Dia Zero

 Não é preciso uma rebelião das máquinas para que catástrofes aconteçam por causa da tecnologia. De fato, estamos tão dependentes dela que basta uma breve falha de sistemas para criar o caos em nossas vidas. É isso, que Dia Zero, série da Netflix estrelada e produzida por Robert De Niro, usa como estopim para uma trama politica cheia de mistérios e reviravoltas. 

Um ataque cibernético que desligou toda a tecnologia dos Estados Unidos por um segundo, causou o caos no país, incluindo catástrofes com milhares de mortos e feridos. Sem a menor pista dos responsáveis, e com uma ameaça pública de que o evento irá se repetir, a presidente Evelyn Mitchell (Angela Bassett), cria a comissão especial do Dia Zero. E convoca o ex-presidente George Mullen (De Niro) para comandar a força tarefa que tem poderes e liberdade para investigar nunca vistas antes. 

Um evento de grande magnitude, capaz de colocar um país não apenas em alerta, mas em um tipo de estado de sítio, sem autores declarados. Com a paranoia bélica estadunidense, é claro que logo imaginam inimigos externos, ameaçando o inicio de uma terceira guerra mundial. Mas quem presta um pouquinho mais de atenção em história, passada ou recente, facilmente nota que há outra opção: tentativa de golpe de estado. E é isso que Mullen precisa esclarecer, quem são os autores e qual o objetivo. Ao mesmo tempo que lida com próprios demônios. Confusão mental causada pela idade, ou parte do ataque ao país?

Com apenas seis episódios, a minissérie aposta em mistérios, reviravoltas e na complexa teia política e econômica norte americana para tecer uma narrativa envolvente e intrigante. Daquelas em que você comenta, indaga e suspeita a cada nova informação. Mas a produção falha em esclarecer rápida e claramente quem é que no tabuleiro. O que surpreendentemente vai de encontro com o padrão Netflix de facilitação da compreensão. Em outras palavras, as produções da plataforma apostam em explicações fáceis e repetitivas, para que o público possa acompanhar sem concentrar 100% da atenção na tela. 

Dia Zero exige que estejamos atentos, para compreender quem é quem no cenário politico e na teia intrincada da trama. Mullen é ex presidente, apesar de ser sempre chamado de "presidente Mullen", sua mulher é juíza, sua filha congressista. Detalhes que demoram a ser bem definidos, ignorando inclusive o fato que audiências de outros países não são obrigados a conhecer o sistema politico dos EUA. Ainda tem magnatas, bilionários da tecnologia, subalternos, imprensa e povo para levar em consideração.

Por outro lado, aqueles que dedicarem sua atenção, logo podem começar a tentar montar o quebra-cabeças junto com o protagonista. Julgar suas escolhas, e resultados dela. Além de criar paralelos com o mundo real. 


A produção é caprichada e grandiosa, usando cenários reais da politica estadunidense. Mas o grande atrativo mesmo é o elenco, que traz excelentes embates com diálogos afiados. Além de De Niro e Basset estão em cena, Jesse Plemons, Lizzy Caplan, Joan Allen, Connie Britton, Matthew Modine e Dan Stevens, para citar apenas os mais conhecidos.

Mas é Robert De Niro o grande foco. Dando vida à um raro presidente admirado por ambos os lados da política, e que abriu mão de um segundo mandato. As dúvidas sobre a veracidade de seu bom caráter, e de suas capacidades intelectuais, são parte relevante da narrativa. O que pode desagradar quem veio apenas pela intriga politica. Especialmente quando parte desta discussão é propositalmente deixada em aberto. Particularmente, gosto de poder explorar as possibilidades em boas discussões pós maratona. 

Dia Zero pode não ser o que muitos esperavam. Mas é uma obra que compreende bem o que pretende fazer, e entrega o promete. Além de incomodamente relembrar eventos recentes da politica mundial. Somado à Paradise e Capitão América: Admirável Mundo Novo, reforça uma preocupação interessante com figuras presidenciais, tramas secretas e golpes de estado, na cultura pop atual. A discussão é sempre bem vinda mas, devemos nos preocupar? 

Dia Zero tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis na Netflix!

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