Tico e Teco: Defensores da Lei

Foi-se o tempo em que longas que misturavam animação e live-action de forma realista eram casos pontuais, que ocorriam conforme a tecnologia evoluía, como Mary Poppins e Uma Cilada Para Roger Rabbit. Hoje em dia, trazer personagens animados para dividir as telas com atores de carne e osso, não apenas é comum, mas um nicho bastante explorado na tela grande. Especialmente se este personagem já tiver um público cativo conquistado em obras anteriores, e muitas referencias agregadas, sejam eles de animações, quadrinhos, ou mesmo, videogames. 

É nesse contexto, povoado por Sonic, Pikachu e  até outros esquilos, que Tico e Teco fazem sua estreia na categoria. Muito cientes tanto do contexto em que chegam, quanto de seu público alvo, que além de crianças obviamente, inclui adultos que assistiam a série de TV de 1989.

Tico e Teco (vozes de John Mulaney e Andy Samberg) eram os protagonistas da série de sucesso Tico e Teco: Defensores da Lei, no final dos anos 80, início dos 90 (que existiu de verdade e está disponível no Disney+). Mas uma desavença entre os dois, separou a dupla e fez o programa cair no esquecimento. Quando o antigo colega de elenco Monterey Jack (Eric Bana) desaparece, a dupla se vê obrigada a trabalhar juntos novamente para resgatar o velho amigo. 

Melhores amigos que se distanciaram por um motivo bobo, e serão reaproximados por um objetivo em comum, e no processo redescobrirão sua amizade. Sim, você já viu este filme, e provavelmente conhece as viradas e caminhos que o roteiro de Tico e Teco: Defensores da Lei vai seguir de forma bastante linear e com roteiro bem amarado. É a construção de mundo, e o bom uso das características dos personagens, que transforma este filme do Disney+, em uma das melhores obras do tipo. 


Assim como em Uma Cilada Para Roger Rabbit, no mundo em que esta aventura se passa, os personagens animados convivem normalmente com humanos de carne e osso. A produção abraça o termo "personagens animados" em sua totalidade, trazendo diferentes tipos de animação, que vão do simples marionete de meia (sim, fantoches são personagens animados!), passando pela animação tradicional, stop-motion, até a os mais modernos personagens em computação gráfica. Tudo "junto e misturado" de forma coerente, orgânica, bem executada, com função na trama principal e até trazendo referências à história da animação, como na excelente sequencia do vale da estranheza. 

A transformação apenas de Teco em personagem computadorizado, inclusive, vai além da mera piada tecnológica, ou cumprimento da moda atual. A mudança combina com a personalidade do esquilo, faz uma leve crítica ao abuso de procedimentos estéticos, explica um elemento que faz parte da trama dos personagens desaparecidos, e oferece diferentes opções para o público. A molecada acostumada com animação 3D não vai estranhar, enquanto os saudosistas ainda terão Tico como referência de animação tradicional. 

E por falar em referências, o cinema não via tantos personagens de empresas diferentes juntos desde o já citado Uma Cilada Para Roger Rabbit. O coelho branco, aliás é uma das muitas participações especiais do filme, que apesar de ser um parque de diversões para os nerds, não cai na cilada comum de ficar se explicando o tempo todo. As referências e participações estão lá, algumas com maior função na trama, outras no estilo "piscou-perdeu". Sem grandes pausas para aponta-las ou explica-las. Quem entendeu, entendeu, que não pescou, fica por isso mesmo!

Ciente do seu público de idades variadas, o roteiro traz tanto piadas mais infantis, quanto um humor para aqueles com mais bagagem. E até situações que serão reinterpretadas nesta revisita aos personagens, como a dependência de Monterey por queijo, que ganha um sentido muito diferente agora que somos adultos. 

Outro fator surpreendente é a abertura da Disney, não apenas para participações grandes de outros estúdios, mas para brincar com suas próprias obras. Liberdades que vão desde mostrar Tico e Teco como adultos com problemas cujas personalidades distintas e adoradas criam conflitos, passando pelo casamento interespécies, até a total desconstrução de um de seus personagens clássicos. 

Apesar de se passar em um mundo compartilhado, os humanos não tem muito espaço aqui. Afinal, quem ligaria para eles, em meio a tantas animações adoradas? A representação fica por contada da policial vivida por KiKi Layne. Os demais nomes de destaque do elenco, dão vozes à outros personagens animados. Estão na lista, além Mulaney, Samberg e Bana, nomes como Will Arnett, Keegan-Michael Key, Tim Robinson, Seth Rogen e J.K. Simmons.

Lançado diretamente no Disney+Tico e Teco: Defensores da Lei merecia algumas sessões no cinema, para exaltar a qualidade técnica, e facilitar a busca pelos muitos easter-eggs. Ousado, inteligente, nostálgico e muito divertido a aventura estrelada pela dupla de esquilos, é sem duvida um dos melhores exemplares da nova onda de trazer personagens animados para o mundo live-action. 

Tico e Teco: Defensores da Lei (Chip 'n Dale: Rescue Rangers)
2022 - EUA - 97min
Aventura, Animação

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