Sanditon - 2ª temporada

Comecei minha resenha da primeira temporada de Sanditon afirmando, que a série não é a Bridgerton da Globoplay. Mas como a vida gosta de pregar peças, as semelhanças entre as duas produções inspiradas pelo estilo de Jane Austen, aumentaram um pouco mais em suas segundas temporadas. Ambas perderam o galã de suas temporadas de estreia no hiato para o segundo ano. Mas enquanto o formato da produção da Netflix possibilitou uma administração simples dessa ausência, para Sanditon a falta foi muito mais problemática.

A série foi cancelada pela por seu canal original a rede britânica ITV, mas os fãs brigaram e o canal público americano PBS resgatou a produção para mais duas temporadas que devem encerrar sua história. Mas este resgate não conta com o retorno de Theo James, o intérprete do par romântico da protagonista já estava ocupado com outras produções como A Mulher do Viajante do Tempo. Além de ter afirmado que acreditava que o final nada feliz entre Sidney e Charlotte era perfeito. O jeito, foi seguir sem ele. 

Assim, Sidney realmente se casou com a moça endinheirada que impediria seu irmão de ir a falência, e estava fora do país resolvendo algo misterioso relacionado à Senhorita Lambe (Crystal Clarke) quando faleceu. Mesmo com todos em luto, uma nova temporada começa em Sanditon, e Charlotte (Rose Williams) volta a ser hospede dos Parker, desta vez acompanhada de sua irmã Alison (Rosie Graham). Enquanto esta última está ávida por encontrar um bom partido, a protagonista quer apenas escapar de um casamento arranjado com um fazendeiro, ao mesmo tempo que vive seu luto. Para isso, ela decide trabalhar como tutora da filha e sobrinha do Lorde Colbourne (Ben Lloyd-Hughes)

Sanditon começa a se firmar como cidade turística, e a chegada de um regimento agita ainda mais as coisas. O Sr. Parker (Kris Marshall), vê oportunidades comerciais e Alison procura pretendentes. O desgraçado Sir Edward Denham (Jack Fox) retorna à cidade com o exército, tentando cair novamente nas graças da rica Lady Denham (Anne Reid). Esta por sua vez recebe novamente a sobrinha Esther (Charlotte Spencer) e a perdida Clara (Lily Sacofsky). Sim, todo mundo resolveu voltar para Sanditon no mesmo dia. Lide com essa "coincidência" do roteiro. 

Por fim, mas não menos importante, a Srta. Lambe agora tem novos tutores que procuram um bom casamento para a moça. Cobiçada por muitos pela sua fortuna, a moça só quer alcançar a maioridade, ser dona do próprio nariz e lutar em prol de negros escravizados, mas acaba se interessando por um partido incomum. 

Um pouco de a Noviça Rebelde, um pouco de Cyrano de Bergerac, um pouco de Darcy e Wickham, entre outras muitas referências menores compõem o quebra-cabeças que é a segunda temporada de Sanditon. Vale lembrar, a série é baseada em uma obra inacabada de Jane Austen, cujo material esgotou ainda nos primeiros episódios da série. A liberdade dos roteiristas aqui era total, inclusive para contornar a ausência de seu mocinho original. E o caminho escolhido é certeiro, se inspirar em outros trabalhos da própria Auste, e em outras obras que combinem com o tom romântico da produção. 

Ainda sim, os temas originais são os que trazem as discussões mais interessantes. O mistério em torno da morte de Sidney em Antígua. E o paralelo entre a dificuldade de engravidar de Esther e o "inconveniente" que é a gravidez de Clara. Entre as histórias inspiradas por outras, os caminhos e temas são previsíveis, mas executados com eficiência e coerência. 

A falha fica por conta da escalação de elenco. Com intérpretes poucos carismáticos, os novos personagens tem dificuldades em gerar empatia com o público. O problema fica mais evidente pela falta de química entre a protagonista e seus dois pretendentes, vividos por Ben Lloyd-Hughes e Maxim Ays. Dentre os novatos, salva-se Frank Blake, que consegue construir uma relação interessante entre seu Capitão Fraser a Alison. 

Do elenco que retorna, a maioria mantém o bom trabalho entregue anteriormente. O destaque fica com Rose Williams que troca o deslumbramento do primeiro ano, para uma personalidade mais contida, ainda que mantenha o atrevimento da protagonista. Enquanto Turlough Convery rouba a cena, ao transformar Arthur Parker, um personagem secundário, em alguém de quem gostaríamos de ser amigos.

Outra mudança gritante nesta segunda temporada está na qualidade do design de produção, figurinos, cabelos e maquiagem. Sem grandes novidades os cenários se atém ao que fora estabelecido na temporada anterior, o que em geral atende a história. Já os cabelos estão descuidados e bagunçados, descaracterizando alguns personagens. Enquanto as roupas que antes, completavam o sentimento de familiaridade e determinavam bem a época, mantém o estilo, mas estão mal desenhadas e acabadas. Algumas com invencionices, como cortes assimétricos e estampas curiosas que desviam a atenção. Simplificando, estão feias mesmo! Provavelmente resultado de uma diminuição no orçamento na mudança para a nova emissora. 

Ao final das contas, entre percalços e desafios, Sanditon fez o melhor que pode com os recursos que tinha. Não entrega nada espetacular, mas continua a história inacabada de seus primeiro ano, e a encaminha para um desfecho na terceira temporada. À nós só resta aproveitar, e torcer por Charlotte e companhia!

A segunda temporada de Sanditon tem 6 episódios com cerca de uma hora cada. O primeiro ano conta com 8 capítulos. As duas primeiras temporadas estão disponíveis no Globoplay, e a terceira temporada está confirmada para 2023.

Leia a crítica da 1ª temporada de Sanditon.


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