Uma cidadezinha do interior, um grande mistério, coisas estranhas que apenas crianças munidas de estilingues, walkie-talkies e bicicletas percebem. E claro, uma grande jornada da qual a maioria dos adultos está alheia. Não, não é um filme de Spielberg. Tão pouco uma adaptação de Stephen King, ou um clássico esquecido da sessão da tarde nos anos de 1980 (mas, isso você vai perceber logo que os efeitos especiais não corresponderem a estética da época, mas eles são a exceção).
Estou falando de Stranger Things, série original da Netflix liberada na última sexta-feira (15/06). E "maratonada" por uma multidão empolgada logo em seu primeiro fim de semana.
Will Byers (Noah Schnapp) desaparece misteriosamente na pequena cidade Hawkings. Autoridades, família e comunidade procuram o menino através dos métodos tradicionais, mas seus melhores amigos Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) também saem a sua procura. Aficionados por Tolkien, RPG, cinema, música e a cultura pop de sua época, a série se a passa nos anos 80, a criançada não demora muito para perceber que o desaparecimento do amigo não é tão comum assim. A situação complica mais ainda com o aparecimento da estranha Onze (Millie Bobby Brown). Enquanto as crianças investigam, Joyce Byers (Winona Ryder), a desesperada mãe de Will, também começa a duvidar da eficiência dos "métodos tradicionais" no caso de seu filho e presenciar ocorrências estranhas.
Diversão sem eletrônicos. Sim crianças, isso existe!!! |
Embora Winona Ryder esteja muito bem em seu papel de mãe solteira no limite. É o elenco infantil o verdadeiro destaque da trama. Com excelentes atuações, os atores mirins caem de cabeça na recriação de uma época que sequer viveram, ao se aventurar por aí com bicicletas, travar intensas batalhas de Dungeons and Dragons. E principalmente, nas discussões e conversas sinceras que apenas a amizade da infância proporciona. Estas vão de assuntos mais simples, como a melhor estratégia para vencer um jogo, à conspirações, conceitos científicos, políticas e relacionamentos. Sempre de forma simples, honesta e crível, mesmo quando crianças de onze anos tentam explicar buracos de minhoca.
Enquanto Mike, Lucas e o impagável Dustin "toothless" (cuja doença que atrasa o crescimento dos dentes realmente existe), evocam a amizade e aventuras de uma década. É Millie Bobby Brown, intérprete de Eleven (ou Onze) quem tem a tarefa mais complicada. Desprovida de vivência em sociedade e até de vocabulário, a menina precisa expressar quase sem palavras tudo que sua personagem sente. O resultado é uma atuação intensa e surpreendente, para contar a história triste e cheia de segredos da garota.
E como se a ambientação, os gostos e referências dos personagens não fossem nostálgicos o o suficiente, os criadores da série Matt e Ross Duffer admitiram que o trabalho é altamente influenciado por obras dos anos 80. Assim não faltam referências à E.T., Conta Comigo, Poltergeist, Goonies, Contatos Imediatos de Terceiro Grau, entre outras diversas obras que marcaram época. Acertando ao selecionar as melhores coisas de cada um deles. Some aí também a trilha sonora escolhida à dedo, também sobre essa influência nostalgia.
O ritmo do suspense, que também remete à obras da época, pode causar estranheza nos mais jovens, especialmente nos primeiros episódios. Nada que comprometa o interesse, ou o ritmo da narrativa. Esta por sua vez pode soar desprovida de grandes surpresas, para quem conhece as inúmeras referências. Sim, podemos deduzir o caminho, mas isso em nada diminui a graça da aventura.
Além de Ryder e das crianças, o elenco também conta com David Harbour (Chefe de polícia Hopper), Matthew Modine (Dr. Martin Brenner). Charlie Heaton e Natalia Dyer respectivamente Jonathan Byers e Nancy são os adolescentes envolvidos, que também tem seu espaço no mistério.
Uma excelente surpresa Stranger Things, é uma releitura/homenagem à uma década que já se foi. Gera curiosidade nos mais novos, e muita nostalgia em quem de alguma forma vivenciou aquela realidade. Além de ser muito bem produzido e trazer ótimas atuações.
A série tem apenas oito episódios (em maratona, a sensação é de estar vendo um filme um pouco mais longo), com cerca de uma hora cada, todos disponíveis na Netflix. A segunda temporada foi confirmada antes mesmo da estreia da produção, mas ainda sem data divulgada.
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