Em algum momento em minha crítica sobre Os Últimos Jedi, mencionei que universo é infinito e está em constante expansão. Entretanto, a expansão surpreende, assusta, divide e espanta que não estava aberto à novas experiências. Foi o que aconteceu com o episódio XIII de Star Wars, mas divisão não é bom para os negócios. E a Disney ainda é uma empresa que visa o lucro, então a casa do Mickey resolveu não apenas frear a expansão, mas retroceder alguns anos luz. O resultado não é necessariamente ruim, mas também não é condizente com a força da franquia, e a coragem que ela própria prega.
A Resistência ainda tem esperança, mas poucos recursos e membros, que se provam ainda mais insuficientes quando o Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) retorna com um plano de ataque gigantesco. A correria é para alcançar o Sith antes que ele dê sua cartada final. Enquanto isso Rey (Daisy Ridley) continua seu treinamento, mas tem conflitos com seu passado e uma conexão misteriosa com Kylo Ren (Adam Driver), que também está tentando lidar com a dualidade da força.
A aventura segue por aí, finalmente colocando o trio de protagonistas Rey, Finn (John Boyega) e Poe Dameron (Oscar Isaac) em uma aventura juntos e apostando na acertada dinâmica do trio. Um uma missão que os leva para diferentes planetas, embates e fugas, que eventualmente vão culminar nas tradicionais batalhas espaciais e de sabre de luz. Até aí nada diferente do esperado na franquia. O problema é que para fazer isso, o roteiro decidiu ignorar ou reverter muitas das controversas, porém criativas, escolhas do filme anterior, e até algumas da trilogias anteriores. O retorno de Palpatine, por exemplo, enfraquece o ato de redenção de Darth Vader em o Retorno de Jedi.
Assim, conceitos já esclarecidos como a origem de Rey e a opinião de Luke quanto o legado Jedi, são re-explicados. Informações novas são jogadas sem muita preparação ou explicação - onde estava Palpatine esse tempo todo? Como conseguiu voltar? Se tinha todos esses recursos Sith porque levou três trilogias inteiras para usar? - Personagens são descartados, outros inserido à toque de caixa para ocupar seus lugares. As únicas alterações compreensíveis, são aquelas feitas claramente para contornar a morte precoce de Carrie Fisher, antes das filmagens desta produção.
O caso mais grave é o de Rose (Kelly Marie Tran). Alvo de ataques xenofóbicos no longa anterior, a participação da personagem foi reduzida, premiando o mau comportamento dos "fãs", e consequentemente punindo a atriz. Em seu lugar Naomi Ackie, uma atriz negra foi selecionada para dar vida a Jannah, que tem cenas importantes com Finn e Lando (aparentemente pessoas negras só podem se relacionar com outras pessoas negras). Keri Russell completa o pacote, para evitar insinuações quanto à sexualidade dos personagens (lembra que uma galera "shippava" Finn e Poe?). Enquanto o primeiro beijo gay da franquia acontece em segundo plano, com personagens anônimos. A tentativa descabida e inútil de agradar à todos é inegável.
A falta de planejamento da trilogia também é visível. Não havia um arco definido para o trio de protagonistas, ou o antagonista Kylo. O que permitiu, para o bem ou para o mal, que Rian Johnson, subvertesse expectativas no episódio VIII. E que também J.J. Abrams, ignorasse grande parte dos acontecimentos para levar a produção de volta ao status remake/rebbot, que funcionou bem em O Despertar da Força, mas aqui soa repetitivo e pouco memorável. Ao mesmo tempo que tenta chocar, sem de fato abraçar as consequências de seus eventos. São várias as vezes em que o roteiro insinua matar algum personagens, apenas para trazê-lo de volta duas cenas mais tarde.
Mas o filme é ruim por causa disso? Não necessariamente. É incoerente com o anterior e pouco corajoso, mas eficiente em utilizar entregar o que sabe que o expectador gosta, mesmo que falte originalidade. Então, não se culpe, ou surpreenda, por se descobrir interessado e empolgado em boa parte da sessão, a produção é divertida. O trio principal, tem uma excelente dinâmica e conduz bem a história, a despedida de Fisher é emocionante, os droides são divertidos, o fan-service está lá, o universo e batalhas são os mesmos que adoramos desde os anos 1970. Você provavelmente vai se divertir.
O elenco extremamente carismático, esforçado e funciona muito bem junto é provavelmente por causa do quarteto principal que seguimos bem a jornada. Com destaque para Driver e Ridley, que conseguem passar intensidade e verdade respectivamente, mesmo em momentos mais clichés e piegas. Billy Dee Williams, o Lando Calrissian, soa empolgado demais para quem está em meio à uma guerra.
Tecnicamente é impecável. Bem produzido e fotografado, com criativo design de criaturas e planetas, que misturam bem efeitos práticos e em computação gráfica. Além de trazer participações especiais, e referências bem colocadas dos filmes e animações anteriores, menos do episódio VIII. Nem tudo fora descartado, e os fãs mais atentos terão boas surpresas.
A Ascensão Skywalker, nono e derradeiro episódio da saga Skywalker segue a fórmula que a própria franquia criou. Escolhendo o caminho previsível e seguro, e consequentemente, pouco quando tinha um universo de possibilidades para explorar. Eliminando e recontando ideias no processo. Não sei se podemos reclamar de um produto de mercado, por agir pela lógica de mercado.
Podemos fazer muitos estudos de caso sobre isso (que venham as monografias!). Podemos discutir e lamentar o potencial desperdiçado (sem exageros, não é o fim do mundo!). Podemos até do divertir, afinal é uma aventura milimetricamente pensada para isso. Mas, principalmente, podemos repensar nossas expectativas como público.
Será mesmo que a audiência de cultura pop é como uma criança birrenta, que se recusa a experimentar algo novo? A indústria não funciona como "bons pais" que vão insistir para que o público amplie seus horizontes, explore possibilidades. Então talvez sejamos nós, que tenhamos que mostrar que estamos abertos a um universo é infinito, criativo e em constante expansão. Afinal, a saga dos Skywalker pode ter acabado, mas não acho que a Disney deixará a Força descansar tão cedo.
Star Wars - A Ascensão Skywalker (Star Wars: The Rise of Skywalker)
2019 - EUA - 142min
Fantasia/Ficção Cientifica/Aventura
Tem um montão de textos sobre Star Wars aqui no blog, para facilitar deixo aqui os links das críticas de O Despertar da Força, e Os Últimos Jedi.
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