Não são mais apenas as crianças que percebem coisas estranhas acontecendo nos arredores de Hawkings, apesar da maioria da população ainda continar alheia à realidade. Da mesma forma, a chegada desta temporada Stranger Things, não é mais uma surpresa curiosamente maratonada em massa, mas sim uma expectativa criada ao longo de um ano de espera e uma publicidade eficiente. Tentar atender as expectativas e superar, ou pelo menos se igualar ao original são sempre os maiores desafios de uma continuação.Um ano se passou desde Will (Noah Schnapp, finalmente com espaço para atuar e muito bem) "se perdeu no bosque", com dezenas de promessas feitas e assinadas os personagens envolvidos no incidente deveriam simplesmente seguir com suas vidas, mas é claro que não é tão simples assim. Entre outros traumas menores, Mike (Finn Wolfhard) continua de luto por Elleven (Millie Bobby Brown), Nancy (Natalia Dyer) se culpa pela morte de Barb (Shannon Purser), o chefe de polícia Hopper (David Harbour) tem seus segredos e Will continua sofrendo os efeitos colaterais de sua estadia no mundo invertido. Ou seja, a estabilidade se sustenta sob uma linha fina que pode ser atravessada a qualquer instante.
É para desestabilizar essa linha que chegam os novos personagens, completamente alheiros a tudo que aconteceu no ano anterior. À começar pelo easter-egg ambulante Bob Newby (Sean Astin). É o eterno Goonie quem faz a história andar de encontro à nova ameaça, o monstro das sombras.
Os irmãos Max (Sadie Sink) e Billy (Dacre Montgomery, o novo Ranger vermelho), vem complicar o desenvolvimento. O rapaz é o encrenqueiro de verdade, muito além dos "níveis escolares" de contravenção. Já "Mad Max", é a nova aquisição do grupo mirim, mas precisa lidar com o fato de ser excluída por não ter vivido a maior das aventuras até então. Outro que chega com função bem definida é Murray Bauman (Brett Gelman), o teorista da conspiração está longe de desvendar os "bagulhos sinistros", mas sabe manter o clima de paranoia na medida certa, entre outra coisas.
Se os personagens novos tem funções bem definidas, e alguns já devem conquistar um espaço nos nossos corações, os velhos conhecidos só tem a crescer. Antes todos estavam focados na busca por Will, agora embarcam em dilemas diferentes e que acertada e inevitavelmente se encontrarão no bem amarrado desfecho. Assim todos, inclusive os novatos, tem espaço para desenvolver seus arcos, que nem sempre incluem ameaças sobrenaturais, o mundo normal pode ser tão complicado e assustador quanto o invertido. Além de reforçar as relações entre os personagens, afinal ver aquela molecada trabalhando junta para "salvar o mundo", com o jeito e preocupações de crianças é o que mais encantou no ano anterior.
Os novos caminhos incluem um episódio solo de Eleven. “A Irmã Perdida”, destoa dos demais episódios propositalmente, inicia a saga de autodescoberta da menina e deixa algumas pontas a serem exploradas mais para frente. Uma saída interessante para tirar a arma mais poderosa de Hawkings até o clímax - afinal com a garota por perto a ameaça sobreviveria por um episódio apenas - #GirlPower - mas que se não explorada pode soar como desvio ou enrolação para prolongar a ameaça. Mas, acho difícil que os irmãos Duffer não tenham planos quanto a esta história.
Mais cinematográfico que o primeiro ano - repare que o título incluí o numero "2" como em filmes, e não o tradicional "2ª temporada" - a série aproveita a para caprichar mais no visual, brincando com planos e a fotografia. Além de aumentar a escala dos bem executados efeitos visuais, não de forma gratuita, mas para atender à história. A ameaça está crescendo, logo os monstros de CGI também.Além das criaturas, estão de volta as adoradas referências, desde as mais óbvias como Mad Max e Caça-Fantasmas até aquelas escondidas como o doce de Halloween de Will Reese's Pieces (famoso por aparecer em E.T.) e um episódio de Punky, A Levada da Breca passando na TV. Cinema, séries, quadrinhos, animações, games, música tem referência para todos os gostos e espectadores. E por falar em música, a trilha sonora da época foi novamente escolhida a dedo, mas desta vez a maioria de seus momentos mais marcantes estão no episódio final.
Stranger Things 2 tem sim bons efeitos, boa música e muitas referências, mas tem consciência que a base do sucesso esta nos personagens. Bem criados, desenvolvidos e com os interpretes certos, para nos importarmos com eles. Assim, mesmo que a história seja simples, com uma jornada conhecida essa empatia nos mantém presos na maratona. O roteiro bem amarrado e sem furos, apenas faz a dedicação valer à pena. Já que atenderam às expectativas, e provaram que o primeiro ano não foi um acerto acidental, que venham mais "bagulhos sinistros"!A segunda temporada de Stranger Things tem nove episódio com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.





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