Paper Girls - 1ª temporada

Protagonistas entrando na adolescência na década de 1980, um fenômeno com potencial destruição do mundo, conceitos de ficção cientifica e fantasia..., não, não se trata de Stranger Things. Estes são elementos de Paper Girls, a mais nova série do Prime Vídeo, que apesar das semelhanças é muito diferente do fenômeno da Netflix.

Erin, Mac, Tifanny e KJ (Riley Lai Nelet, Sofia Rosinsky, Camryn Jones e Fina Strazza respectivamente) são entregadoras de jornal de doze anos, que na madrugada seguinte ao Halloween presenciam um evento incomum.  E, de repente, se encontram em uma aventura para salvar o mundo com viagens no tempo, tecnologia avançada, robôs gigantes e até dinossauros. 

Paper Girls é uma adaptação da série em quadrinhos homônima crida por Brian K. Vaughan e ilustrada por Cliff Chiang. A série parece cometer um erro crucial que determina o alcance de qualquer adaptação: não ter consciência de o público não é obrigado a conhecer o material original. 

Com uma premissa complexa e rica, o roteiro falha em construir e apresentar os conceitos de forma clara. Quem são os mocinhos? E os bandidos? Que guerra é essa? -  as informações são jogadas aqui e ali, de forma desconexa e incompleta. Talvez por medo de se tornar didática demais, ou ainda em uma tentativa de criar um mistério. De uma forma ou de outra, as respostas demoram, e muitas nem sequer chegam, diminuindo o comprometimento de quem ainda não conhece o material. Resta ao público se apegar com suas carismáticas protagonistas, as situações inusitadas e os desafios que elas encontram na tentativa de voltar para casa. 

Carismático, o elenco mirim dá conta de criar um grupo diverso e coeso, enquanto o roteiro tenta desenvolver problemáticas individuais para cada uma delas. Expectativas e decepções em relação ao futuro, descoberta da sexualidade, vocação profissional, imutabilidade do destino e até o vislumbre da doença e morte, estão entre os muitos temas que os arcos individuais das personagens abordam. Com personalidades e temas tão distintos, é bem provável que alguns deles agradem mais que outros, de acordo com o expectador. 

Sejam quais histórias ganharem sua preferência a sensação de desequilíbrio é inevitável, uma vez quando a história para para explorar um personagem, você pode estar realmente interessado em outro. Ou ainda, ansioso pelas tais respostas da trama principal que nunca chegam. 

Determinado a não se render à nostalgia, o roteiro perde muitas oportunidades de demarcar bem as diferentes épocas pelas quais as meninas passam. Há sim uma certa estranheza com uma ou outra tecnologia do futuro, mas logo as jovens se adaptam à elas. As mudanças nas roupas, cabelos, trilha sonora e até mesmo a evolução da cidade, são pouco explorados, tornando difícil até para o expectador descobrir em que época a história se encontra, antes que alguma data surja na tela. 

Os efeitos especiais são o ponto mais fraco da produção, com muitos elementos em CGI que já aparecem datados e nada realistas. O que seria facilmente relevado se a série abraçasse os conceitos que apresenta com mais vontade. Loops temporais, mudanças na linha do tempo, paradoxos, governos futuristas autoritários, distopias, rebelião todos estes conceitos que adoramos discutir em obras semelhantes estão lá, mas são abordados de forma superficial e passageira. Enquanto a necessidade de garantir uma sequencia deixa respostas não dadas e finais em abertos. 

Apesar de tudo, Paper Girls ainda consegue divertir. Deve cativar quem já é fã da obra, ou ainda quem está descobrindo pela primeira vez os conceitos de viagem no tempo e distopias. O elenco mirim é o ponto forte. As quatro meninas equilibram bem o protagonismo e a dinâmica, especialmente quando estão juntas. 

Pré-adolescentes em bicicletas, fenômenos extraordinários, ameaças globais, muita gente pode ficar tentada a comparar Paper Girls com outros fenômenos teen por aí. A série do Prime Video, no entanto, tem muito potencial para ter identidade própria. Uma pena que a produção não descobriu como explorar estas possibilidades em sua primeira temporada. O jeito é torcer para que as "jornaleiras" encontrem em temporadas futuras, um caminho à altura do conteúdo que sua proposta oferece.

Paper Girls tem oito episódios com cerca de uma hora cada. Todos já disponíveis no Prime Video

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