Falcão e o Soldado Invernal

As séries da Marvel para o Disney+, não estão sendo o que as pessoas esperavam. No melhor dos sentidos! Enquanto WandaVision era uma série sobre luto, Falcão e o Soldado Invernal vem ressignificar e contextualizar um dos maiores símbolos do MCU, em uma discussão mais complexa e atual, com a qual Steve Rogers não precisava lidar. 

Apesar de ter recebido o escudo em mãos do próprio Capitão América, Sam (Anthony Mackie) não se sente merecedor de carregar tal símbolo. Já Bucky (Sebastian Stan) tenta superar seu passado como Soldado Invernal. Conflitos internos que correm em paralelo com sua missão, lidar com um grupo de terroristas com uma causa bastante coerente, e com o novo Capitão América (Wyatt Russell).

Algum momento após resolverem que o escudo do Capitão América seria dado à Sam no final de Vingadores: Ultimato, alguém na sala de roteiristas deve ter se perguntado: os Estados Unidos, e o mundo, estão prontos para isso?

A passagem de tamanho símbolo patriótico, para um homem negro é uma escolha complexa, cheia de nuances, que requer de atenção. Não por Sam não estar à altura da tarefa, ele óbviamente está, e a série deixa isso bastante claro desde o princípio. Mas pelo racismo enraizado na sociedade, que poderia colocar empecilhos ou tentar diminuir o herói, do lado de cá da tela. Além disso, na pele de um homem negro o ponto de vista é outro, em relação ao patriotismo exacerbado contido nas estrelas e listras, e a que este símbolo deve representar. 

Do outro lado da moeda,  John Walker (Wyatt Russell), é a escolha branca, loira e de olhos azuis do governo para adotar o símbolo. E apesar de um soldado condecorado, não poderia estar mais equivocado quanto ao que o papel de Capitão América deveria representar. Surpreendentemente criticando o patriotismo bélico exagerado dos estadunidenses. Parece muito para uma série de super-heróis, mas todas estas discussões (e algumas outras), estão presentes nessa série, da qual muitos esperavam apenas ação e aventura. 


Mas sim, tem muita ação em cena também! no centro da trama principal, um novo soro do super soldado, e uma organização que acredita que o mundo estava melhor antes do estalo do Hulk, quando metade da população havia morrido. Seguindo a escola de vilões mais compléxos iniciada por Killmonger, os  Apátridas liderados por Karli Morgenthau (Erin Kellyman), tem uma causa justa. Lutar por aqueles que perderam seu lugar no mundo, quando metade da população retornou.

Politica, terrorismo, fronteiras, refugiados e desamparo das autoridades, estão entre as discussões sob esta trama.  A série nos oferece uma visão do cenário atual do MCU, que não fora mostrada em Homem-Aranha: Longe de CasaWandaVision. O mundo ainda está quebrado, não sabendo lidar com o retorno repentino da população. Quem tem direito aos espaços, propriedades e até empregos, as pessoas que os possuíam há cinco anos, ou as que os ocuparam durante o blip? 


Já a trama da missão segue o estilo de espionagem já visto visto em Capitão América e o Soldado Invernal. E por falar nele, há ainda tempo para a jornada de Buck para deixar seu passado na Hydra para trás, tentar repará-lo, e conseguir se conectar com as pessoas, sem Steve como muleta. Afinal ele é um personagem título, embora o foco nesta primeira temporada seja de fato o Sam. Há ainda muito a desenvolver do personagem, e a possibilidade de novas temporadas para explorar isso. 

Os retornos de Sharon Carter (Emily VanCamp) e Barão Zemo (Daniel Brühl), as apresentações de Joaquin Torres (Danny Ramirez) e da Condessa Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), e a inclusão de Madripoor no MCU, são outras tarefas que a série executa com eficiência em seus seis episódios. 


Com tantos personagens para apresentar, desenvolver e um novo cenário mundial para determinar, a série precisa equilibrar as sequencias de desenvolvimento e ação. E o faz sem medo de fugir a fórmula Marvel. Um bom exemplo disso é o quinto episódio, Truth.  Este sai direto de um momento de extrema ação e tensão, para reforçar a amizade ente a dupla principal, mostrar o senso de comunidade que os Apátridas não conseguem construir, e deixar Sam abraçar sua nova alcunha.

De volta à ação propriamente dita, esta é bem coreografada, executada e montada. Explorando acertadamente as diferenças entre os estilos de luta em cena, que vão da precisão e eficiência das  Dora Milaje, passando pela brutalidade de Walker, até os belos golpes em vôo do Falcão. 

Anthony Mackie e Sebastian Stan acertam na química de parceiros, e estão bastante confortáveis em seus papéis. Especialmente Mackie que parece ciente da responsabilidade que seu personagem passa a carregar nas costas. Wyatt Russell é uma grata surpresa, colocando seu personagem no seleto time de vilões que amamos odia, enquanto o restante do elenco entrega o que seus personagens pedem com eficiente. Já Daniel Brühl rouba a cena sempre que aparece.

Consciente, complexo e direto ao ponto, Falcão e o Soldado Invernal sabe exatamente seu papel no MCU e na cultura pop. Bem como seu impacto na sociedade atual. Reestabelece personagens, abre possiblidades para aventuras futuras, e tem muitos temas a discutir além da missão heróica de sempre. Consegue equilibrar tudo isso sem excessos ou pontas soltas. E acima de tudo diverte. É entretenimento da melhor qualidade. 


Falcão e o Soldado Invernal tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis no Disney+, alguns deles tem cenas pós créditos. 

Leia mais sobre o Universo Cinematográfico da Marvel.

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