Para recomeçar é preciso parar primeiro! Mesmo assim, apenas três anos após o equivocado Jurassic World Domínio, a franquia está de volta. Sem nenhum respiro, para ser melhor planejada, incorporar novas discussões, ou ainda nos deixar sentir falta dos gigantes pré-históricos.
Não é como se estivéssemos ansiosos pela próxima aventura da franquia. Pelo contrário, o último filme lançado em 2022, encerrou a segunda trilogia com um gosto amargo de frustação pelo desperdício de boas ideias. Eles tinham dinossauros soltos pelo planeta, mas novamente isolaram a história em uma ilha.
Com isso, o esperado era que a franquia fizesse uma pausa, repensasse sua cronologia e universo antes de voltar a visitar os dinos. Coisa que ocorreu entre a primeira e a segunda trilogia. Um hiato de quatorze anos separaram Jurassic Park 3 (2001) e Jurassic World (2015), justificando o retorno com uma nova perspectiva social, adaptada à sua época, e com a nostalgia criada pelo passar do tempo. Justificando o interesse e o sucesso dos filmes seguintes, mesmo que a história não mantivesse a qualidade. Estratégia que é o completo oposto do que este Recomeço, que acabou de chegar aos cinemas oferece.
Dezessete anos atrás, uma base secreta de experimentos com dinossauros, em uma ilha remota, é abandonada por causa de um colapso. Os animais, muitos deles híbridos, são deixados à própria sorte e o local, inclusive o mar no entorno, é proibido para humanos. Nos tempos atuais, os dinossauros, aqueles soltos no planeta nos filmes anteriores, e disponíveis também em zoológicos, estão novamente no caminho para extinção, por não se adaptar ao clima atual do planeta, e o interesse das pessoas por ele é praticamente nulo.
Mas, cientistas, que nunca aparecem no filme, descobriram que a cura para várias doenças está no material genéticos das maiores espécies dos dinos. E como isso vai render muito dinheiro o magnata Martin Krebs (Rupert Friend), contrata uma equipe liderada por Zora (Scarlett Johansson) e pelo Dr. Henry Loomis (Jonathan Bailey), para visitar a tal ilha proibida e conseguir amostras das maiores espécies, que precisam ser retiradas ainda com vida. Ao mesmo tempo, uma família que resolve passar férias em mares proibidos também ficam presos na região.Como essa base secreta se encaixa na cronologia, se sabemos que o parque de Jurassic World também abrigava experiências? O filme não esclarece. Porque os dinossauros só conseguem viver em regiões mais quentes do planeta? Por que é conveniente para situar a história no cenário já familiar de selva. Porquê a cura vem de espécies tão específicas, que não estão no resto do mundo? E porquê ninguém nunca tirou amostras de sangue deles antes? Para criar dificuldade. Já as motivações dos personagens? A maioria é dinheiro.
Se o roteiro de Jurassic World: Recomeço parece uma coleção de desculpas fracas para colocar os personagens em determinadas situações, é porque de fato é isso mesmo. Na tentativa de emular momentos dos outros filmes da franquia, o texto de David Koepp, que é roteirista do primeiro Jurassic Park de 1993, corre para levar a trama aos postos necessários para as cenas acontecerem. Além de apostar nos caminhos mais fáceis, nas coincidências e conveniências, e em personagens extremamente simplórios.A lider nata com habilidades de sobrevivência, o cientista apaixonado pelas criaturas, o magnata ganancioso, a criança fofa, entre outros estereótipos sem muito aprofundamento que desperdiça o bom elenco que tem. Se torcemos pelo sucesso da missão, ou no mínimo pela sobrevivência de alguém é porque gostamos de Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali. Não por mérito e carisma de seus personagens.
A torcida fica ainda mais difícil quando voltamos os olhos para o outro núcleo, o de pessoas comuns aleatórias, presas em território hostil. Um pai irresponsável que leva as filhas para um passeio em local proibido. Uma criança apática, que passa boa parte do filme calada. E um casal adolescente tão irritante que nem eles sabem porque estão juntos.
Ao menos torcer pelos dinossauros continua fácil, já que é difícil errar na criação de seres humanos maldosos, pequenos e gananciosos. Como os personagens de Rupert Friend e Ed Skrein. Infelizmente torcer contra eles não é suficiente para conquistar nosso engajamento.A falta mais gritante deste longa no entanto, é a ausência do fator deslumbre aterrorizador. Uma das marcas da franquia é mostrar o encanto que essas terríveis criaturas extintas causam nos personagens, e por consequência no espectador. Gigantescas criaturas extintas que nunca imaginamos ver além de ossos, se materializam na tela.
Mas nesse sétimo filme, sua existência se tornou banal, nada mágica. Cotidiana até, quase como ratos de rua enormes que atrapalham o dia-a-dia. Seres que não valem mais o ingresso de parques e museus. Chega soar destoante, quando a icônica trilha da franquia composta por John Williams toca, evocando uma aura de grandiosidade que o filme não confere aos dinossauros.
Já nas criaturas em si, o roteiro tenta inovar. Assim como a trilogia anterior apostando em híbridos, que dessa vez não tem um visual tão realista e convincente. O que é reforçado pelas sequencias escuras, com neblina, iluminação diferenciada ou qualquer outra coisa que oculte as criaturas, para mascarar um CGI não tão eficiente. Enquanto antigas estrelas que sempre funcionam como o velociraptor e o Tiranossauro Rex, ficam relegados à poucos momentos em cena.
Inclua aí referencias aos montes aos filmes anterior. E até a tentativas frágeis de recriação de cenas como a do sinalizador e da cozinha do primeiro filme. E o resultado é uma produção genérica, sem criatividade e personalidade. Com bom elenco, mas personagens frágeis. E pontuais momentos de boa ação. Mas que não tem coragem de mergulhar na carnificina ou mesmo no terror que indica nas cenas iniciais.
Jurassic World: Recomeço não recomeça nada de fato. Não só porque a franquia não parou, mas porquê não inicia nada próprio ou promissor. Entretém sim por umas duas horas, mas não fica com o espectador tempo o suficiente para justificar uma continuidade desse recomeço.
Jurassic World: Recomeço (Jurassic World: Rebirth)
2025 - EUA - 134min
Ação, Aventura, Ficção científica
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