It: Capítulo Dois

Vinte sete anos se passaram para os personagens de It: A Coisa, dois para nós espectadores. Apesar do espaço de tempo, It: Capítulo Dois, como o nome indica, é muito mais como a continuação de um mesmo filme, do que uma sequência da franquia. É muito provável que você, assim como a blogueira que vos escreve, saia da sessão com vontade de encarar uma maratona de mais de cinco horas de terror, reunindo as duas partes da produção baseada na obra de Stephen King.

Único membro do Clube dos Otários a permanecer em Derry, é Mike (Isaiah Mustafa) quem percebe o retorno de Pennywise (Bill Skarsgård), e convoca os amigos de volta a cidade para combater o palhaço dançarino. Apesar da promessa feita quase três décadas atrás, re-enfrentar os traumas de infância não vai ser nada fácil para Bill (James McAvoy), Beverly (Jessica Chastain), Ritchie (Bill Hader), Ben (Jack Ryan), Stanley (Andy Bean) e Eddie (James Ransone).

É na empatia construída na infância que acompanhamos no capítulo um desta história, que a produção aposta para manter o espectador interessado e aflito. Diferente do longa anterior que gastou um acertado tempo mostrando o cotidiano das crianças, pouco sabemos da vida adulta dos Otários, além do fato de que a experiência deixou marcas, mesmo que eles não estejam cientes delas.

"Economia" que só é possível por que o elenco mirim está de volta em cena, e suas versões adultas foram escolhidas, caracterizadas e compostas a dedo bom bons atores, para nos fazer acreditar que são realmente uma mesma pessoa. Os destaque ficam com as versões adultas de Ritchie e Eddie. Hader e Ransone, conseguem incorporar trejeito e até a entonação de Finn Wolfhard e Jack Dylan Grazer, respectivamente, a ponto de se destacar, em um roteiro que equilibra razoavelmente bem o espaço de cada um dos membros do clube.

Apesar de equilibrado, alguns personagens são sim melhores trabalhados que outros. Estes seriam Bill e Beverlly, que também tem os intérpretes mais conhecidos do grande público. A familiaridade com McAvoy e Chastain, diminui a crença de que se tratam de versões adultas de Jaeden Martell e Sophia Lillis. Nada que o bom trabalho dos atores não possa contornar. Na tarefa de emular a personalidade contida de seu correlativo mirim, McAvoy suaviza aquele excesso de intensidade que costuma aplicar a seus personagens. Enquanto Chastain consegue assim como Lillis, se encaixar no grupo, mesmo sendo a única mulher em cena.

E por falar nos atores mirins, eles estão todos de volta, apresentando informações e sequências que ficaram de fora no filme anterior. As passagens com a molecada são tantas, que quase ultrapassam o conceito de flashbacks, e praticamente criam uma linha do tempo paralela à principal. 

Os roteiristas sabem que acertaram ao construir e apresentar sem pressa os medos de seus protagonistas anteriormente, e logo decidem emular a fórmula aqui. Colocando cada um para enfrentar seus temores isoladamente, antes de enfrentarem o palhaço como um grupo. Entretanto, desta vez, a repetição soa cansativa em alguns momentos, é a criatividade em criar imagens aterrorizantes que mantém o espectador interessado. Já a trama de Henry Bowers (Nicholas Hamilton/Teach Grant) soa meio deslocada, interrompendo a narrativa principal, sem causar grande impacto nela.

Com tantas histórias sendo contadas, é Pennywise quem sai perdendo. O que não significa que a presença do palhaço não seja uma ameaça constante, ou que a qualidade da atuação de Skarsgård tenha caído. É nas origens e forma de combate à entidade que o roteiro deixa a desejar. A mitologia dos nativos-americanos que explicam suas origens, e as lutas passadas, e uma espécie de infecção que o vilão deixou nos sobreviventes, são jogadas sem muita aprofundamento. Outro questionamento, é a escolha da aparência do palhaço já que Pennywise aparentemente é muito mais antigo que o conceito do personagem circense. Dúvidas que provavelmente foram herdadas do livro, e que o filme não sentiu necessidade de sanar. É verdade que o desconhecido assusta mais, e a produção não precisaria responder tudo, mas particularmente, saí mais curiosa do que gostaria.

Se o roteiro não perdeu tempo criando mais detalhes para a vida de seu vilão, por outro lado, não economizou criatividade nas ameaças criadas por ele. Vale lembrar, o palhaço se alimenta de carne humana temperada com medo, por isso aterroriza suas vítimas ao máximo antes de fazer suas refeições. As formas como este se apresenta continuam surpreendentes, criativas e, para aqueles que gostam, com jump scares bem construídos. Os sustos e a violência gráfica aqui são mais presentes que no capítulo anterior, que apostava mais na construção do medo, o suspense. Embora ambos trabalhem as duas formas de assustar.

A criatividade continua, posicionamento de câmera e iluminação para conferir alguma originalidade aos sustos. O mesmo vale para os efeitos, que misturam CGI e efeitos práticos para criar os criativos e aterrorizantes pesadelos. O que combinado à construção dos temores que acompanhamos desde o filme anterior, criam uma acertada atmosfera de ameaça constante. Prova disso, é que a produção consegue causar medo, e nos fazer pular da cadeira, mesmo em cenas em plena luz do dia, e em cenas bem iluminadas. Enquanto a maioria dos filmes do gênero sempre recorre, à escuridão e a visão limitada para tal.

It: Capítulo Dois tem duas horas e cinquenta minutos de duração. Pode parecer muito tempo para ficar assustado (de fato é), mas a criatividade das imagens assustadoras e principalmente nossa empatia com os personagens, não apenas nos mantém na ponta da cadeira durante toda a projeção, como não nos deixa perceber sua longa duração. Com boas atuações e produção caprichada, o filme encerra de forma satisfatória a jornada do Clube dos Otários, ao ponto de sairmos da sessão, dispostos a encarar uma sessão dupla para apreciar a obra completa assim que possível.

It: Capítulo Dois (It Chapter Two)
2019 - EUA - 2h50min
Terror


Leia a crítica de It: A Coisa

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