A Netflix não deixou o final de AnnE with an E em aberto!

Foi a recente visita do Papa Francisco ao Canadá para reforçar o pedido de desculpas às nações indígenas canadenses que me fez refletir: talvez o final de AnnE with an E, não esteja tão em aberto quanto pensamos. Calma, eu explico!

AnnE with an E é uma série produzida pelo canal canadense CBC, com distribuição mundial feita pela Netflix. É uma adaptação do romance Anne of Green Gables, de 1908 da canadense L. M. Montgomery, que escreveu sobre toda a vida de sua protagonista, a orfã Anne Shirley (Amybeth McNulty). Pouco antes da estreia da terceira temporada, esta foi anunciada como a última por seus criadores. Desde então os fãs protestam por uma renovação, e desfechos mais definitivos para os personagens. 

É claro, eu faço parte do time que queria continuar acompanhando a ruivinha otimista e falante por toda sua vida, mas se deixarmos o lado fã de lado podemos afirmar que ao menos o arco da protagonista fora sim bem encerrado. Sua adaptação naquela comunidade, a vida em Green Gables, o mistério de seu passado e até o romance foram resolvidos à tempo da ida da moça para a faculdade. 

O mesmo vale para os arcos de personagens menores, como de Bash (Dalmar Abuzeid), que se encaminha para encontrar uma nova vida ao lado da professora Srta. Stacy (Joanna Douglas). Ou ainda de Diana (Dalila Bela) que convence os pais deixa-la estudar. O momento é oportuno para deixarmos Avonlea. Anny e companhia também vão deixar o povoado, vão para faculdade, é o fim de um ciclo, da infância em Green Gables.

Mas e a história de Ka’kwet?

É a trama de Ka’kwet (Kiawenti:io Tarbell) a única que realmente permanece em aberto, com a garota ainda sob a tutela dos internatos católicos. E seus pais em vigilância constante, tentando seus resgate incansavelmente. Pois é aqui, que a visita do Papa que mencionei no início deste texto começa a fazer sentido.

E se eu te dissesse, que este é o final de  Ka’kwet? Que a menina nunca conseguiu fugiu ou ser resgatada do internato. Sofrendo os abusos até a idade adulta, ou encarando um destino ainda pior? Eu sei, é um final horrível de se imaginar, e não combina em nada com o tom otimista da série. Entretanto, condiz e muito com a real história dos indígenas canadenses. 

As escolas residenciais cuja missão era a "integração" das crianças indígenas à cultura branca, funcionaram de 1840 até a década de 1990. Eram subsidiados pelo estado, e administrados pela igreja católica.  Estima-se que neste período cerca de 150 mil crianças foram afastadas de suas famílias e culturas à força. Outras seis mil acabaram morrendo, e quem sobreviveu carregou as marcas dos abusos durante toda a vida. Histórias que começaram a vir a luz apenas nas últimas décadas, e ainda carecem de muitos esclarecimentos e reparações. 


Obviamente, conhecido o teor da série de TV, eu não acredito que os planos dos criadores para a história de Ka’kwet fosse tão cruel ou realista. Mas também consigo enxergar que o material entregue até o fim da série pode sim funcionar como um desfecho, e também como uma crítica. A série colocou estas histórias sob os holofotes, e seus incômodo desfecho em aberto, é apenas uma amostra da incerteza e crueldade a que estes povos foram submetidos. 

É claro, este exto é apenas uma reflexão, não uma resposta definitiva. E eu adoraria conhecer o desfecho originalmente planejado para a personagem. Mas, diante do conhecimento desta obscura história dos nativos canadenses, e  a recente discussão gerada pela visita do pontífice, não pude evitar pensar. Talvez o desfecho "em aberto" de AnnE with an E não seja tão aberto assim. Proposital ou não, é uma oportunidade de divulgar esta história, e quem sabe ajudar a buscar justiça para estas vítimas. 

Gosta de Anne with an E? Aqui no blog tem crítica de todas a temporadas. Confira também 12 vezes que AnnE esteve à frente de seu tempo!

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