Turma da Mônica - Laços

Admito, meu primeiro pensamento (e provavelmente o de muita gente) quando surgiu a proposta de trazer os personagens de Maurício de Souza das páginas para o mundo real foi: por favor não! Falha minha, tive este mesmo receio quando as Graphic MSP surgiram com releituras de outros artistas para a turminha, e estes se provaram infundados. Uma vez que a Maurício de Souza Produções parece bastante ciente de sua presença no imaginário de várias gerações, e igualmente preocupada em não corrompê-lo.

Baseada da graphic novel homônima criada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, Laços conta a aventura de Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão em busca do desaparecido Floquinho. Simples assim, a molecada sai pelo mundo em busca do mascote verde, no melhor estilo "Sessão da Tarde dos anos 1980", encontrando perigos e enfrentando-os com o que cada um pode oferecer de melhor.

Se a trama soou relativamente simples para você, é porque ela é. Sua complexidade reside na relação entre as crianças, nas dificuldades que cada um precisa superar, e em sua vilão inocente do mundo. O filme mostra seus protagonistas, como crianças que são, sem menosprezá-las, ou amadurecê-las demais para atender ao roteiro. Uma honestidade com a qual é difícil não se identificar, uma vez que todos já passamos por essa idade.

A escolha acertada do elenco mirim é essencial para a complicada tarefa de trazer personagens tão emblemáticos para o mundo real. Apesar de não muito experiente, seus intérpretes abraçaram perfeitamente a essência de cada membro da turminha. E o roteiro fornece espaço e oportunidade para explorá-la, incluindo desafios únicos a serem superados individualmente, além da grande missão que eles precisam cumprir juntos.

Assim, a Magali (Laura Rauseo), tem as melhores frases com sua fome se manifestando mesmo nas horas mais inconvenientes. O Cascão (Gabriel Moreira) diverte com seu jeitinho meio debochado. Enquanto a Mônica (Giulia Benitte), pode mostrar que ninguém é forte o tempo todo. Curiosamente, é o Cebolinha (Kevin Vechiatto) aquele que tem maior desenvolvimento, apenas porque, na aventura criada pelos Caffagi é o arco dele que consegue ter mais peso. O garoto precisa lidar com sua arrogância, e dar voz aos amigos para salvar seu cãozinho.

Fotos: Serendipity Inc
É o foco maior no Cebolinha, que torna possível um original do longa. A aparição do Louco (Rodrigo Santoro se divertindo aos montes), traz um momento de auto-reflexão para o carequinha, e quem sabe para a molecada do lado de cá da tela, além de ser bastante engraçado. Mas ele não é a única referência em cena, já que não faltam aparições de outros personagens, easter-eggs espalhados pelo cenário, figurinos e até notícias de jornal. Além e uma boa participação especial de Maurício de Souza, que bem podia virar nosso Stan Lee, se a moda e adaptar as Graphic MSP pegar.

Outro ponto complicado era transportar o visual cartunesco dos personagens para o mundo real. A HQ já tinha dado um passo neste caminho, criando versões mais realistas para os personagens, mas a produção comandada por Daniel Rezende escolhe seguir seu próprio rumo. Eles evitaram a semelhança física exagerada no quarteto principal, mas não recearam em usá-las em personagens secundários (repara no maravilhoso cabelo de Dona Lurdinha, a mãe do Cascão). E por falar nos adultos, estão presentes em participações menores, basicamente apenas procurando a molecada. Monica Iozzi (Dona Luisa, mãe da Mônica), e Paulo Vilhena (Seu Cebola) são os nomes mais conhecidos, mas o destaque fica com a genuína atuação de Fafá Rennó, como uma muito preocupada Dona Cebola.

A recriação do bairro do Limoeiro para as telas, também segue uma versão mais fiel aos quadrinhos tradicionais. Com casinhas simples, telefones fixos e pracinhas bucólicas que parecem congeladas no tempo. Criando um contraponto curioso com o vocabulário e forma de pensar atual do elenco mirim. E fornecendo um tom atemporal ao longa semelhante aos quadrinhos, a molecada soa e pensa como a criançada de hoje em dia, mas visualmente está nos anos de 1960.

Diferente da maioria das adaptações de quadrinhos que lotam nossas telas atualmente, Turma da Mônica - Laços não tem um ritmo frenético e cheio de ação. E nunca teve essa intenção. A produção tem inclusive passagens mais lentas, como os momentos em que a turminha está na floresta. Uma mudança de ritmo que não compromete, mas pode afastar os pequenos que estão acostumados apenas com narrativas aceleradas demais.

Assumidamente para crianças, Turma da Mônica - Laços fala a linga da molecada. Mas em momento algum deixa de lado os adultos que as acompanham. À estes é reservada a nostalgia das próprias aventuras de infância (não sei a molecada de hoje, mas eu me empenhei em várias), e claro, dos personagens com que cresceram. Nostálgico, doce, divertido e principalmente respeitoso com seus personagens, e com todas as gerações que tem a turminha como amigos de longa data. Laços é uma adaptação competente e carismática, que não deve desagradar a quem já foi criança um dia.

Turma da Mônica - Laços
2019 - Brasil - 97min
Aventura


Leia a crítica da graphic novel Turma da Mônica - Laços

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