HQ vs Filme: Turma da Mônica - Laços

Faz um tempo que esta série não dá as caras por aqui. A "Livro HQ vs Filme" observa as diferenças entre formatos distintos de uma mesma obra, e tenta entender por que as mudanças são necessárias, se é que são. Após um hiato não planejado, a série que já comparou até séries de tv com sua versão nas telas, está de volta com um queridinho nacional.

O ministério dos "spoilerfóbicos" informa: este post contém SPOILERS da HQ e do filme!

O Floquinho desapareceu. Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão embarcam sozinhos em uma jornada para encontrar o cãozinho verde. Continuo impressionada com a sinopse de Laços, extremamente simples e uma oportunidade infinita de aventuras. Talvez por essa simplicidade, a versão para os cinemas consiga ser tão fiel ao original. Mas mesmo a obra mais fiel, não escapa de um ajuste ou outro.

1 - Sem flashbacks ou desvios
Presentes no imaginário nacional, essa turminha dispensa apresentações. Talvez por isso o roteiro do longa metragem deixe de lado, os dois flashbacks presentes no quadrinho. O primeiro mostra a chegada do Floquinho na vida do Cebolinha. O segundo a primeira reunião do quarteto ainda na pré escola. Outro motivo para deixar essas passagens de lado, é evitar a escalação de crianças tão pequenas para papéis tão icônicos.

Outra passagem que ficou de fora, é a história sobre a infância de seu pai que a Mônica conta ao redor da fogueira. O trecho, sem conexão com a trama principal, provavelmente soaria como um desvio da narrativa, atrapalhando seu ritmo. Ao invés disso, a produção prefere acertadamente, deixar o elenco em uma conversa mais espontânea nesse momento.

2 - Um pouco mais velhos
Vale mencionar, a molecada está mais velha no filme. Assim como nos quadrinhos tradicionais, Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha tem cerca de seis anos de idade, na graphic novel dos irmãos Caffagi. Filmar com crianças tão pequenas seria um desafio, logo o filme acertadamente envelhece o quarteto, o que possibilita a escolha de crianças mais capazes de compreender seus personagens. E elas fizeram a lição de casa!

Foto: Serendipity Inc

3 - Valentões e bikes
Uma imagem icônica, que evoca as aventuras oitentistas de Spilberg, é a molecada partindo em suas bicicletas. Nos quadrinhos elas são emprestadas pelos valentões da rua, enquanto no filme o quarteto usa suas próprias bicicletas. Uma mudança que apenas simplifica o desenvolvimento da narrativa. Outra diferença no encontro com os garotos maiores é a briga, que no longa não envolve as bikes e ocorre de dia. Ambas as mudanças criam melhores condições de gravação para o elenco mirim.

4 - Tempo da jornada
Mais tempo desaparecidos. Já é metade da segunda noite desaparecidos quando o quarteto volta para casa na versão original. Na adaptação, eles passam apenas uma noite sumidos. A aventura corre bem mais rápido, e o filme é muito mais diurno que a HQ, onde boa parte da ação se passa na floresta à noite.

5 - O Louco
Mas tem sim cenas na floresta à noite. A mais emblemática delas coloca o Cebolinha como "vigia noturno" ao invés do Cascão, apenas para dar a oportunidade do careca perambular à noite e encontrar o Louco. O personagem que adora enlouquecer o "Cenourinha" não aparece na HQ, mas sua aparição na tela dá mais profundidade para os questionamentos do "galoto", é uma boa referência, e uma divertida participação especial de Rodrigo Santoro.

6 - Desafios individuais
E por falar em desenvolvimento dos personagens, o filme cria pequenos desafios para cada um deles superar. Sempre relacionados as suas características mais marcantes. Assim, mesmo com a trama focando mais no dilema do Cebolinha, já que fora seu cãozinho que sumira, todo o quarteto tem seu momento de brilhar. Nas páginas o desafio é quase sempre superado em conjunto. Trabalho em equipe que também tem no filme, e novamente aposta nas habilidades únicas de cada um.

7- O vilão
Segura que lá vem spoiler: na graphic novel o vilão é apenas um dono de ferro velho, que sequestra e maltrata os cachorros para protegerem sua propriedade. Bem, isso é o que nós deduzimos, já que a história não está preocupada em dar grandes explicações. No filme, o sequestrador do floquinho tem motivações mais claras, e um plano mais complexo no qual pretende usar os cães. Dando mais estofo para trama, necessário ao filme, mas não essencial para a versão das páginas.

8 - Planos infalíveis
E por falar em planos, estes são bastante diferentes entre quadrinho e filme. O longa deixa de lado as fantasias mirabolantes e caricatas. Entretanto, mas a maior diferença está no plano final, já que como parte de seu desenvolvimento, o Cebolinha escuta os amigos para criá-lo. No original ele cria tudo sozinho.

9 - Primeiro Amor
Há também tempo para uma cena onde a Dona Cebola, questiona o filho sobre sua obsessão em derrotar a Mônica. Mais tarde da duplinha se observa carinhosamente, o indício de um doce romance infantil. Relação que só é possível no filme, já que seus intérpretes são mais velhos.

10- Quinzinho
Foto: Serendipity Inc
Essa é um bônus: no fim do filme, podemos ver Quinzinho agradando a Magali com várias guloseimas, mas na versão que os Caffagi criaram para a turminha, a gulosa só conhece o filho do dono da padaria na segunda HQ, Lições.
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Turma da Mônica - Laços, o filme é uma adaptação fiel e ciente da importância de seus personagens no imaginário popular. Assim como a obra em que foi inspirada, uma releitura de novos artistas, que atualiza sem perder os espírito inocente das aventuras de Mauricio de Souza. Obras divertidas, carismáticas, cheias de boas mensagens e nostalgia.

Parte do projeto Grafic MSP, Turma da Mônica - Laços é o primeiro volume da trilogia criada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, que conta ainda com Lições e Lembranças. O filme homônimo tem a direção de Daniel Rezende.

Leia a crítica do filme Turma da Mônica - Laços, e também das HQs Laços e Lições.

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