Stranger Things - 4ª temporada (parte 2)

Comecei a resenha da primeira parte da quarta temporada de Stranger Things falando das expectativas e teorias criadas pelo longo tempo de espera entre o terceiro e quarto ano da série da Netflix. Surpreendentemente, o pouco mais de um mês que dividiu os episódios desta temporada mais recente, foi igualmente fértil para criação de especulações e muita ansiedade em torno dos dois últimos episódios. Estes entregaram quase tudo que prometiam, mas não encerraram em uma nota tão alta quanto a que tivemos no hiato.

Empolgante e tenso, o sétimo episódio The Massacre at Hawkins Lab, funcionaria muito bem como um desfecho temporada, daqueles cheios de ganchos para o próximo ano. Os episódios oito e nove, resolvem estes empasses, e entregam uma batalha ainda maior, que oferecem um ponto final (temporário, claro), mais coerente com o estilo da série. Em resumo, a parte dois entrega a preparação, o grande embate final, e as consequências dele. 

Finalmente reunindo os núcleos, ainda que fisicamente distantes, na mesma batalha, o roteiro consegue enfim intercala-los, sem perder o ritmo. Problema que aconteceu ao longo de toda a temporada, com o núcleo de Hawkings se mostrando mais interessante que os demais, na maior parte do tempo. 

 A ação intercalada funciona, ainda que conte com conveniências e coincidências que exigem uma vista grossa do público. A sincronia das ações em três núcleos incomunicáveis é o maior exemplo. É improvável? Sim, mas funciona perfeitamente para conferir urgência ao roteiro. Especialmente se levarmos em conta, que a separação das equipes foi uma forma de lidar com as bolhas de gravações impostas pela pandemia. Os Duffer incorporaram a separação ao roteiro de forma eficiente, coisa que Umbrella Academy, por exemplo, não conseguiu. 


Apesar da boa sincronia no clímax, o núcleo da Rússia continuou sendo o mais frágil e desnecessariamente longo. Ao ponto de toda a trama de resgate e fuga ser jogada fora no clímax, levando os personagem de volta à prisão de onde acabaram de sair. A sensação inevitável é de que a série não sabia o que fazer com os adultos. Tornando as teorias de fãs sobre o destino de Hopper (David Harbour), nesta temporada infinitamente mais interessantes que a realidade. 

O núcleo encabeçado por Eleven (Millie Bobby Brown), conseguiu da função à necessidade de sempre isolar a garota. Desde o segundo ano a produção precisa de desculpas para tirar a garota poderosa de cena, para que a personagem não resolva os problemas rápido demais. Já Will, Mike, Jonathan e Argyle (Finn Wolfhard, Charlie Heaton e Eduardo Franco) servem apenas de suporte para contar a história da garota e do 001 (Jamie Campbell Bower). Deste núcleo, além de Eleven, apenas Will (Noah Schnapp), tem algum desenvolvimento individual ainda que com arco a ser encerrado em episódios futuros. 


Em Hawakings por sua vez, continuamos a explorar as boas relações e dinâmicas estre personagens. Joe Keery e Sadie Sink, entregam as melhores atuações da temporada. Ele mostrando como Steve amadureceu ao longo dos anos. Enquanto ela transparece todo o medo, culpa e vontade de viver de Max. Já a participação de Amybeth McNulty, alardeada pelo marketing como novo membro da trupe, é apenas uma ponta de luxo.

O novato Eddie (Joseph Quinn), também chama atenção ao esbanjar carisma. Embora sua morte supostamente heróica, se colocada na ponta do lápis, era desnecessária. Sua função no complexo plano poderia ser executada por uma caixa de som. Ok, sua performance engrandece e dá a trilha sonora perfeita para cena, por isso aceitamos. Mas ele não precisava voltar para o sacrifício, cuja motivação é apresentada muito tardiamente e por isso mal explorada. É apenas nesses episódios finais que descobrimos que o jovem sente culpa por ter fugido após a morte da líder de torcida. Seu desfecho confirma uma prática já observada pelos fãs, a de trazer personagens novos carismáticos para morrer, assim conferindo peso às consequências da temporada, mas sem precisar sacrificar o elenco principal. 


Outra necessidade que os criadores precisaram suprir veio através da divisão em duas partes da temporada. Ao contrário do que muitos pensam não se tratou apenas de um teste, ou jogada de marketing da Netflix para aumentar o "hype" da série. Ainda que tenha tido este efeito, a divisão foi realmente para conseguir finalizar estes episódios, mais longos e com muitos efeitos especiais. O que pode ser notado na qualidade vista em tela.

Mais próximo do cinema e da TV, estes episódios, especialmente o nono, trazem uma qualidade visual admirável. A fotografia e coloração cria atmosferas diferentes para cada "frente de combate". E a edição consegue equilibrar a tensão e urgência nestes diferentes núcleos. Explosões, tiroteios, monstros em chamas, lutas de espadas (de onde veio aquela espada? Pouco importa, é irado!), lutas corporais, terror, tem de tudo no clímax. 

A longa duração, por sua vez, é questionável, já que fade-outs, indicam os momentos em que a narrativa podia ser dividida. Na verdade são cerca de quatro ou cinco episódios transformados em dois filmes. Mas é Netflix, assistimos tudo em maratona. Logo, tanto faz a forma como disponibilizarem. 

Há no entanto, dois pontos fracos gritantes. O primeiro é o porquê do Vecna escolher este momento para atacar? Faz oito meses que seu último capanga fracassou, o que motivou o vilão a caçar jovens apenas agora? Talvez essa resposta venha no futuro.

O outro ponto fraco é seu longo final pós batalha. Cheio de encontros e explicações o desfecho da temporada se alonga demais, perde em impacto e até gera um certo cansaço. É como se os criadores não tivessem certeza de um quinto ano (que já foi confirmado), e precisassem se despedir apropriadamente.  


Pontos fracos à parte, os Duffer se mostram capazes de aprender com os erros. O quarto ano de Stranger Things, é sim o melhor desde a temporada de estreia. Trabalha bem seus muitos personagens, e núcleos. Cria o vilão mais ameaçador e complexo de toda a série. Mantém todas as referências e nostalgia oitentista características da série. Além de uma qualidade técnica impecável. Entregando uma aventura empolgante e divertida, que faz jus ao fenômeno que é, satisfazendo a expectativa criada em torno dela.

A quarta temporada de Stranger Things, tem nove episódios com mais de uma hora de duração cada (o nono tem 2h30). Todos já estão disponíveis na Netflix. 

Leia a crítica da primeira parte da 4ª temporada!

Leia mais sobre Stranger Things, tem curiosidades e críticas de todas as temporadas aqui no blog. 

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