Quando reencontramos os Robinson e companhia nesta segunda temporada de Perdidos no Espaço, a família está praticamente na mesma situação em que sua versão original (da série dos anos 1960) se mantinha. Em um planeta desconhecido, com um desafio para superar. A única diferença é a ausência do Robô, desaparecido em batalha no clímax da temporada anterior. Então a produção da Netflix surpreende, e escolhe seguir caminho próprio, deixando de lado o formato procedural - planeta/problema da semana - de seus antecessores.
Os cinco Robinson, Don e a Dra Smith, estão perdidos em um planeta estranho. Mas, a nave mãe Resolute e o restante da missão de colonização de que fazem parte ainda estão por perto. Se reunir com o grupo, encontrar o Robô, renuir recursos para seguir viagem, enfrentar uma civilização alienígena, lidar com os problemas da convivência em sociedade, e com as intrigas da Doutora, são os desafios destes dez episódios.
Após quase um ano juntos e por conta própria, a família é separada por suas tarefas e precisa obedecer a cadeia de comando da missão. Abrindo espaço para intrigas na missão, e para explorar os dilemas pessoas separadamente.
Penny (Mina Sundwall), por exemplo, se sente inferior aos irmãos, e cria uma relação complexa com a Dra. Smith (Parker Posey), que continua evoluindo sua personalidade ambígua, por causa de sua conexão com família. Will (Maxwell Jenkins) explora ainda mais sua relação com Robô (Brian Steele), com a interferência de terceiros e o agravante de que a criatura pode ser uma peça decisiva para o sucesso da missão. Maureen (Molly Parker) começa a lidar com as consequências de ter adulterado os exames do filho. Don (Ignacio Serricchio) precisa reencontrar seu lugar na nave, reconquistar seus amigos operários, sem abandonar os laços com sua família postiça;
Enquanto isso Judy (Taylor Russell) e John (Toby Stephens), tem seus laços de pai e filha reforçados. Provavelmente como preparação para aventuras futuras. Nesta temporada descobrimos as origens da moça, que é filha biológica de Maureen, e adotiva do patriarca. Personagens secundários como o cientista Ben Adler (JJ Feild), a capitã Kamal (Sakina Jaffrey) e a menina Samantha (Nevis Unipan), ganham mais espaço quando podem contribuir para a evolução da trama, mas apenas isso.
O apego aos Robinsons, Don e Smith são ao mesmo tempo o ponto forte e fraco da temporada. Se por um lado, já estamos apegados aos protagonistas, e acompanhamos de bom grado sua evolução. Por outro, em alguns momentos, é difícil crer que em uma tripulação com centenas de pessoas, eles são os únicos capazes de resolver, ou mesmo notar os problemas. A "ferrugem" alienígena que ameaça os equipamentos, é o exemplo mais gritante. Os demais colonos já circulavam pela região onde o elemento se encontra há meses, mas a "infecção" espera a família protagonista chegarem para "atacar".
O mesmo exagero vale para a capacidade de manipulação, e a sorte da Dra. Smith. A impostora, continua escapando das consequências de seus seus atos, mesmo com seis pessoas depondo contra, e em um ambiente movido a registros, protocolos e câmeras de segurança. Tudo com a irritantemente charmosa e debochada atuação de Posey, a melhor em cena. A boa notícia é que a série, abraça este exagero e o usa como elemento na narrativa. Tornando a doutora o elemento imprevisível, e família líderes naturais, e até uma ameaça à cadeia de comando em alguns momentos. Abrindo espaço para intrigas internas, e disputas de poder na Resolute.
Some-se isso, aos arcos dos personagens principais, o desenvolvimento de suas relações, e os problemas de um mundo alienígena, encontramos conteúdo bastante para preencher seus dez episódios. O roteiro é dinâmico, em eficiente em dividir atenção em diferentes núcleos. Além de trazer com diálogos inteligentes, e bem escritos, mesmo quando estão falando de "tecnologia fictícia", e elementos alienígenas. E, claro, termina com um gancho para o terceiro ano, ainda não confirmado pela Netflix.
O planeta da vez é menos variado, e a produção concentra grande parte da história na nave Resolute. Mas a produção consegue manter a sensação de vastidão de desconhecido do universo. E ainda inclui nos cenários elementos que expandem a mitologia espacial. Já a história humana, continua sendo enriquecida com os flashbacks que ajudam a compreender as ações escolhas dos personagens, embora Don pareça negligenciado neste aspecto. Não sabemos muito da vida do mecânico/piloto/contrabandista, antes desta viagem.
Reboot de uma série datada, Perdidos no Espaço atualizou seu argumento no primeiro ano. Agora em sua segunda temporada começa a criar mitologia própria e seguir seus próprios rumos. A jornada e arcos dos personagens avançam, sem grandes amarras ao original, a não ser pela importância da família e de fazer o melhor para todos. O resultado é uma ficção-cientifica aventuresca, empolgante que conversa bem com diferentes gerações.
Em outras palavras, é um raro programa para toda a família. De verdade, pode juntar a molecada e os adultos para uma maratona do seus sofá à Alpha Centauri. Não vai se arrepender.
Assim como a anterior, a segunda temporada de Perdidos no Espaço tem 10 episódios com cerca de uma hora cada. Todos disponíveis na Netflix.
Leia a crítica da primeira temporada, e estas Dicas para sua Maratona da série.
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