Um Lugar Silencioso: Dia Um

 Já não vimos esse dia em Um Lugar Silencioso: Parte II? - Esse é o pensamento imediato ao ler o título do terceiro filme da franquia iniciada em 2018 por John Krasinski. E a resposta é, sim nós vimos! Mas fora só um vislumbre do primeiro dia de apocalipse alienígena da família retratada no primeiro filme. E se pensarmos bem, todo lugar do mundo teve um "dia um" da invasão que tornou o mundo "um lugar silencioso. 

Em Um Lugar Silencioso: Dia Um, acompanhamos a fatídica data da chegada dos invasores em Nova York, através dos olhos de Sam (Lupita Nyong'o). Uma paciente em estágio terminal, que só deseja uma fatia de pizza, na companhia de seu gato, mas que precisa lidar com o apocalipse silencioso na cidade mais barulhenta do mundo.

É a condição determinante da protagonista que a torna a personagem mais interessante de acompanharmos neste caos. Já tendo há muito encarado os estágios do luto, e apenas esperando a contagem final, a moça  reage de forma incomum aos eventos catastróficos à sua volta. Nos levando a passear pela cidade, e ver outras pequenas histórias e reações enquanto a acompanhamos.

Fugitivos em manada, membros desgarrados, reações extremas em momentos de vida ou morte, pessoas em estado de choque, ou desespero, vemos de tudo um pouco enquanto Sam e seu gato Frodo percorrem as ruas de NY. Assim como a interação dela, e das criaturas, a cada uma dessas situações. Mas é sua jornada própria a mais interessante, o retorno para casa em um processo de aceitação do luto. Que ganha novos contornos a cada novo encontro e principalmente com a entrada de Eric (Joseph Quinn) em cena. 

Uma pena no entanto, que a ameaça que dá movimento à narrativa não seja tão excepcional quanto em sua primeira aparição lá em 2018. Além da perda do fator novidade, o modus operandi das criaturas aqui por vezes parece moldado para atender às necessidades da narrativa. O exemplo mais gritante é com sua reação discrepante à diferentes intensidades de som. O chutar de uma latinha, não deveria chamar mais atenção que vários carros com alarmes disparados. Mas pra ficar mais "emocionante", é esse tipo de coisa que acontece. 

Também falta uma explicação mais clara de como a população tomou ciência da necessidade de fazer silêncio para evitar os predadores. Há sim uma progressão lógica de causa e efeito na cena do primeiro ataque. Especialmente para nós que já conhecemos a situação. Entretanto para os personagens tentando sobreviver em meio a um caos desconhecido, essa correlação não seja tão óbvia assim. 

Mas, ok, eles descobrem em algum momento, e as autoridades espalham a informação através de auto falantes... espera, tá certo isso?

De volta aos pontos fortes do filme, a cena do primeiro ataque é excelente. Apostando no caos e desconhecido para introduzir a protagonista, e todo mundo, nessa nova realidade. E apesar das ressalvas quanto às reações das criaturas, as cenas de perseguição, são bem executadas, tensas e frenéticas quando precisam ser. Garantindo nosso envolvimento e atenção completa. Um deleite para quem gosta do subgênero "espetacularização do fim do mundo". 

Outro acerto é o bom elenco, ainda que bastante econômico. Além de Lupita Nyong'o e Joseph Quinn, ainda conta com pequenas participações de Alex Wolff e Djimon Hounsou. Mas é Lupita, e sua entrega excepcional á essa mulher em fim de jornada, determinada, ainda que exausta, e que não tem mais nada a perder, quem carrega o filme. Uma pena apenas, que a produção fique dividida entre o drama e a sobrevivência, e não tenha tempo de explorar a fundo cada um deles, e dar ainda mais espaço para a protagonista brilhar. Ficar com esse "gostinho de quero mais", entretanto é um bom sinal! 

A montagem peca aqui e ali, curiosamente nas cenas de respiro, ao invés das caóticas cenas de ação. Enquanto os já conhecidos monstros de CGI, não decepcionam, mas também não surpreendem. Entregam a ameaça necessária a cada momento, e apenas isso. 

Com Krasinski apenas na produção, tendo Michael Sarnoski como diretor, Um Lugar Silencioso: Dia Um expande o universo da franquia para longe da família inicial, abrindo as portas para futuras sequencias em todo lugar do planeta. Não é excepcional e inovador como o primeiro filme, tão pouco conta com nosso apego aos personagens da sequencia, mas é um entretenimento bastante satisfatório. E sem nenhum gato ferido no processo.

Que venham outros "primeiros dias" nesse mundo silencioso! De preferência com lugares, personagens e propostas mais ousadas. É uma franquia que vale o investimento.

Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One)
2024 - EUA - 100min
Ficção-cientifica, drama, suspense, terror

Leia a crítica de Um Lugar SilenciosoUm Lugar Silencioso: Parte II

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