Trem-Bala

Um tempo de leitura, descanso e até um longo cochilo, é o que a maioria das pessoas espera ao pegar um trem noturno. Felizmente, estas não são opções para os passageiros do Trem-Bala dirigido por David Leitch (Deadpool 2, AtômicaJohn Wick). O longa já traz em seu título o tom do filme, frenético e acelerado tal qual o veículo de alta velocidade. 

Ladybug (ou Joaninha em português, Brad Pitt) é um assassino de aluguel azarado, e por isso aceita uma missão bastante simples, roubar uma maleta de um trem-bala que parte de Tóquio.  O que ele não sabe, é que não é o único em missão no veículo. E o que era para ser um trabalho fácil logo se torna um caos, quando missões conflitantes e conectadas começam a colidir umas com as outras, colocando todos estes "agentes" em uma luta constante e confusa. 

Falar muito mais que isso de Trem-Bala é estragar parte da surpresa, descobrir quais passageiros estão em missão, compreender quais tarefas são essas e observá-los agir é grande parte da experiência deste filme. Os trailers já entregaram, além do personagem de Pitt, também estão em cena Joey King, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji e um enorme elenco de participações especiais surpresa. Cada um com sua agenda e seus pequenos arcos a cumprir. Assassinato, vingança, resgate, roubo, tem de tudo acontecendo nestes trilhos.

Missões essas que nos são apresentadas e destrinchadas aos poucos, com direito à flashbacks estilosos e frenéticos, que acompanham o ritmo acelerado do restante do filme. Os embates vão acontecendo em um crescimento gradual e constante, conforme cada um dos assassinos percebe que não está sozinho neste trem. Até chegarem um um clímax grande apoteótico e assumidamente absurdo. 

Vale alertar, o filme é uma combinação de ação com comédia, e por isso não tem receio de ser exagerado, absurdo e até meio sem sentido em alguns momentos. Para aqueles abertos a mergulhar de cabeça em sua proposta, e dispostos a encarar a maratona de ação em frenesi é diversão certa. Aqueles que não abraçarem este espírito assumidamente louco podem ficar perdidos, cansados ou até confusos com as muitas reviravoltas do roteiro.  

Quem abraçou com tudo essa proposta foi o elenco. Pitt usa seu carisma usual para gerar empatia pelo seu azarado, letal e um pouquinho neurótico protagonista.  Taylor-Johnson e Brian Tyree Henry criam uma parceria inusitada com seus propositalmente caricatos personagens. Enquanto Joey King acerta na ambiguidade de sua "fofa assassina". É Andrew Koji quem acaba ficando mais apagado, já que seu personagem focado e introspectivo destoa do exagero dos demais. Já as participações especiais são divertidas empolgantes, muitas no estilo "piscou perdeu", então fique atento. 

David Leitch utiliza sua experiência prévia em filmes como Deadpool 2 e John Wick para combinar ação e comédia de forma acertada. Explorando todas as possibilidades que o trem oferece, inclua aí os espaços confinantes, a alta velocidade e até as breves pausas no trem. As cenas são criativas, bem filmadas e executadas, conferindo periculosidade, ao mesmo tempo que o exagero e torna as mortes leves e até cômicas. O resultado é muita "sanguinolência", em um tom mais estilizado. 

A direção de arte é eficiente em construir e diferenciar os muitos ambientes de um mesmo trem. Enquanto figurino e maquiagem, ajudam a comunicar um pouco mais história destes personagens, já que com tanta gente em cena, e com tanta coisa acontecendo, o roteiro precisa contar o máximo destes personagens com muito pouco tempo. 

O longa ainda encontra tempo para brincar com os conceitos de sorte, azar e perspectiva de vida ao contrapor os personagens de Pitt e King. Ele um azarado conformado, ela uma sortuda convencida, será que seus desfechos e realidade corresponderão a visão de cada um sobre sua sorte?

Baseado no livro homônimo do japonês Kōtarō Isaka, e passado no Japão, o filme não escaparia da polêmica ao ser protagonizado em sua maioria por atores ocidentais. Mudança, que segundo entrevistas não incomoda o autor. A discussão fica então à cargo do público. 

De volta ao que o filme é (e não o que poderia/deveria ser), Trem-Bala é uma das melhores estreias de ação do ano. Com produção impecável, e visual enérgico como seu roteiro, o longa é uma acertada balbúrdia. Frenética, violenta, criativa, exagerada e muito divertida, desafio alguém à tentar cochilar nessa louca viagem. 

Trem-Bala (Bullet Train)
2022 - EUA/Japão - 126min
Ação, Suspense, Comédia

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