Um intervalo de quase três anos e uma campanha promocional pesada da Netflix, criaram uma expectativa absurda para a quarta temporada de Stranger Things. Ansiedade que não condiz com o ritmo que a narrativa decide abraçar, especialmente em seus primeiros episódios. Tão pouco com a forma de lançamento escolhida pela plataforma de streaming.
Divido em duas partes, o quarto ano teve apenas sete de seus nove episódios liberados (o restante chegara em 1 de Julho). Logo, esta é sim uma análise parcial da temporada. Em contra partida, todos os capítulos tem mais de uma hora de duração, o que lhes confere maior tempo de desenvolvimento. E até, algumas redundâncias e momentos arrastados.
É no primeiro episódio que sentimos mais o peso da longa duração, enquanto a série usa bastante tempo não apenas para situar os personagens conhecidos, mas para apresentar uma grande quantidade de novos. Enquanto nós, influenciados pela divulgação, e pela espera de três anos apenas queremos que a história deslanche. O que acontece lá pelo terceiro episódio.
Novamente, a aventura está separada em pequenos núcleos, divididos tanto por sua localização geográfica, como por objetivos distintos. Grupos que exploram a boa dinâmica entre os vários personagens, provavelmente o ponto mais forte da narrativa. Tanto quando revive as boas relações que já adoramos, como a amizade entre Dustin e Steve, quando quando cria novas, como a interação entre Nancy e Robin.
Começando meses após os eventos do terceiro ano, Joyce, Will Jonathan e Eleven (Winona Ryder, Noah Schnapp, Charlie Heaton e Millie Bobby Brown ) ainda tem dificuldades para se ajustar a nova vida na Califórnia. Enquanto em Hawkings, novos acontecimentos estranhos abalam a cidade e seus moradores. Estes núcleos ainda se dividem em subgrupos menores, com missões completamente distintas, que pela primeira vez não parecem caminhar culminar em um objetivo comum em seu desfecho. Fazendo com que alguns grupos soem menos empolgantes, de acordo com a preferência do espectador.
Particularmente, acredito que o núcleo dos adultos seja o mais prejudicado, com uma jornada que destoa muito do restante da série. E que apesar de construída desde a temporada anterior, conta com muitas escolhas preguiçosas e batidas. Após três anos de teorias sobre o destino de Hopper (David Harbour), as escolhas da série parecem simplistas e pouco criativas. Outro núcleo que soa mais fraco é o formado por Mike, Will e Johnathan. Que pouco evolui, embora traga boas sequencias de ação, como a que se passa na casa dos Byers.
Desta vez, a ameaça que acomete a cidade ataca adolescentes através de seus piores pesadelos. A inspiração em A Hora do Pesadelo é clara, o que nos leva à outras característica marcante da série, a nostalgia. As referências a cultura pop, e aos anos 1980 como um todo estão de volta. Desta vez de forma menos gratuita, e mais integrada à narrativa que no ano anterior. O diferencial da vez, no entanto é a auto referência. Com três anos de história na bagagem, a série usa como referência nostálgica seu próprio desenvolvimento, reforçando o crescimento dos personagens.
E por falar em desenvolvimento de personagens, com tanta gente em tela, é natural que o roteiro escolha alguns para focar mais atenção. Além de Eleven, é Max quem ganha maior atenção desta vez. Traumatizada pela morte de Billy, a adolescente precisa enfrentar a culpa de sobrevivente. Enfrentamento que é encarado pela série literal e figurativamente, com uma atuação acertada de Sink, culminando no excelente episódio quatro, "Dear Billy". O melhor da temporada até então.
Outra que chama atenção pela boa atuação é Maya Hawke. Completamente integrada ao grupo, Robin tem as falas mais enérgicas e dinâmicas do grupo, além de uma personalidade pela qual é impossível não torcer. Enquanto restante do elenco entrega trabalhos à altura do que lhes é pedido, sem desapontar. A decepção fica para os fãs de Anne with an E, já que a alardeada inclusão de sua protagonista Amybeth McNulty no elenco, não passa de uma ponta de luxo.
O monstro da vez é outro que tem desenvolvimento interessante, trazendo pela primeira vez uma jornada própria complexa. E é o mais assustador até então, principalmente pela forma como ataca. Talvez porque seus intérpretes estão mais velhos, a série tenha sentido maior liberdade para usar o terror, que ainda não é suficiente para mudar a proposta juvenil da série, mas certamente causa mais arrepios que nos anos anteriores.
Tecnicamente a produção não decepciona. Seja na qualidade da reconstrução de época, já característica da série, nos efeitos especiais, que equilibra bem o uso efeitos práticos e CGI. Ou na forma como a fotografia conta a história, com câmeras criativas, transições que fazem paralelos entre os núcleos, e claro, com referências à outras obras do gênero. E novamente, a trilha sonora traz bons temas da época, que vão entrar na playlist de muita gente.
Estão entre os pontos fracos da séries a já mencionada evolução um pouco mais lenta especialmente em sua introdução, que pode soar arrastada para muitos. Núcleos que não geram o mesmo interesse no público, fazendo com que torçamos logo, para que a história retorne para determinado grupo. E alguns furos de roteiro que podem ou não ser explicados nos episódios finais. (Porquê o monstro resolveu atacar neste momento? Como a Eleven agora fala tão bem nos episódios de flashback, se na primeira temporada o vocabulário era bem limitado?). Nada que não seja relevável, diante dos muitos pontos positivos.
Os dois episódios finais desta temporada chegarão à plataforma em 1 de Julho de 2022. Os sete primeiros episódios já estão na Netflix, cada um com mais de uma hora de duração.
Leia mais sobre Stranger Things, tem curiosidades e críticas de todas as temporadas aqui no blog.
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