Doctor Who - Especiais de 60 anos!

Dez anos atrás quando nosso senhor do tempo favorito completava meio século de aventuras, os fãs de ficção científica do Brasil ainda estavam descobrindo a série mais longeva do gênero. Uma década mais tarde os "whovians" brasileiros, passaram por altos e baixos junto com o personagem, especialmente em se tratando de como assistir à série. O especial de sessenta anos de Doctor Who, no entanto, vem marcar uma nova fase na produção e na exibição do programa.

À começar pela promessa de acessibilidade. O Disney+ se tornou o distribuidor oficial da série ao redor do mundo, a partir de agora. Enquanto uma promessa do SBT, dá esperanças de acesso gratuito às temporadas antigas, a partir de 2024. E terminando pelo fechamento de um clico, e um leve reeboot, para abraçar novas gerações, assim como a série fizera lá em 2005. 

Assim, o especial de sessenta anos, traz David Tennant não como 10º Doctor, mas como sua 14º encarnação, logo após Jodie Whittaker, para uma micro temporada de transição, de três episódios. Hora de analisar um pouquinho cada um deles.

Em A Fera Estelar (The Star Beast) o Doutor, confuso por revisitar um antigo rosto, esbarra na única ex-companion que não poderia visitar. Uma grande ameaça parece convergir para Donna Noble (Catherine Tate), por mais que ele tente afastar-la, e a si mesmo, da melhor amiga e de sua família. O reencontro forçado é inevitável, e enquanto combatem uma ameaça imprevisível na Terra, Donna torna-se um pilar, para esse Doutor cansado e confuso, e o início de um longo processo de cura. 

Quanto à aventura em si, alienígenas criativos, efeitos práticos e o retorno da UNIT. Além de apresentação de Rose (Yasmin Finney). A primeira personagem abertamente trans da franquia veio relembrar, e escancarar para aqueles que teimam em não enxergar, o quão inclusiva, atual e sem preconceitos é a série. Além de deixar claro, que quer conversar também com as novas gerações, e não apenas com os fãs antigos.

A Imensidão Azul (Wild Blue Yonder) faz os personagens olharem para si mesmo, literal e figurativamente, especialmente o Doctor. Afinal, ele está confuso e perdido lembrar? Usando o tradicional formato de história criado pelo orçamento limitado (embora este não necessariamente seja aqui) muito utilizado pela série. Poucos cenários, elenco limitado, e imaginação ímpar para construir dilemas complexos, com metáforas, as possibilidades infinitas do universo. Além de a completa falta de pudor em usar o humor e o nonsense, como explicação e até solução de alguns problemas. 

O resultado é um episódio simples em sua forma, mas complexo nas reflexões. E principalmente perturbador nas imagens e consequências. Fornecendo a interação e parceria entre Doutor e companion que a gente tanto adora, e no caso da dupla Doctot-Donna é sempre divertida, emocional e imprevisível. 

 
O mais grandioso do trio de episódios, Risadinha (The Giggle), traz de volta um vilão da primeira encarnação do Doctor, da série clássica. Ou seja, a grande maioria do público está vendo o Toymaker pela primeira vez aqui, na pele de Neil Patrick Harris, que parece ter nascido para o personagem. Uma entidade superpoderosa, que só segue as regras dos jogos que ele mesmo cria, usando magia e truques para manipular tudo e todos. Adoraríamos vê-lo novamente!

O episódio traz de volta a UNIT, antigos e novos parceiros, para imbuir o Doutor de "propósitos" e o preparar para sua nova fase. Sim propósitos no plural, pois em se tratando de Doctor Who tudo é possível, e novos parâmetros foram criados para sua mitologia. 

A partir daqui, o texto conta com spoilers do episódio, prossiga por sua conta e risco!

É a "bi-regeneração" o tal recurso que cria a possibilidade de continuar a série, simultaneamente encerrando-a e a renovando. Ao dividir o protagonista em dois, o roteiro mantém o Doutor na ativa. Ncuti Gatwa chega para dar cara e ânimo novo para o cansado personagem, continuando a jornada e trazendo novos espectadores. 

Enquanto a encarnação de Tennant encontra o merecido e necessário descanso, após 60 anos de aventuras e milhares de existência. Encerrando o ciclo, e abrindo espaço para o 15º Doctor recomeçar com menos bagagem. Elemento que pode afastar quem não quer precisar assistir todas as temporadas, permitindo que um novo público entre na jornada a partir de agora. 

Além de quer finalmente proporcionar ao personagem a família que sempre buscou, entre personagens favoritos do público, é extremamente satisfatório para o público cativo. É claro, isso também o deixa à disposição para quando que a criatividade, ou crises de audiência exigirem.

Ter esta 14º encarnação reservada para "momentos de emergência" é uma sacada de mestre dos roteiristas. Pode ser que ele apareça em eventos especiais, quando a série precisar de novos rumos (leia-se audiência ruim) ou pode ser nunca os revisitemos novamente. Tudo é plausível, possível e satisfatório.

Há ainda quem diga, que esta é a primeira encarnação do Curador. Uma suposta versão do Doctor que conhecemos no especial de cinquenta anos, que deu a entender que após a "aposentadoria", o personagem revisitaria antigos rostos. Nesta teoria, teríamos acabado de acompanhar seu nascimento. Outra opção muito satisfatória para os fãs!

Teorias, reflexões, metáforas e analogias à parte, o especial de 60 anos de Doctor Who traz o que a série tem de melhor. Aventuras meio loucas, divertidas, personagens carismáticos, e sua infinita capacidade de se reinventar. 

Traz Tennet e Tate de volta para matar a saudade dos nostálgicos, ao mesmo tempo que os usa como impulso para Gatwa, que faz sua estreia com o carisma e a familiaridade de um velho amigo. Mais que uma celebração, é um recomeço muito bem planejado! 

Eu já estou pronta para recomeçar a jornada, e você?

Os três episódios especiais de 60 anos da série estão disponíveis no Disney+. Em 25 de Dezembro, Ncuti Gatwa assume de vez o painel de controle da Tardis, provavelmente enfrentando um dos maiores inimigos do Doctor, o Natal! (entendedores, entenderão!)

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