A Família Addams

Desde seu surgimento em cartoons para a revista The New Yorker em 1937, a Família Addams é uma inversão mórbida e bem humorada da tradicional família estadunidense. Consequentemente, cada nova adaptação reflete inversamente os valores e ideais de sua época. Característica que fica bastante clara no novo filme, uma animação que também deixa bem claro seu público alvo, as crianças.

Isolados, e protegidos, em seu castelo, os Addams estão às vésperas de um grande encontro de família. E como se a reunião não fosse trabalho o suficiente, eles tem sua rotina atrapalhada e estilo de vida contestado por uma cidade colorida e padronizada que cresce próxima à propriedade.

Este filme é também uma história de origem. Mostrando desde o casamento de Gomez (voz de Oscar Issac) e Mortícia (Charlize Theron), passando pela adição de Tropeço, escolha da casa, nascimento das crianças e principalmente, os motivos que os levam à escolher o isolamento. Apresentando este universo as novas gerações de forma simples.

O conflito (e lição) aqui é a convivência com respeito às diferenças, tanto por parte da família, quanto dos cidadãos. Estes últimos representados na figura da vilã Margaux Needler (Allison Janney), arquiteta e apresentadora de um programa de TV de reformas, é a representação da padronização forçada e do desprezo pelo diferente. Ao mesmo tempo, a curiosidade de Vandinha (Chloë Grace Moretz), quanto ao que há fora do "mundo dos Addams", vai forçar a família a encarar o mundo novamente.

Lições coerentes com as discussões atuais, passadas de forma bem simples. Em alguns momentos simples até demais, especialmente na resolução do conflito principal e no destino da vilã. Também seria interessante ver um pouco mais do estranhamento entre culturas nos momentos em que os Addams e os moradores da cidade se encontram. O tom mais ingênuo e descomplicado é eficiente com as crianças, e entediariam os adultos caso estes não estivessem entretidos com outras coisas.

Referências às versões anteriores das família e a outras produções macabras como It: A Coisa e A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, estão entre os atrativos para os crescidinhos. Na versão original, o elenco de vozes famosas também chama atenção, trazendo Bette Midler, Finn Wolfhard, Catherine O'Hara e Snoop Dogg, além dos nomes já citados. Já na versão dublada, é provável que apenas os adultos apreciem a boa trilha sonora, que traz canções originais (sem versão em português) e sucessos atuais, que dão ao filme um tom melancólico e mórbido porém, fofo. E caso esteja se perguntando, a tradicional canção tema também está de volta.

A animação caprichada recria os personagens aos moldes do criador Charles Addams, e aposta da discrepância de cores para ressaltar as diferenças entre os Addams (em tons escuros e cinzentos) e as pessoas comuns (exageradamente coloridas e vibrantes). O formato também possibilita a existência de mais criaturas difíceis de criar em versões live-action. De leões e polvos, passando por árvores e objetos, até o portão tudo tem vida, daquele jeitinho mórbido que tanto conhecemos.

Apostando em um "macabro fofo", A Família Addams pretende apresentar este universo para um novo público. Conquistar-los ainda bem pequenos sem entrar em conflito com o "politicamente correto", e sem deixar de lado a morbidez característica da família. Tarefa que cumprida com eficiência. A história poderia ter mais estofo, para agradar também os adultos, é verdade. Mas o passo inicial foi dado, Mortícia, Gomez, Vandinha, Feioso e companhia foram devidamente atualizados e apresentados para as novas gerações, com suas essências respeitadas. Oferecendo às sequencias (sim, já ha uma em produção) a oportunidade de expandir e explorar melhor este estranho universo. Os Addams vem aí, e pra ficar!

A Família Addams (The Addams Family)
2019 - EUA - 87min
Animação

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