Bridgerton - 3ª temporada

Querido e gentil leitor, esta blogueira não é do tipo que cobra mais do que uma série se propõe a dar. Tão pouco, menospreza obras de temática mais leve, ou narrativa menos pudica. Muito menos, exige fidelidade extrema a obras literárias de origem. No entanto, é difícil não sentir um pouco de decepção ao acompanhar a tão aguardada terceira temporada de Bridgerton. Isto porquê o casal da vez é um que vem sido acompanhado por nós desde o início.

Alterando a ordem dos livros, pulamos Benedict e seguimos para a história do terceiro filho da família. Colin Bridgerton (Luke Newton) é amigo de longa data da vizinha Penelope Featherington (Nicola Coughlan), que nutre um amor secreto por ele desde a infância. Mas o rapaz a magoou na última temporada casamenteira, e ainda voltou mudado de suas viagens pelo mundo. O que, somado à saída das irmãs de casa, e aos abusos da mãe, inspira a moça a mudar o visual e encontrar um marido nesta temporada que já é sua terceira. Outro agravante à um romance com o amigo de infância, a jovem é Lady Whistledown. Escritora de fofocas misteriosas a qual o rapaz abomina. 

Viu como "Polin" (o ship do casal Penélope e Colin) tem estrada? O que consequentemente cria expectativas em quem vem observando os suspiros da moça há anos. Infelizmente uma temporada desequilibrada esvazia muitas das entregas que a história de amor promete. E a divisão feita pela Netflix na hora de liberar a temporada também não ajuda. Já que nos dá tempo de sobra para especular, analisar e comparar. 

Assim, temos uma primeira metade corrida, mas ainda intrigante com a "caça" da moça durante os bailes, e sua inaptidão em fazê-lo. Enquanto a virada para os episódios finais promete a intriga em torno da atividade secreta dela. O rapaz fora conquistado, agora, a dificuldade é contar toda a verdade para ele. É aí que a série oscila. Se arrasta em alguns momentos, se afoba em outros, atrapalhando o turbilhão de emoções que momentos chave trabalhados no ritmo certo podem entregar.

Exemplo máximo disso é a revelação da identidade de Whistledown para a sociedade. Com um belo discurso sim, mas morna em reação e recepção. Não que eu esperasse consequências catastróficas, mas ao menos uma amostra de como todos receberam o impacto de uma revelação há tanto esperada. Até mesmo as reações da Rainha e Lady Bridgerton (Golda Rosheuvel e Ruth Gemmell), que receberam cartas especiais sobre o tema são rasas e sem impacto. 

Outro fator que ajudam para o desequilíbrio da temporada é a divisão de foco com outras histórias. Devo deixar claro, o problema não é a divisão de tempo, mas a montagem que picota cenas e confunde a continuidade. Como quando a série pulava indiscriminadamente entre a trama da fofoqueira e o trisal de Benedict (Luke Thompson). 

E por falar nas histórias paralelas, elas são muitas, e a maioria interessante. Lady Bridgerton dá continuidade à "evolução de seu jardim" apresentada na série derivada Rainha Charlote, e conquista o interesse de um pretendente que pode por em risco sua amizade com Lady Danbury (Adjoa Andoh). Um romance e amizade mais maduros, que dão um bem vindo respiro da paixão ansiosa dos jovens, ainda que cheios de rodeios por causa das regras da sociedade.

Cressida Cowper (Jessica Madsen) ensaia uma história de redenção. Não a completa, mas ao menos conquista nossa pena. Enquanto serve de escada para o impasse na amizade de Penélope e Eloise (Claudia Jessie ) Fica a expectativa que sua jornada seja retomada em temporadas futuras. 

Completamente deslocado com a saída do Duque de Hastings, seu elo com a alta sociedade, Will Mondrich (Martins Imhangbe ) ganha uma jornada curiosa. Completamente deslocada dos demais, o que seria uma grande falha, não fosse o carisma de seus intérpretes, especialmente Emma Naomi, que cria uma Alice Mondrich que recria bem nosso encanto por participar um pouquinho do glamour da classe abastada. 

Há ainda o debute na sociedade e o primeiro casamento de Francesca Bridgerton (Hannah Dodd, assumindo o papel pela primeira vez, como se sempre estivesse lá. Antes a interprete da personagem era Ruby Stokes). E o aceno para os rumos de sua história quando for protagonistas. Aceno esse que traz mudanças que enfureceu fãs dos livros. 

À mim desagradou de outra forma, já que a indicação de que a personagem pode sim, sentir paixão avassaladora, invalida todo o discurso de que o amor existe em várias formas, que a personagem defendera em toda temporada. 

Enquanto Benedict segue à deriva, aproveitando a posição de segundo filho para viver tudo que pode. Tudo mesmo! Aos que anseiam por representação LGBTQIA+ na trama, eis aí o personagem coerente para isso. Bem diferente da escolha que os roteiristas fizeram para incluir essa representatividade que ainda faltava à série. 

Falando em temas sérios, convenhamos, esse não é o propósito de Bridgerton. O que não impede algumas piscadelas, e acenos para reflexões maiores. Seja ao amor mais maduro, seja em idade e disponibilidade de comprometimento, a rivalidade entre mulheres, e principalmente o papel da mulher na sociedade. Poder ser financeira e ideologicamente independente, como Whistledown, ainda é coisa rara nos dias de hoje. 

O elenco bem escolhido, e cheio de gente bonita (de todos os tipo, deve-se destacar) por motivos óbvios, conta com intérpretes já conhecedores e confortáveis em seus papéis. E com elenco mais velho majoritariamente feminino (quanta viúva!) que se destaca mesmo com papéis pequenos. 

Cenários, figurinos (atenção às perucas da Rainha), e as músicas modernas que criaram o "estilo Bridgerton", parodiado até por Doctor Who, completam o pacote. Cada vez mais caprichados, ousados e criativos. Boa parte da diversão é se encantar com o charme visual da produção.

Ao final das contas, esta blogueira admite que, apesar de esperar um pouco mais do terceiro ano da Londres regencial da Shondaland, ainda se divertiu assistindo as desventuras de Polin e companhia. Entre altos e baixos, o saldo da temporada é positivo. Não é excelente, mas entretém!

Bridgerton tem três temporadas, com oito episódios de uma hora cada. Além da minissérie derivada Rainha Charlote que tem seis capítulos. Todos já disponíveis na Netflix. O quarto ano da série já está confirmado pelo streaming. 

Leia a crítica da primeira e segunda temporadas de Bridgerton, e da minissérie derivada Rainha Charlote!

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