Em 2016 Ryan Reynolds corrigiu um dos grandes erros da história do cinema de quadrinhos. Entregou uma boa adaptação do personagem Deadpool, que anteriormente fora completamente descaracterizado em sua primeira aparição na telona, em X-Men Origens: Wolverine. Já em 2018 provou que o acerto não era mero acidente, ao repetir o feito em uma bem sucedida sequencia. Mesmo assim, ainda faltava algo para completar o arco de redenção do mercenário tagarela, o reencontro com Wolverine.
É isso que Deadpool & Wolverine, terceiro filme da franquia, promete entregar. Trazendo Hugh Jackman de volta da aposentadoria mutante. E que feliz surpresa, o anti-herói desbocado conseguiu mais uma vez. Não que a comédia de ação seja um primor narrativo, mas é honesta e fiel ao que propõe, divertir!
Wade Wilson (Ryan Reynolds) desfruta de um momento de aparente calma ao lado de amigos, quando a AVT (sim, a agência temporal de Loki), o convoca para uma estranha missão, que inclui a destruição de sua linha do tempo. É tentando salvar sua realidade, e principalmente seus amigos, que Deadpool volta à cena, e busca a parceria de um Wolverine (Hugh Jackman) improvável, para uma nova aventura. Sem nunca perder a chance de explorar cada piada possível e imaginável pelo caminho.
Uma dupla que funciona extremamente bem junta, com uma dinâmica de opostos que se complementam, mesmo quando entram em um embate. O roteiro exagera, no bom sentido, nas características de cada um, para potencializar essa dinâmica. Em outras palavras, nunca tivemos um Wolverine tão carrancudo e ranzinza. Sim, caros nerds a fidelidade aos quadrinhos vai além do uso do icônico traje amarelo.
Uma pena apenas que essa bagagem não pode ser explorada em seu potencial. Este Logan está destruído por eventos de seu passado. Eventos esses que quando finalmente são esclarecidos ao público são apenas narrados, não mostrados. Mesmo que uma mutante que pode ver a mente e memórias das pessoas esteja envolvida na revelação. O motivo é simples, mostrar o que aconteceu ao invés de contar, exigiria a presença de um enorme número de X-Men. Tarefa financeira e logisticamente complicada de cumprir.
Já as motivações de Deadpool são mais simples, mas não menos verdadeiras. Ele quer salvar as poucas coisas boas que construiu ao longo dos dois filmes anteriores, seus amigos. Considerando que a proposta aqui é mais fazer rir do que emocionar, é impulso mais que suficiente para o personagem.
Se o encontro da dupla protagonista era mais que esperado e desejado pelo público, a surpresa fica por conta da inesperada, e surpreendentemente emocionante homenagem aos heróis da Twenty Century Fox. Partindo de hilárias e imprevisíveis participações especiais, até alcançar a nostalgia e posteriormente a homenagem.
Deixando claro, que sejam boas ou ruins, essas mais de duas décadas de produções povoadas de heróis, tem sua importância e legado no cinema. Embora isso, possa afastar expectadores mais jovens, ou menos mergulhados no universo de super-heróis. Afinal, não é todo mundo que assistiu a tantos filmes, ou leu os quadrinhos, para ser capaz de pegar todas as referências e entender todas as piadas. Tão pouco acompanhou as fofocas de bastidores. Sim, eles fazem graça até com isso! Então, como todo bom filme da Marvel nos últimos anos, este aqui também sofre da dependência e obrigatoriedade de conhecer um vasto universo.
Das aparições que podemos mencionar sem spoilers, tem o retorno do elenco dos filmes anteriores de Deadpool, como Morena Baccarin, Brianna Hildebrand e Stefan Kapicic em aparições mais breves. Matthew Macfadyen surpreende como o agente da AVT, Paradox. Mas é Emma Corrin quem se destaca, com a vilã Cassandra Nova. Tão ameaçadora quanto fascinante, mostra que a atriz não apenas está se divertindo no papel, como ainda pode tirar muito mais dele. E em se tratando de multiverso Marvel, porque não trazê-la novamente?
Já aqueles que esperavam que o filme, agora oficialmente um filme da Marvel, organizasse a bagunça do MCU , vão se decepcionar. Há referências, e conceitos do universo sim, como a AVT, mas Deadpool & Wolverine não tem a menor intenção, de encarar essa complexa tarefa. O objetivo aqui é o mesmo de sempre, parodiar as produções de quadrinhos, sem limites ou pudores. Entenda-se piadas para maiores, e muita violência.
E por falar em violência, a ação continua exagerada, absurda e caótica, como já característico da franquia. Dessa vez com mais poderes, e recursos para explorar, não apenas pelas habilidades do co-protagonista de garras, mas pelas muitas participações especiais.
Única produção para o cinema da Marvel em 2024 e provavelmente o filme mais esperado do ano, Deadpool & Wolverine entrega o que se propõe com maestria. Se divertir as custas do mundo dos super-heróis, livre de limitações. Sem medo de deixar não iniciados de fora, tão pouco de decepcionar, aqueles que esperavam mais do que uma comédia escrachada. Mas ainda sim, entregando um encontro esperado, e pasmem, muito coração por trás dessa reunião!
Deadpool & Wolverine
2024 - EUA - 127min
Comédia, Ação
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