Anne with an "E" - 3ª (e última) temporada

O primeiro ano de Anne with an "E" foi sobre aceitação, o segundo sobre auto-estima e amadurecimento, a terceira e última temporada é sobre evolução. Curiosamente, para seguir em frente nossa protagonista começa a jornada olhando para trás.

Entre uma aventura episódica e outra, Anne (Amybeth McNulty) se mantém em busca de suas origens durante toda a temporada. A jovem quer descobrir quem foram seus pais, e porque ela ficara órfã. Outro tema que permeia todo o ano, é o próximo passo na vida das outrora crianças de Avonlea. A molecada está chegando aos 17, fazer faculdade, aceitar pretendentes e casar estão entre as preocupações dos personagens.

As tramas episódicas por sua vez aproveitam para abordar outros temas, novos ou já velhos conhecidos da série. Liberdade de expressão, feminismo, luto, preconceito de classes, romances (afinal são adolescentes), ausência de educação sexual da época e até a situação dos nativos canadenses, estão entre as desventuras dos moradores de Avonlea.

A relação entre mães e filhos, é outro tema que ganha destaque de formas distintas e pontuais ao longo da temporada. Acompanhamos o receio de Mary (Cara Ricketts) em não estar presente na vida da filha; o medo de Marilla (Geraldine James) de perder Anny durante suas investigações do passado; a mágoa de Bash (Dalmar Abuzeid) pela complicada situação em sua mãe Hazel (Melanie Nicholls-King) precisou criá-lo; e a dedicação antiquada que afasta Diana (Dalila Bela) e Josie (Miranda McKeon) de suas respectivas mães.

Mesmo com tantos temas, a série se saiu bem em encerrar os arcos da maioria dos personagens. Pouco antes de estrear na plataforma de streaming, a Netflix anunciou que o terceiro ano do programa seria seu último. E apesar da personagem ter sua vida retratada nos livros até a velhice, o momento é oportuno para deixarmos Avonlea. Anny e companhia também vão deixar o povoado, vão para faculdade, é o fim de um ciclo, da infância em Green Gables.

Ficou pendente apenas a trama dos indígenas com pequena Ka'kwet (Kiawenti:io Tarbell) e outras crianças ainda sobre a cruel tutela do governo. Entretanto, ao ler um pouco sobre a história dos nativos canadenses antes de escrever este texto, o final em aberto pode ser considerado um reflexo de uma relação que ainda é complicada até os dias de hoje.

A qualidade técnica mantém a qualidade vista nos anos anteriores, com uma fotografia que ressalta o tom bucólico das paisagens da Ilha do Príncipe Eduardo. O figurino merece atenção especial, já que é o maior responsável por caracterizar o amadurecimento dos personagens. Quem diria que um espartilho (tem que ter 17 anos para usar sabia?) cabelos presos e chapéus, transformassem a molecadinha em jovens adultos diante de nossos olhos.

O elenco mirim encara bem os desafios de amadurecer em cena, tratando de temas complexos com honestidade e uma química acertada. Difícil não crer que se trata de um grupo de amigos diversos. Entre os adultos, os destaques ficam com Geraldine James, R.H. Thomson e Dalmar Abuzeid, que tem arcos mais complexos.

A temporada ainda encontra tempo para oferecer alguns outros mimos aos fãs como, finalmente mostrar a família de Jerry (Aymeric Jett Montaz), e a situação de Cole (Cory Gruter-Andrew). Deste ultimo no entanto, eu gostaria de de ter visto um pouco mais da família que tanto dependia dele, após sua partida.

Anne with an "E" termina com a mesma qualidade, carisma que começou. Com roteiro inteligente, com ritmo próprio e diálogos ágeis, que trata de assuntos complicados com honestidade e doçura. É claro, adoraríamos acompanhar as desventuras românticas de Anne, sua vida na faculdade e aventuras futuras, mas já que não será possível, devo admitir o momento do encerramento foi extremamente apropriado e bem executado.

A terceira temporada de Anne with an "E", tem 10 episódios com cerca de uma hora cada. As três temporadas tem um total de 27 episódios, todos estão disponíveis na Netflix.

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