nesse período? Ao menos, de todos ali, ela era a menos "vilanesca", já que suas más ações anteriores foram forçadas por terceiros, ou na busca por sua cura, não maldades deliberadas. E ela funciona muito bem como apoio e complemento do time, especialmente com suas habilidades. 

 Julia Louis-Dreyfus está visivelmente se divertindo com poder e soberba de Valentina Alegra. Vilã que serve de ameaça plausível para a trama, mas que também não escapa das falhas, e erros de cálculo. Já Lewis Pullman completa a equipe transitando do inofensivo alívio cômico à grande ameaça do filme. Não chega a ser spoiler, está nos trailers, mas não vou contar mais para não estragar a surpresa de quem não conhece o Sentinela dos quadrinhos. 


Tudo isso bem costurado e com uma direção competente de Jake Schreier, seja nas cenas de ação, mais urbanas e "pe-no-chão" do que usual em filmes de quadrinhos. Seja na construção de um subtexto surpreendente. 

Para além da ameaça física, Thunderbolts* está falando de luto, solidão, ansiedade, vazio, falta de propósito e depressão causadas pela vida. Como influencia nas escolhas, na vontade de viver de cada um, e como encontrar um caminho para superar o vazio gerado por esses sentimentos. Sim, é um filme sobre sentimentos, praticamente o Divertidamente do MCU, especialmente em seu grande embate final. Mas calma, não significa que não tem ação. Tem sim, e é bem executada, especialmente em coordenar e alternar as diferentes habilidades dos personagens. 


Assim, Thunderbolts*, consegue algo raro no MCU, entregar diversão e ação, mas também algo mais. Costurando temas mais complexos nas entrelinhas e resolvendo tudo em um mesmo filme, sem grandes construções de expectativa, e  preparações para o futuro, além da formação da equipe em si. Mas sim, tem cenas pós créditos, duas aliás, e uma delas, com conexão com o futuro da Marvel

Talvez por ser menos pretencioso que as empreitadas anteriores, Thunderbolts* consegue algo que as outras não conseguiram, liberdade para contar sua história da forma que precisava. E sempre que você serve a sua narrativa e não à vários desmembramentos e conexões a chance de entregar uma boa história é sempre maior. Some aí um elenco carismático, produção eficiente, e a Marvel finalmente encontrou o sucesso que tanto precisava. Sem trazer nada de extremamente mirabolante, mas entretendo e divertindo, que é o que a gente espera de filmes de quadrinhos.

Thunderbolts*
2025 - EUA - 126min
Ação, Aventura

Não assistiu a todas as obras recentes da Marvel, ou já esqueceu algumas, e ficou perdido sobre quem é quem nesse novo filme? Tudo bem, eu e meu amigo Pedro Figueira estamos aqui para ajudar! Fizemos uma série de vídeos explicando a trajetória de cada um dos personagens principais de Thunderbolts* corre para conferir!

Post a Comment

أحدث أقدم