The Old Guard 2

Lá em 2020, em minha crítica do primeiro The Old Guard, afirmei que o mais interessante do filme era o que estava por vir. As possibilidades de desdobramentos e continuações que esta introdução ao universo dos quadrinhos homônimos de Greg Rucka e Leandro Fernández possibilitava. Eu apenas não contava com o tempo!

Cinco anos separam The Old Guard 2 do original. Tempo suficiente para aqueles que não são fãs das páginas esquecerem completamente a existência da franquia estrelada por Charlize Theron. Tanto eu, quanto muitos de meus colegas críticos, que respiram cinema 24 horas por dia, mal nos lembrávamos da premissa daquele universo. O que gerou desânimo, pela obrigatoriedade de rever o original, para de fato acompanhar essa sequencia. Mas assim como os imortais que estrelam esse filme, resolvi viver perigosamente, e voltei a saga, sem rever o original. Afinal, mesmo em uma franquia cada obra precisa se sustentar sozinha. 

Meses depois dos eventos do primeiro filme, a "Velha Guarda" comandada pela, agora mortal, Andy (Theron) continuam sua missão de ajudar a humanidade, atrapalhando uma venda de armas ilegais na Croácia. Quando Nile (KiKi Layne) sonha com uma mulher assassinando uma pessoa em uma biblioteca. Valem mencionar, imortais sonham com outros imortais.

A descrição do sonho leva Andy a procurar um antigo amigo. Tuah (Henry Golding) é o imortal que a resgatou quinhentos anos atrás de ter o mesmo destino que sua parceira, ser presa em um caixão de ferro e lançada ao mar para se afogar pela eternidade. E que há tempos se tornou um recluso estudioso dos imortais. Era ele a vítima do sonho, que revela que a primeira imortal Discórdia (Uma Thurman) é a mulher misteriosa, que roubou seus livros sobre imortalidade. 

O que ele não sabe é que ela resgatara Quynh (Veronica Ngo) do oceano. E pretende usar o desejo de vingança por ser esquecida da antiga parceira de Andy, para encontrá-la e seus amigos. A começar pelo exilado Booker (Matthias Schoenaerts), em Paris.

Paris, Croácia, Coréia... e isso foi apenas a tentativa de sinopse. O roteiro ainda passa por, pelo menos, duas cidades italianas, e na China, se não esqueci de mais alguma parada. Indo e vindo repetidamente dos lugares, como se além da imortalidade, os personagens também tivessem a habilidade de teletransporte. Não, eles não tem!

O vai e vem entre locações, muito comum em filmes de ação como os de 007 e Missão Impossível, aqui é repentino, repetitivo, confuso e excessivo. Um reflexo da forma como o roteiro trata esse rico universo, jogando sua mitologia na tela, sem nenhum preparo, com uma construção rasa e muitas conveniências. Novos imortais que surgem, convenientemente, desconhecidos não apenas do público, mas dos próprios personagens (eles não sonham uns com os outros?). Regras e lendas sobre essas entidades, surgindo repentinamente conforme a conveniência do roteiro, como aquela relacionada, aos poderes de Nile. 

Detalhes que talvez sejam melhor trabalhados nos quadrinhos, mas aqui não tem o tempo necessário para serem melhor desenvolvidos. Bem como os arcos dos personagens, extremamente simplificados, o que é uma pena com um elenco de bons atores. O outrora traidor que se martiriza para se redimir. A ex vingativa que precisava apenas de uma "DR". E a vilã com motivos egoístas disfarçados com uma razão supostamente altruísta, mesmo que apenas na visão dela. 

Escolhas de roteiro rasas que até se justificariam como meras desculpas para montar as possibilidades de ação. Mas, diferente do primeiro filme, as lutas e perseguições aqui não são bem conduzidas. Tem alguns bons momentos, é verdade. Mas, na maior parte do tempo, são apenas aceleradas e confusas. Não empolgam o suficiente para relevarmos um roteiro confuso, com motivações tão simplórias. 

Falta ainda mencionar que a série continua a desperdiçar parte do potencial desse universo, a bagagem dos personagens. Os poucos vislumbres de suas vidas através das eras, inevitavelmente deixam o conhecido gostinho de quero mais. Enquanto sua bagagem acumulada neste tempo, parece ter peso apenas para a grande habilidade de lutas deles. Falha que vem desde o longa de 2020.

Outro problema herdado do original é apostar mais "no que está por vir", do que no filme original. Se antes sequencias eram  um possibilidade, neste filme são uma obrigatoriedade. Já que a "missão principal" não é finalizada, deixando a vilã solta, a maior parte da equipe impossibilitada, e o final em aberto. Um inconveniente que fica ainda mais evidente, quando lembramos que cinco anos separara os dois primeiros filmes da franquia. E sabemos que uma nova sequencia ainda não está confirmada. Preocupante para qualquer um que espere pelo desfecho. 

The Old Guard foi um fenômeno da pandemia (talvez os cinemas fechados tenham ajudado nisso). Mas demorou muito para dar seguimento em seu universo. Quando finalmente o fez, trouxe uma obra inferior. Não completamente ruim, mas muito aquém do potencial prometido. E ainda presenteou o público que se manteve fiel com um final incerto. 

The Old Guard 2, devia ser um tiro certeiro da Netflix, mas se tornou uma aposta arriscada. A plataforma parece ter esquecido que não temos tanto tempo quanto seus imortais. E pior, perdemos o costume de esperar tanto por sequencias. 

The Old Guard 2
2025 - EUA - 107min
Ação, Aventura, Fantasia

Leia a crítica do primeiro filme, The Old Guard!

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