His Dark Materials - 1ª temporada

Um universo fantástico, disputas de poder, crianças em perigo, seres mágicos, entidades misticas, personagens complexos e nenhum problema em cometer atos terríveis e eliminar personagens. Não, não estou falando de Game of Thrones, mas da mais recente aposta da HBO no gênero fantasia. His Dark Materials - Fronteiras do Universo, adapta para as telas o universo criado por philip Pullman.

Lyra Belacqua (Dafne Keen) é uma menina levada que vive na Universidade Jordan em Oxford entre brincadeiras nos telhados, e guerras com os meninos gypsios. Quando crianças de várias cidades começam a desaparecer, incluindo seu amigo Roger, Lyra aceita o convite de trabalho como assistente da elegante Sra. Coutler. (Ruth Wilson) Assim poderia descobrir mais sobre os Globbers (Lewin Lloyd) (Papões em português, os supostos raptores). Além de tentar chegar ao Norte (para onde teriam sido levadas as crianças), e onde seu tio Lorde Asriel (James McAvoy) pode precisar de sua ajuda e de seu artefato mistico, o aletiometro, em sua pesquisa proibida pelo Magistério.

Tudo isso em um mundo muito parecido com o nosso, mas com duas diferenças cruciais. Todo o planeta é regido por um regime teocrático totalitário, o Magistério. E todo os seres humanos possuem em daemon, a alma fora do corpo, personificada como um animal.

A Bússola de Ouro, filme de 2007, foi a primeira adaptação do complexo universo e Pullman para as telas. Mas o filme, entre outros problemas, tinha pouco tempo para explorar os detalhes e simbolismos da aventura protagonizada por Lyra. Logo, uma série de TV se mostra um formato mais apropriado para contar esta história, que discute autoridade, ciência, fé, religião, filosofia, auto-descoberta, companheirismo, paternidade, maternidade, realidades paralelas entre outros temas atuais. 

O roteiro de Jack Thorne, começa bem ao iniciar a jornada com um ritmo dinâmico, mas sem pressa para apresentar conceitos como os Daemos, a universidade, o magistério. Entretanto, quando a jornada de fato começa, tem problemas para equilibrar ação e pausas. A falta de ritmo gritante em uma história que apresenta vários personagens e conceitos ao longo da narrativa. Assim, temos construções que soam longa de mais, e resoluções que parecem corridas.

Um bom exemplo é a comparação entre os episódios Armour e The Daemon-Cages, respectivamente o quarto e sextos da saga. Enquanto o primeiro, usa praticamente todo seu tempo apenas para apresentar adequadamente o urso Iorek Byrnison (Joe Tandberg), e o aerostata Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda), o segundo precisa apresentar a instalação de Bolvangar, suas atividades, o envolvimento da Sra. Coutler., além de mobilizar as crianças e dar conta da batalha propriamente dita. O resultado é que um dos momentos de virada não apenas é pouco explorado, mas resolvido à toque de caixa.

Um ponto positivo do roteiro, e a forma como incorpora elementos de toda a saga, não apenas do volume inicial A Bússola de Ouro, como seria esperado. Além de adiantar conceitos e informações, a série acertadamente dá início à história do segundo volume A Faca Sutil, que traz outro protagonista a trama. Então, outra breve sinopse...

Will Parry (Amir Wilson) é um adolescente que vive em Oxford (a "nossa" Oxford). Protegendo a mãe com graves transtornos mentais, que acredita ser perseguida. Acontece que os temores da mãe se mostram não tão loucos assim, quando o garoto descobre estar sendo vigiado por pessoas interessadas no misterioso trabalho de seu pai, que desapareceu quando o garoto ainda era um bebe.

Adiantar a introdução do segundo livro, torna a futura convergência das narrativas mais coerente. E evita o sentimento de confusão (ué, que história é essa? Cadê a Lyra?), intrigante nas páginas, mas que pode não ser tão eficiente com o público televisivo. Mas vale mencionar, esta temporada é majoritariamente sobre a garota e seu mundo.

Outro acerto da produção é a construção de mundo, que consegue dar ao cotidiano de Lyra uma cara familiar e estranha, com traços steampunk integrado à elementos fantásticos. Os daemons e ursos de armadura, criados em computação gráfica tem uma aparência realista, mas que funciona bem com sua condição de "animais falantes". E no geral não destoam dos atores e cenários "de verdade".

E por falar nos atores, o elenco cheio de nomes conhecidos entrega bem o trabalho que lhes é destinado. Lin-Manuel Miranda é o melhor em cena, com uma versão mais carismática do piloto de balão texano Lee Scoresby. Ruth Wilson e James McAvoy combinam em intensidade, que em alguns momentos beira o animalesco, em referência ao seu lado animal/daemon. Dafne Keen também consegue ser intensa e eficiente, embora o roteiro pareça ainda não ter decidido como retratar Lyra completamente, apenas na cena em que "negocia" com Scoresby, a personagem parece apresentar todas as características de sua versão literária. Já Amir Wilson trabalha no detalhe e sutileza de um adolescente que carrega responsabilidades acima de sua idade.

Lucian Msamati, James Cosmo, Anne-Marie Duff, Ariyon Bakare e Lewin Lloyd, são outros com bastante tempo de tela. Entre eles, a Ma Costa de Duff surpreende ao compreender uma grande gama de emoções.

É no roteiro que estão as maiores falhas da primeira temporada de His Dark Materials. Os problemas de ritmo vão de encontro com a acertada escolha de adaptar a saga como um todo, ao invés de volumes separados, adiantando acontecimentos e informações. Questões que podem ser contornadas, ou relevadas, desde que corrigidas na já confirmada (e filmada) segunda temporada. O elenco talentoso, o universo bem construído, a produção caprichada e os bons temas que a trama discute, justificam essa "vista grossa" nos defeitos. Afinal, não é todo dia, que uma fantasia tão rica e complexa chega às telas. 

His Dark Materials é produzida pela BBC e distribuida pela HBO, tem oito episódios com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na HBO Go.

Aqui no blog tem vários textos sobre a saga Fronteiras do Universo. Leia as críticas dos livros
A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar, A Oxford de Lyra e o Livro vs Filme: A Bússola de Ouro.

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