Estou surpresa, até agora a safra de filmes natalinos de 2025, tem apresentado exemplares mais interessantes que as obras plastificadas e embaladas para presente dos ultimos anos. E Um. Natal. Surreal é a melhor surpresa, até agora. O longa do Prime Video estrelado por Michelle Pfeiffer não é desprovido de falhas, mas compensa com honestidade e carisma.
Clair (Michelle Pfeiffer) é uma matriarca, com "M" maiúsculo. Especialmente em período de festas de fim de ano, quando pode reunir toda a família. O marido Nick (Denis Leary), os três filhos, Taylor (Chloë Grace Moretz), Sammy (Dominic Sessa) e Channing (Felicity Jones), que ainda traz o marido (Jason Schwartzman) e os filhos gêmeos Lucy (Rafaella Karnaby) e Ben (Drake Shehan). O problema é que esse pessoal todo não move uma palha para ajudar a mãe. Que fica sobrecarregada com os preparativos para o Natal. E até com a competição com a vizinha perfeita (Joan Chen).
Quando além de não lhe dar o único presente que deseja, a inscrição em um concurso de um programa de TV e esquecê-la em um evento que ela mesma programou. Clair desiste de tudo, pega seu carro e dirige sem rumo, ou quase isso. Enquanto a família, incapaz de localizá-la, precisa fazer o próprio natal sozinha, e enfrentar dilemas e disputas próprios.
Com uma protagonista narradora sagaz, o roteiro de Um. Natal. Surreal nos conquista imediatamente com a realidade. O papel intenso e desvalorizado de cuidadora da família. Invisível não apenas nas festas, mas que com certeza se intensifica, com o desafio de criar um Natal feliz para todos.
A primeira metade do filme é usada para mostrar essa dinâmica. A dedicação e a sobrecarga não reconhecida pela família. Além de conflitos pessoas entre seus vários membros. É quase impossível não se identificar em alguma instancia com esse cotidiano, por mais que as tradições festivas sejam um pouco diferentes das nossas (mas não muito, somos colonizados né!).Além dos dilemas da matriarca, temos uma filha descolada viciada em namoros e um cunhado que tenta fazer amizade com ela. Um filinho da mamãe fazendo birra por ter sido abandonado pela namorada. E uma primogênita que quer ser mais ouvida. Todos problemas a serem discutidos e resovidos na segunda parte. É aí que o filme perde um pouco de força.
Ao dividir o tempo entre as muitas histórias, o filme acaba por tirar a força da jornada da protagonista. Embora faça sentido que seu desaparecimeno seja o catalizador para tirar esses conflitos da dormência. E que a maioria deles tenha bons desfechos, o tempo de tela dividido acaba por não benficiar a jornada de Clair. O resultado é uma fuga mais curta e com menos aprendizado do que a trama prometia.
Felizmente, à essa altura, a mãe superprotetora e esgotada de Michelle Pfeiffer já nos conquistou. E o elenco estelar e eficiente não fica atrás. Conhecemos bem, e compreendemos cada membro da família, por mais irritantes e egoístas que eles possam ser. Além dos nomes famosos já mencionados, também estão em cena Havana Rose Liu, Eva Longoria e Danielle Brooks.
Outro ponto positivo é atmosfera, menos plastificada e perfeita que os filmes natalinos dos dias de hoje. Desde a casa da família multi-colorida e abarrotada de enfeites, em contraponto ao clean, aestetic, sem vida da vizinha perfeita. Passando pelas situações cotidianas, problemas e falhas nas atitudes dos personagens. Até os figurinos que representam bem as figuras complexas que vestem. Mesmo que como "filme leve para toda a família" essa complexidade nunca seja realmente explorada.
Um. Natal. Surreal é surpreendentemente diferente, e ao mesmo tempo parecido com que se espera de um filme de natal. Parodia e brinca com os estereótipos desse sub-gênero, sem nunca deixar de fazer parte dele. Entregando a diversão leve e aconchegante mais honesta da estação. Deixando claro que o Natal é clichê, brega, e fofo, mas ainda pode ser realista e gostoso quando se vive bem, com as pessoas certas.Um. Natal. Surreal (Oh. What. Fun.)
2025 - EUA - 107min
comédia




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