The Handmaid’s Tale - 3ª temporada

Mais longa, a segunda temporada de The Handmaid’s Tale expandiu o universo de Gilead para além das experiências de June (Elisabeth Moss), e mostrou que existem muitas histórias a serem contadas. O terceiro ano entretanto, escolheu focar e desenvolver melhor os personagens que já conhecemos, naquele que talvez sejam o primeiro passo para a construção do desfecho da série.

June e Serena (Yvonne Strahovski) precisam lidar com as com sequencias de seu ousado ato em benefício da filha que compartilham. E o fazem separadas de formas completamente distintas. Outro que precisa lidar com o "sequestro" da bebê Nicolle, a consequente perda de status no regime que este causa, e o distanciamento da esposa é o comandante Waterford. Focada neste trio e principalmente em June. São poucas as histórias de coadjuvantes nesta temporada, e a maioria deles personagens que já vinham sendo trabalhados anteriormente.

Estas exceções são os membros da casa Lawrence. Josef (Bradley Whitford), o comandante responsável pela criação do sistema de castas em Gilead, sua esposa de constituição frágil (Julie Dretzin), fornecem uma abordagem bastante diferente da casa regida pelos Waterford. Aqui a autoridade em questão tem total ciência do mundo cruel que ajudou a criar e das privações dele. Ao longo da temporada também vão demostrar remorso, e perceber a total falta de controle sobre seu monstro.

São as empregadas da residência Lawrence, Beth e Sienna (Kristen Gutoskie e Sugenja Sri), que vão prover os poucos vislumbres da misteriosa rede das Martas. Uma abordagem curta e insuficiente, já que o roteiro prefere inserir June eventualmente neste contexto, ao invés de dar voz a uma nova personagem, como aconteceu anteriormente com Eden como nova esposa, e Emily nas colônicas.

E por falar na personagem de Alexis Bledel, Emily tem um começo promissor, mas termina a temporada esquecida pelo roteiro. Deixando a sensação de que ainda há muito o que mostrar sobre sua readaptação ao mundo "normal". Ficou também a dúvida do porque a moça não serve de fonte de informação para o combate ao regime, já que ela tem conhecimento tanto sobre o dia-a-dia das famílias abastadas, quanto dos campos de concentração. Sua história poderia, e talvez ainda seja, usada como grito de socorro e resistência.

Menos frequentes também são os tradicionais flashbacks, que mostra a vida antes e durante mudança para o regime. O único realmente relevante, traz um pouco da jornada de Tia Lydia (Ann Dowd). Embora, na humilde opinião desta blogueira que vos escreve, uma motivação levemente rasa e até um pouco machista, transformou a personagem naquela que conhecemos.

De volta àqueles que tem maior desenvolvimento, Serena e Fred seguem seu caminho separados da protagonista. Com o olhar da esposa em foco, acompanhamos sua conturbada relação marital, enquanto lidam com a burocracia para reaver seu bebê. Sempre com alguns rodeios, e oscilações já conhecidas da personagem de Strahovski, mas com um desenvolvimento repleto de implicações para ambos.

Mas é O Conto da Aia, que estamos ouvindo, mas especificamente de June. A entrega na interpretação de Moss, mantém a intensidade dos anos anterior e a amplia conforme a personagem alcança limites insustentáveis de tensão e até sanidade. Se por um lado, o foco reforçado em June, oferece espaço para sua interprete entregar excelentes atuações, por outro obriga o roteiro a escolher caminhos que começam a desafiar sua suspensão de descrença. Em outras palavras, após todos os eventos catastróficos relacionados à moça até então, é difícil crer que ela sempre saia relativamente ilesa das situações. No segundo ano, esta "proteção do roteiro" fora justificada pela gravidez, agora outras desculpas não tão sutis são feitas. O que não significa que a moça não sofra as torturas de sua posição, sofre e muito. Apenas nos faz questionar, o porque dela ainda não ter sido descartada por dar tanto trabalho.

A qualidade técnica digna de cinema, que usa de forma inteligente, fotografia, esquadramentos e até as cores de cenários e figurinos, para passar a mensagens e sentimentos além do que é simplesmente dito em cena, continua presente. Criando uma quantidade incrível, até exagerada em alguns momentos, de takes icônicos. Daqueles que dá pra "printar" a tela e trasnformar em um quadro, tão rico em mensagens e interpretações quanto belo.

O ritmo da narrativa é o mesmo constante e sem pressa adotado no primeiro ano, equilibrando melhor os acontecimentos ao longo dos treze episódios. Apesar da sensação de descarte de alguns personagens, Moira (Samira Wiley) e Luke (O-T Fagbenle), por exemplo, parecem estar presentes apenas para reagir ao que acontece em Gilead, seus arcos próprios continuam praticamente no mesmo estágio que foram deixados na temporada anterior. Já Nick (Max Minghella), é praticamente abandonado pelo roteiro. O que não significa que seus desenvolvimentos foram interrompidos definitivamente, a esperança que é sejam reavivados conforme a história de Gilead evolui.

Sim, a história de Gilead parece estar evoluindo para um desfecho, ou ao menos para um embate, com o sentimento de revolta aumentando, assim como mobilização dentro e fora do regime para derrubá-lo. Se rumo será mantido na já confirmada quarta temporada, não podemos afirmar. Posso apenas dizer, que é hora sim da série encaminhar-se para o fim, evitando o desgaste da história e suas discussões.

Desde seu segundo ano The Handmaid’s Tale, perdeu a vantagem do ineditismo, que acertou o público de surpresa como um soco no estômago e trouxe algumas discussões quanto ao uso da violência no programa. Não acho que a tortura tenha sido gratuita em nenhum momento, ainda sim, esta temporada parece preocupada em equilibrar melhor seu uso. Sugerir mais, mostrar menos. Afinal já sabemos bem o quão cruel é este mundo. E caso haja dúvida, os bem posicionados pensamentos de June estão lá para relembrarmos.

The Handmaid’s Tale está começando a sofrer o desgaste natural de toda série com muitas temporadas, e foco em apenas uma protagonista. A série não está ruim, mas seu impacto imediato começa a diminuir. O desgaste pode ser remediado, com um roteiro bem construído que sabe onde pretende chegar. É isso que esperamos das próximas temporadas. Afinal, os temas continuam extremamente relevantes, e a forma com que alcança o público e o faz pensar é o que a sociedade atual precisa. E claro, a qualidade técnica impecável, e as excelentes atuações, completam o pacote de uma excelente série.

The Handmaid’s Tale é uma obra da plataforma de streaming HULU, no Brasil ela é exibida pelo Paramount Channel, e suas duas primeiras temporadas estão disponíveis no Globo Play.

Leia as críticas da primeira e segunda temporadas.

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