Admito, eu não era das espectadoras mais empolgadas para o retorno da série do demônio de Hell's Kitchen. Ainda que adore a versão dele vivida por Charlie Cox. A sensação era de que seus dilemas já foram bem explorados pelas temporadas da Netflix (agora o personagem está no Disney+), e o personagem teria mais a apresentar em participações como as de Homem Aranha: Longe de Casa e She-Hulk. Mas nunca se sabe, eu poderia estar enganada. Poderia, mas não estava! O que não significa que a temporada é ruim, mas está aquém do esperado.
Em Demolidor: Renascido reencontramos Matt Mudrock (Charlie Cox) em um momento traumático, a morte de Foggy Nelson (Elden Henson) e consequente dissolução de seu trio de sucesso, que também incluía Karen Page (Deborah Ann Woll). Não é spoiler, são os primeiros quinze minutos do primeiro episódio. Sequencia inclusive que promete oferecer ousadia e violência, com uma longa luta em plano sequencia, mas que não sobrevive à uma segunda olhada. Fumaça, fotografia escura, saltos em CGI de prédios muito artificiais, brigam pela atenção com bons momentos, como o protagonista ouvindo as últimas batidas do coração do melhor amigo. É esse desequilíbrio que dá o tom de toda a temporada.
Meses mais tarde, Mudrock abandonou o manto de demolidor, e foca no trabalho em sua nova agência. Quando a ascensão de Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) à prefeitura de Nova York reascende os instintos defensivos do vigilante aposentado. Um bom embate (embora pouco original, o Pinguim de Gothan fez algo parecido), que facilmente poderia ocupar toda a temporada, mas precisa dividir atenção com vários desvios.
A defesa legal de um vigilante contra policiais corruptos, atende ao requisito tribunal da série. Afinal, seu protagonista é um advogado. Mas, as consequências disso são rasas, e quase limitadas aos episódios que tratam do tema. O vilão Muso (Hunter Doohan) também poderia trazer uma trama de perigo, investigação e embates complexos e mais longos. Mas seu reino de terror só dura uns dois episódios. Apesar de subaproveitado, ainda oferece a melhor sequencia de luta da temporada.
Curioso perceber, que o episódio mais "divertido" de assistir é um filler (episódios que existem só para fazer volume). O episódio do assalto a banco, que obriga Matt a agir incógnito, em plena vista, existe apenas para relembrar que a série agora é oficialmente do MCU, e divide NY com outros heróis do universo. Talvez não seja de fato o favorito de todos, e minha preferencia venha do fato de eu adorar ver heróis precisando agir sob sua identidade civil. Mas eu me diverti.
De volta ao argumento principal, após vários desvios em tramas subaproveitadas, o roteiro retorna ao tema principal, o embate do protagonista com Fisk e Vanessa (Ayelet Zurer). Relegado aos últimos episódios e resolvido às pressas. Enquanto o dilema de Matt em ser ou não do Demolidor, já muito explorado nas temporadas da Netflix, retorna. Mas sem a riqueza da "culpa católica" que tanto define o personagem.
Falta também riqueza nas relações atuais de Matt. Os novos personagens, como a sócia, ou o policial aposentado que sabe de sua identidade, não conquistam nosso interesse (ouso dizer que nem o de Murdoch). A escolha ruim fica mais evidente em relação à seu novo relacionamento amoroso, a química com a terapeuta vivida por Margarita Levieva é quase nula. Chega a ser um alívio quando Karen e Frank Castle (Jon Bernthal) retornam para fazer no desfecho o que os coadjuvantes substitutos não são capazes. Embora Castle tenha sua violência amenizada por fotografia escura, e sua inteligência diminuída apenas para criar tensão. Conhecendo seu histórico, quem acredita que ele fora enfrentar um grupo tático sozinho e sem plano?
Outro casal cuja relação cansa é, surpreendentemente Vanessa e Fisk. Não porque o casal não tenha química, pelo contrário o elenco trabalha junto à uma década. Mas pela forma como o roteiro constrói sua relação, cheia de desconfiança velada, colocando os dois para medir poder pelas entrelinhas repetidamente, sem nunca entregar o embate que ensaia. Lá pela terceira "DR", já estamos cansados do casal.
Os grandes trunfos da série tem nome, Charlie Cox e Vincent D'Onofrio. Conhecedores de seus personagens, e extremamente confortáveis neles, é a dupla quem carrega o público, ao longo de episódios mornos. E os poucos embates cara a cara que travam, são as melhores cenas de toda a temporada.
Demolidor: Renascido prometeu muito, mas ainda não entregou. Recolocando as peças no tabuleiro, ao mesmo tempo que transita rasamente por vários temas, parece uma enorme preparação para aventuras futuras. Não chega a ser uma temporada ruim, mas deixa uma sensação de "quase". Quase renovou o personagem! Quase entregou algo novo! Quase empolgou, mas deixou tudo para uma segunda temporada.A primeira temporada Demolidor: Renascido tem nove episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis no Disney+!
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