Ms. Marvel - 1ª temporada

Após a apoteose de Vingadores: Ultimato, a Marvel está renovando, diversificando (e também rejuvenescendo) seu panteão de heróis nas telas. Ms. Marvel é o exemplo perfeito desta nova fase. A jovem americana, mulçumana de origem paquistanesa, ganhou sua história de origem em uma série desenhada para conversar com o público mais jovem, mas que não escapa de um ou outro equívoco. 

Kamala Khan (Iman Vellani) é uma adolescente de dezesseis anos fascinada por super-heróis, especialmente a Capitã Marvel. Cidadã de duas culturas, a garota que já tem de dificuldade de se encaixar vê sua vida mudar completamente, quando um artefato familiar lhe concede super poderes. A jovem agora precisa não apenas encontrar seu lugar no mundo como todo adolescente, mas também entender suas origens (culturais e heroicas) e lidar com a atenção que suas novas habilidades geram em prováveis antagonistas. 

A série começa bem equilibrando os temas adolescentes, com a típica história de origem de uma heroína. Aproveitando a jovialidade de sua protagonista, para abusar de uma linguagem ágil, dinâmica e cheia de grafismos e referências que conferem personalidade à produção. Toda a criatividade, pensamentos e até inseguranças da protagonista, saltam na tela e expressam bem a forma como a jovem vê o mundo.

Kamala usa o universo de heróis e fantasia como válvula de escape para a complicada fase de busca da identidade, tão comum na adolescência e agravada pelo fato da personagem pertencer à duas culturas tão diferentes. Se identificando com ambas, mas não se sentindo completamente pertencente à nenhuma delas, ela personifica bem o sentimento de muitos descendentes de imigrantes ao redor do mundo. 

E por falar em imigrantes, a série não tem receio de criticar a forma como os Estados Unidos, tratam estes indivíduos e sua cultura. Bem como estas comunidades resistem a agressividade, e preservam sua cultura ao mesmo tempo que se adaptam ao seu novo país apoiando em si mesma, através da colaboração entre seus membros. O contraste entre a forma como os membros da mesquita acolhem Bruno (Matt Lintz), e a falta de respeito que a agente Denver (Alysia Reiner) desrespeita esta comunidade, fala muito sobre como a sociedade intolerante enxerga estas comunidades, e como elas realmente são.

Com tanta riqueza cultural em torno da protagonista, com sua história de origem a ser contada, e com o fato de o artefato que lhe concede poderes ser uma relíquia familiar, não é surpresa que o roteiro sinta a necessidade de explorar mais suas raízes paquistanesas. Entretanto, a forma como a produção escolhe fazer isso, é o que enfraquece a série. Os episódios quatro e cinco, que levam a jovem para o Paquistão, destoam demais em forma e estilo do que havia sido apresentado até então.


Não entenda errado, tudo bem a série mudar de tom e formato para servir melhor à história. WandaVision é prova disso. Mas aqui, saem os grafismos e a montagem dinâmica, e entram histórias mal explicadas e soluções fáceis. Toda a história da origem do bracelete, e especialmente o impacto da Partição na vida da família de Kamala são extremamente interessantes, mas o roteiro gasta dois episódios inteiros, e não consegue apresentar todos os elementos satisfatoriamente. 

Os Adagas Vermelhas, a dimensão Noor, e a jornada de vilania do Clã Destino são jogados em cena sem grandes explicações. E descartada com a mesma falta de substância com que é apresentada. Fazendo com que toda jornada no Paquistão soe como um desvio equivocado que não faz parte da série original.

Ao mesmo tempo, quando finalmente o programa retorna ao seu formato inicia, já está no episódio final e tudo precisa ser resolvido às pressas. Os poderes de Kamran (Rish Shah), a aceitação dos poderes pela família de Kamala, a mudança de atitude da colega de escola que fazia bullying, o apoio da comunidade, tudo isso é resolvido à toque de caixa, ainda que de forma bastante dinâmica e divertida. Tudo podia ser melhor trabalhado e explorado, se houvesse mais tempo. 

Apesar do escorregão em dois episódios, Ms. Marvel ainda diverte e cumpre bem seu principal objetivo, apresentar Ms. Marvel. Graças em grande parte à sua interprete. Extremamente carismática Iman Vellani nasceu para dar vida à personagem. Sua Kamala é inteligente, genuína e honesta em relação à forma como uma adolescente com suas características agiria. O restante do elenco acompanha o bom trabalho, mas o destaque é mesmo da protagonista. 

Direção de arte e figurinos são outros destaques da produção. Dos criativos grafismos, passando pela recriação da Partição, pelos cosplays da VingaCon, até o uniforme oficial da personagem, tudo é muito vívido e bem construído. Assim como os efeitos especiais, que dão conta de tornar críveis os poderes da jovem, que são um pouco diferentes dos apresentados nos quadrinhos. Características que conferem personalidade própria a produção. 

A série Ms. Marvel é jovem, criativa e dinâmica. O roteiro não é impecável, mas o saldo é positivo, especialmente se considerarmos seu principal propósito, apresentar a heroína. Kamala Khan é o que a série tem de melhor a oferecer. Carismática, complexa e interessante, a personagem é uma adição e tanto ao panteão do MCU e mal posso esperar para acompanhar suas aventuras futuras.

Kamala deve retornar em The Marvels. Segundo longa da Capitã Marvel, previsto para 2023, que também deve trazer de volta America Chaves e Mônica Rambeau.

Ms. Marvel tem seis episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis no Disney+. O primeiro e o ultimo episódios tem cenas pós créditos. 

Leia mais sobre o MCU!

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem