Uma curiosa tendência tem tomado conta das produções audiovisuais recentemente, o interesse por dar protagonismo à importantes figuras históricas femininas. De Mary Stuart (Reign) à Elizabeth II (The Crown), passando por Catarina, a Grande (The Great) e até a nossa Imperatriz Leopoldina (Novo Mundo, novela sim!), as vida destas mulheres tem sido contadas com mais, ou menos fidelidade de acordo com a proposta da obra, pela dramaturgia de diferentes países. Agora é a vez de Sissi, imperatriz da Áustria, em uma produção Alemã para a Netflix.
Em 1853 a princesa Elizabeth da Baviera (Devrim Lingnau) acompanhou a mãe e a irmã mais velha, Helena (Elisa Schlott) em uma visita à família real austríaca. A intenção era oficializar o noivado do Imperador Franz Joseph (Philip Froissant) com Helena, mas encantado por seu espírito livre o governante propôs matrimônio à caçula. Com apenas dezesseis ano Sissi, como era conhecida, se tornou Imperatriz do império Austro-húngaro, e é aí que nossa "novela" começa.
Sim, novela, no melhor dos sentidos. A série acompanha as intrigas palacianas, os empasses políticos e a adaptação da protagonista ao seu novo papel. Além de jovem Elizabeth não eras grande cumpridora de regras e costumes, e muitas lhes passaram a ser exigidas de uma hora para outra.
O roteiro fica no meio do caminho entre realidade e ficção, aproveitando intrigas reais combinadas com eventos ficcionais, e deduções sobre como seria a vida intima da realeza. A indisposição constante entre a protagonista e sua sogra, por exemplo, são reais. Já quanto ao interesse do irmão mais novo de Franz, Maximilian (Johannes Nussbaum) pelo trono, não existem evidências. Há também a licenças poéticas em prol da dramaturgia, como a sequencia climática do pedido de casamento. O romance à primeira vista quase de conto de fadas entre Sissi e Franz. Ou ainda os encontros entre a imperatriz e o povo. Seria possível que estes eventos tenham ocorrido desta forma, mas provavelmente não ocorreram.
Mas chega de analisar a obra por aspectos históricos, a série é assumidamente uma obra de ficção, e como tal entrega intriga e grandes acontecimentos em cada um de seus episódios. Embora o desenrolar da história tenha seus problemas. Com apenas seis episódios, metade da temporada é gasta apenas com a entrada da protagonista na família real. Ritmo que muda, quando uma vez casada, a narrativa começa a se dividir mais entre outros temas, como a guerra estrangeira que se impõe ao reinado, a tentativa de golpe de Maximilian, e a revolução popular que se infiltra no castelo. Os dois ritmos narrativos, funcionam isoladamente, é a mudança entre um e outro que gera estranheza.
Felizmente, como o ritmo mais lento dos primeiros episódios apresenta bem os personagens, e é eficiente em construir empatia (ou antipatia) por eles, a segunda metade pode se focar mais em embates e intrigas. Sempre retornando a Sissi como ponto focal, até dos temas que parecem alheios à ela inicialmente. E dividindo espaço com os dramas pessoais da moça, como atender às muitas expectativas da corte. A maior delas, fornecer um herdeiro.
E por falar na imperatriz, a bela Devrim Lingnau faz um bom trabalho ao representar o ímpeto, a inadequação e até um pouco de ingenuidade por parte da jovem. Os momentos em a personagem se encontram confusa com tantas normas, frustradas por elas, e principalmente quando diminuída pela sogra são aqueles em que a moça mais brilha.
A produção é luxuosa em todos os aspectos, dos cenários aos penteados. Castelos e jardins grandiosos, vestidos opulentos, joias reluzentes e penteados complicados constroem a atmosfera luxuosa da vida na corte, em contraponto gritante ao pouco que se vê do povo faminto além dos portões. O "aprisionamento" de Sissi, por trás de tanto luxo (espartilhos são prisões), e a descoberta por ela sobre a miséria para além do seu mundo, são parte da construção da personagem como figura histórica, que começa aqui, mas deve seguir evoluindo nas temporadas seguintes.
Mais nova integrante do panteão de "rainhas novelizadas" para o audiovisual, A Imperatriz não faz feio. Com poucos episódios ainda não disse à que veio. Mas apresenta bem Sissi da Áustria, e prepara o terreno para uma vida ficcional, tão intrigante e gloriosa quando a real. Que venham mais temporada e os próximos anos desse reinado.
A Imperatriz tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.
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