A Mãe

Quando se pensa em estrela de ação, Jennifer Lopez não é exatamente o primeiro nome que vem em mente. Mesmo assim, não parece uma ideia absurda colocar a latina cheia de energia para chutar alguns traseiros. Pelo contrário, a mudança de gênero parece uma escolha cheia de potencial. Uma pena que A Mãe da Netflix, está perdida entre clichês, furos de roteiro e conveniências. 

Uma assassina desiste da vida de crime e colabora com o FBI quando se vê grávida. Mas a colaboração dá errado, e A Mãe (J.Lo) se vê obrigada a entregar o bebê para adoção e desaparecer. Doze anos mais tarde, quando a identidade da filha é descoberta, ela retorna para proteger a garota a qualquer custo, se preciso eliminando seus antigos parceiros. 

A proposta de um filme de caçada determinada, motivada por laços de sangue, no estilo das produções estreladas por Liam Neeson, mas com uma protagonista feminina é interessante. Promete muita ação, caminhos e escolhas novos devido a mudança de gênero da personagem principal. Entretanto o roteiro de Misha Green (Lovecraft Country), Andrea Berloff (Rainhas do Crime) e Peter Craig (Top Gun: Maverick) parece indeciso entre o estilo que pretende seguir.

O resultado é que temos dois filmes em um. A primeira metade entrega na perseguição e ação, enquanto o restante do filme muda radicalmente o ritmo, apostando na conexão entre mãe e filha através da convivência e treinamento forçados. Em ambos os momentos, sempre apostando em frases feitas, e decisões batidas, entregando sempre o clichê mais oportuno. Até quando tenta fazer analogias, estas são óbvias, como aquela que envolve a perseguição de um capanga e a queda de um buque de casamento, ou ainda a comparação de maternidade entre humanos e lobos.

A direção de Niki Caro, responsável por produções de escopo grandioso como Mulan (2020) e A Encantadora de Baleias, também parece perdida nesse gênero mais dinâmico, simplista. Optando por espaços limitados, mesmo quando os personagens estão em campo aberto. É difícil ter a dimensão espacial das cenas, e por consequência, compreender completamente as cenas de ação. Há ainda, o uso de uma lente olho de peixe em momentos aparentemente aleatórios, nunca conseguindo transmitir as intenções da diretora ao escolher usar o efeito. 

Admito que furos e conveniências de roteiro, como a facilidade com que a personagem entra em lugares altamente vigiados, ou a incompetência crônica do FBI, seriam facilmente relevados se a ação compensasse ao ponto de acreditarmos que a protagonista tem habilidades superiores a de todos ali. Como fazemos para centenas de astros masculinos há décadas.  Mas nem o roteiro, nem Lopez convencem de que a personagem é excepcional, apesar dos esforços da atriz.

E por falar no elenco, Joseph Fiennes e Gael García Bernal são desperdiçados em personagens caricatos. Especialmente Bernal, que tem pouquíssimo tempo de tela, e uma grande caricatura. Omari Hardwick fica pelo meio do caminho, entre um possível interesse amoroso, e o agente determinado do FBI. Enquanto a jovem Lucy Paez fica na caricatura da pré-adolescente teimosa e irritante. 

Ainda sim, A Mãe entrega exatamente o que a Netflix deseja, um entretenimento fácil, que enche catálogo, e atrai desavisados de fim de semana, que na ânsia por uma distração descompromissada vão até gostar. Uma pena, já que com uma boa diretora, elenco de estrelas, e uma proposta razoável, este filme podia fazer muito mais pelo cinema de ação protagonizado por mulheres. 

A Mãe (The Mother)
2023 - EUA - 115min
Ação

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