Doctor Who - 14ª temporada... ou seria a primeira?

Não, eu não digitei o título desse post errado. Intencionalmente coloquei um questionamento nele. Isso porque, não tenho certeza da numeração em relação a esta nova temporada. Tecnicamente seria a décima quarta da era moderna, mas pode muito bem ser a primeira de uma nova era. De fato tanto Disney+, quanto o banco de dados IMDB a numeram esta temporada de Doctor Who como a primeira. E agora que assistimos a temporada completa faz todo sentido. 

Para quem perdeu, os episódios especiais de 60 anos dividiram o Doutor em dois, literalmente, para que um deles carregasse suas seis décadas de bagagem, e a décima quinta encarnação fizesse sua estreia mais livre e simples. Calma, não é uma situação de falta de memória, tão pouco de anulação de tudo que veio antes. A versão de Ncuti Gatwa surge sem peso, com ânimo renovado, e mais importante sem a necessidade de conhecer todas as temporadas anteriores para acompanhar. 

Afinal fazem dezenove anos que a versão moderna da série estreou. Já existe uma nova geração a ser apresentada a esse universo rico e complexo. Então, nada mais convidativo que recomeçar e convidar gente nova a se unir a grande legião de fãs que a série já tem. 

Tanto o 15º Doctor, quanto sua companheira, Rubi Sunday (Millie Gibson), foram devidamente apresentados no Especial de Natal. Uma aventura leve e divertida, com um orçamento visivelmente mais generoso, que o usual para o programa (a parceria com a Disney se faz notar), que dá o tom para toda a temporada. 

O astral mais elevado, se mantém ao longo dos oito episódios, culminando em um raro desfecho feliz para uma das acompanhantes do protagonista. Após um adoravelmente rocambolesco, ainda que com uma o outra ponta solta (não explicaram a neve), episódio final duplo, que fora construido lentamente ao longo de toda a temporada. O que não significa que a temporada não conte com episódios mais tristes ou tensos. 

Entre estes se destacam o trágico Boom, o enigmático 73 Yards, e o extremamente crítico e revoltante Ponto e Bolha. Este último relembra que esta é uma série diversa, em um mundo cheio de preconceitos, e isso vai se refletir na nova pele do protagonista. Ncuti Gatwa é o primeiro interprete negro, da linha do tempo principal. Além alfinetar nossa dependência da internet, redes sociais, e das bolhas de convivência que elas criam. O que dá ao capítulo um surpreendente tom de Black Mirror.

Já o sexto episódio Rogue, prova que está antenado com a cultura pop atual. Brinca com o mundo de Bridgerton, e ainda apresenta um relacionamento LGBT entre personagens principais, uma semana antes da série da Netflix fazê-lo (porque choras Benedict?). Tudo para apresentar um novo personagem promissor. Rogue, ou Ladino na dublagem, vivido por Jonathan Groff, é misterioso, cheio de química com o Doctor e supostamente tem um final trágico. Aposto que o veremos de novo, e mal podemos esperar por isso!

Com tanta novidade, pode parecer que não há nada para os antigos fãs nas aventuras do novo Doutor. Mas a temporada traz de volta antigos vilões. Antigos mesmo, da série clássica! Além da UNIT, personagens recorrentes e elementos icônicos do personagem, repaginados, como a chave sônica e a própria Tardis. 

Ncuti Gatwa abraçou o personagem de corpo e alma, com um carisma e energia que derruba qualquer resistência que tenhamos à mudanças. Quem já acompanhou algumas regenerações do personagem sabe, leva algum tempo para nos acostumarmos com os novos rostos e personalidade, ainda mais após uma encarnação popular. E Gatwa pega o bastão de Tennat, um interprete tão popular que viveu duas encarnações do Doctor. Mas ele tira o desafio de letra, e entrega um doutor sensível, bem humorado, extremamente amigável, e muito musical. 

Para completar a parceria com a Disney aprimorou o orçamento visivelmente. O que se reflete em cenários e criaturas mais variados, coloridos e vibrantes. Mantendo breguice proposital, tão característica da série, que amamos.

Seja você novato em sua primeira temporada, ou veterano em sua 14ª,  Doctor Who está de volta com energia renovada. Episódios de gêneros variados, criativos, cheio de carisma e estilo. É a renovação que o doutor merecia, após tantos anos povoando a cultura pop!

A mais recente temporada de Doctor Who tem oito episódios com cerca de uma hora, além do Especial de Natal. Todos disponíveis no Disney+, assim como os episódios especiais de 60 anos da série. 

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