Stranger Things - 3ª temporada

Ao final da maratona dos mais recentes episódios de Stranger Things, senti a necessidade de reler o meu texto sobre o ano dois da produção. De alguma forma, a nova parte da aventura em Hawkins tornou a temporada anterior menos interessante na memória. O que de certa forma é. Calma, não precisa me xingar ainda! A segunda temporada da série é boa (confere só minha crítica sobre ela). Mas sim, o terceiro ano a superou muito. E isso é ótimo.

Apenas nós, espectadores, sabíamos que a ameaça do Devorador de Mentes ainda pairava sobre a pacata cidadezinha. Neste ano que passou, os personagens retomaram as suas rotinas acreditando que as ameaças do mundo invertido foram superadas. A molecada está curtindo o final do verão de 1985, os adolescentes dando os primeiros passos na vida pós-escola, e os adultos estão de volta à sua tarefa de pais. É aí que "coisas estranhas" voltam a acontecer na cidade, que além da ameaça sobrenatural, agora também atraiu a atenção dos soviéticos.

É no tempo que a série dedica ao cotidiano dos moradores de Hawkins que reside o grande diferencial e acerto desta temporada. Se nos anos anteriores somos levados ao momentos de ruptura da normalidade, aqui passamos os primeiro episódios acompanhando os personagens, nos atualizando em seus dilemas, e consequentemente nos apegando mais à cada um deles. Não que já não os adorássemos o suficiente.

Assim, vemos a relação de pai e filha entre Hopper (David Harbour) e Eleven (Millie Bobby Brown) evoluir para a dinâmica adolescente testando os limites, e patriarca superprotetor. Já a relação entre o xerife e Joyce (Winona Ryder) continua estagnada, já que ela não consegue superar a morte do antigo namorado.

Nancy (Natalia Dyer) e Jonathan (Charlie Heaton) dão seus primeiros passos na vida profissional no jornal da cidade. Ela, engajada em sua carreira jornalística, enfrenta o machismo absurdo do ambiente de trabalho. Eles mais apagado que nas temporadas anteriores, apenas segue a namorada, até inevitavelmente entrarem em conflito por causa da persistência da moça. Steve (Joe Keery) também segue com a vida pós-escola, contemplando um futuro abaixo das expectativas, sem vaga para faculdade e trabalhando em uma sorveteria no shopping, mas ainda o melhor amigo da molecada.

E por falar nas outrora crianças, a molecada protagonista está crescendo, cada um em seu ritmo. Assim, enquanto Mike (Finn Wolfhard) e Lucas (Caleb McLaughlin) tentam compreender o estranho mundo com namoradas. Will (Noah Schnapp) ainda deseja apenas jogar Dungeons & Dragons, e ainda se sente assombrado por suas experiências no mundo invertido. Dustin (Gaten Matarazzo) se sente deslocado do grupo após passar um mês fora. Já as garotas constroem em cena uma fofa amizade tardia, afinal faz um ano que as duas fazem parte do mesmo grupo de amigos. Com Max (Sadie Sink) ampliando os horizontes de Eleven, ambas se libertando da sombra dos garotos da gangue.

Todos os principais personagens passam por alguma evolução em suas tramas, antigas relações são reforçadas e novas são construídas. Isso inclui a adição de novos membros à gangue. Entre estes os destaques ficam com Robin (Maya Hawke), a inteligente colega de trabalho de Steve. Erica (Priah Ferguson), a irmã caçula cheia de atitude de Lucas, que até já tinha dado às caras, mas agora finalmente tem idade para embarcar na "brincadeira". Também temos tempo para ver um pouco mais do cotidiano da cidade, preste a comemorar o 4 de julho, e sendo afetada pelo primeiro centro comercial, o shopping Starcout.

O tempo dedicado aos personagens no início é perfeito para que as ameaças invisíveis que cercam a cidade sejam construídas aos poucos, e ganhem mais impacto quando finalmente aparecerem abertamente reunindo todos os personagens. O Devorador de Mentes, garante o vilão sobrenatural e gore da temporada, garantindo o contraponto sombrio da trama na figura de um Billy (Dacre Montgomery) possuído. Enquanto a conspiração dos soviéticos é pura referência à imagem caricata criada para eles pelas produções oitentistas. Também são eles os responsáveis por dar vida nova à ameaça do Mundo Invertido, evitando que a trama caia na mera repetição.

E por falar em referências, é claro elas estão de volta, como já é tradição da produção. Tanto às mais sutis, presentes em ângulos de câmera e temática, até as mais descaradas como músicas, menções em diálogos, objetos, acontecimentos da época (repara no filme em cartaz no cinema do shopping) e até na construção de alguns personagens, como os já citados militares soviéticos e, principalmente no perseguidor no Grigori (Andrey Ivchenko), praticamente o T-800, de O Exterminador do Futuro.

O ponto fraco da produção fica por conta do comportamento oscilante de Eleven. A garota já convive em sociedade, mesmo que limitada, há cerca de um ano, em alguns momentos fala de forma fluida como os colegas, em outros retorna ao ritmo de fala pausado de quem tem pouco contanto com pessoas. Faltou determinar melhor o estágio de evolução em sociedade da jovem, e os planos de Hopper para ajudá-la a ter um vida fora daquela cabana ou do círculo restrito de amigos.

Alguns também podem ficar decepcionados pela trama deste ano não explorar a família biológica de Eleven, ou os demais experimentos Laboratório Nacional de Hawkins. Ambos os temas foram apresentados no ano anterior, com a aparição da mãe da jovem, e de outra cobaia, a Eigh, mas nenhum deles foi levado à frente nestes episódios mais recentes. Pontas soltas, que torcemos para serem amarradas no futuro.

Os irmãos Duffer, criadores da série, já afirmaram que tem planos para quatro, talvez cinco, temporadas, e o encaminhamento para o desfecho começa a ser evidente neste terceiro ano. Com mais da metade da história apresentada, arcos começam a ser fechados, e explicações começam a ser encaminhadas, mas não entregues. O que inclui uma cena pós créditos, presumidamente criada para gerar especulações sobre o quarto ano.

Com um total de oito episódios, Stranger Things 3, acerta ao deixar o espectador passar um tempo com seus personagens favoritos. Ampliando nossa preocupação com eles quando enfrentam as coisas estranhas, e a carga dramática das relações, desfechos e sacrifícios. Compensando por uma ameaça levemente repetitiva, é basicamente o monstro do segundo ano com novas habilidades e alguns soviéticos para complicar. A série continua sendo uma obra bem produzida, com trama bem construída, personagens carismáticos, boas atuações, efeitos e trilha sonora. Além de muitos easter-eggs e a aquela adorada nostalgia. Ainda é um dos melhores produtos da Netflix.

Leia a crítica da primeira e da segundatemporada e outros posts sobre a série!

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