Spiderhead

Ao contrário do que muitos pensam, apenas ter uma boa ideia não é suficiente para obter êxito. É preciso saber como desenvolvê-la. No caso de um filme, explorar suas possibilidades, questionamentos, metáforas, relação com a sociedade, transformam uma boa ideia em uma boa obra. Spiderhead parte de uma destas boas ideias, o elogiado conto Escape from Spiderhead de George Saunders, mas seu roteiro e direção não conseguem decidir para onde ir, a partir dali.

Condenados por crimes tem a opção de se voluntariar como cobaias de experimentos científicos em troca de viver em uma presídio com mais conforto, o tal Spiderhead do título. Quando o organizador dos experimentos Abnesti (Chris Hemsworth), inclui a cobaia Jeff (Miles Teller) no processo de decisão de administração de drogas que alteram os sentimentos, o rapaz começa a questionar os limites da experiência. 

Os limites éticos da ciência, este é o tema mais direto que Spiderhead tenta explorar. Mas a história, também traz margens para críticas ao sistema carcerário, a discussões como desumanização e rebaixamento de pessoas a meras cobaias, o uso abusivo de entorpecentes, a necessidade exagerada de controlar as emoções, a impessoalidade necessária à experimentação científica, o luto, aceitação de seus erros e suas consequências, e o livre arbítrio. Apesar de todos estes temas estarem latentes no argumento inicial da produção, o roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick, parece não querer ou não saber como discuti-los. Optando por uma jornada de mistério rasa, que culmina em uma cena de ação que não condiz com o escopo do filme. 

Spiderhead se passa em um ambiente restrito, com um elenco limitado, e poderia utilizar estas características para contar uma história mais intimista, mas que dialoga diretamente com a sociedade. Como acontece em obras como Ex-MachinaO Poço ou Cubo. Mas deixa todo este conteúdo de lado, e segue escolhas óbvias para  tentar chocar a audiência em algumas cenas, e principalmente garantir a grandiosa sequencia de ação em seu desfecho. Logo, não se surpreenda se você desvendar o mistério, ou mesmo adivinhar o final do filme muito antes dos personagens. Isso acontece porque os caminhos que roteiro segue são bem óbvios. 

O elenco, que ainda traz Jurnee Smollett entrega o que pode dentro do material que lhes é oferecido. Enquanto Hemsworth esconde a frieza calculista de Abnesti com seu carisma e atitude amigável. Aqueles que interpretam cobaias oscilam de forma eficiente de acordo com os efeitos de cada droga, e no caso de Smollett e Teller, também pelos próprios anseios e culpas. 

A direção de Joseph Kosinski é bem executada em forma e estilo, mas não confere significado à maneira como constrói as cenas. É tudo muito bonito e agradável de se ver, mas nada é agregado ao conteúdo através da fotografia, edição, direção de arte. 

Uma produção original Netflix Spiderhead é uma excelente ideia, mal desenvolvida. O potencial desperdiçado é cada vez mais gritante conforme a história se desenrola, ignorando discussões e possibilidades. Deixando o espectador com a sensação de que a produção poderia ser muito mais. Uma pena!

Spiderhead
2022 - EUA - 106min
Drama, Ação, Ficção científica

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