
June e Serena (Yvonne Strahovski) precisam lidar com as com sequencias de seu ousado ato em benefício da filha que compartilham. E o fazem separadas de formas completamente distintas. Outro que precisa lidar com o "sequestro" da bebê Nicolle, a consequente perda de status no regime que este causa, e o distanciamento da esposa é o comandante Waterford. Focada neste trio e principalmente em June. São poucas as histórias de coadjuvantes nesta temporada, e a maioria deles personagens que já vinham sendo trabalhados anteriormente.
Estas exceções são os membros da casa Lawrence. Josef (Bradley Whitford), o comandante responsável pela criação do sistema de castas em Gilead, sua esposa de constituição frágil (Julie Dretzin), fornecem uma abordagem bastante diferente da casa regida pelos Waterford. Aqui a autoridade em questão tem total ciência do mundo cruel que ajudou a criar e das privações dele. Ao longo da temporada também vão demostrar remorso, e perceber a total falta de controle sobre seu monstro.

E por falar na personagem de Alexis Bledel, Emily tem um começo promissor, mas termina a temporada esquecida pelo roteiro. Deixando a sensação de que ainda há muito o que mostrar sobre sua readaptação ao mundo "normal". Ficou também a dúvida do porque a moça não serve de fonte de informação para o combate ao regime, já que ela tem conhecimento tanto sobre o dia-a-dia das famílias abastadas, quanto dos campos de concentração. Sua história poderia, e talvez ainda seja, usada como grito de socorro e resistência.
Menos frequentes também são os tradicionais flashbacks, que mostra a vida antes e durante mudança para o regime. O único realmente relevante, traz um pouco da jornada de Tia Lydia (Ann Dowd). Embora, na humilde opinião desta blogueira que vos escreve, uma motivação levemente rasa e até um pouco machista, transformou a personagem naquela que conhecemos.

Mas é O Conto da Aia, que estamos ouvindo, mas especificamente de June. A entrega na interpretação de Moss, mantém a intensidade dos anos anterior e a amplia conforme a personagem alcança limites insustentáveis de tensão e até sanidade. Se por um lado, o foco reforçado em June, oferece espaço para sua interprete entregar excelentes atuações, por outro obriga o roteiro a escolher caminhos que começam a desafiar sua suspensão de descrença. Em outras palavras, após todos os eventos catastróficos relacionados à moça até então, é difícil crer que ela sempre saia relativamente ilesa das situações. No segundo ano, esta "proteção do roteiro" fora justificada pela gravidez, agora outras desculpas não tão sutis são feitas. O que não significa que a moça não sofra as torturas de sua posição, sofre e muito. Apenas nos faz questionar, o porque dela ainda não ter sido descartada por dar tanto trabalho.


Sim, a história de Gilead parece estar evoluindo para um desfecho, ou ao menos para um embate, com o sentimento de revolta aumentando, assim como mobilização dentro e fora do regime para derrubá-lo. Se rumo será mantido na já confirmada quarta temporada, não podemos afirmar. Posso apenas dizer, que é hora sim da série encaminhar-se para o fim, evitando o desgaste da história e suas discussões.
Desde seu segundo ano The Handmaid’s Tale, perdeu a vantagem do ineditismo, que acertou o público de surpresa como um soco no estômago e trouxe algumas discussões quanto ao uso da violência no programa. Não acho que a tortura tenha sido gratuita em nenhum momento, ainda sim, esta temporada parece preocupada em equilibrar melhor seu uso. Sugerir mais, mostrar menos. Afinal já sabemos bem o quão cruel é este mundo. E caso haja dúvida, os bem posicionados pensamentos de June estão lá para relembrarmos.
The Handmaid’s Tale está começando a sofrer o desgaste natural de toda série com muitas temporadas, e foco em apenas uma protagonista. A série não está ruim, mas seu impacto imediato começa a diminuir. O desgaste pode ser remediado, com um roteiro bem construído que sabe onde pretende chegar. É isso que esperamos das próximas temporadas. Afinal, os temas continuam extremamente relevantes, e a forma com que alcança o público e o faz pensar é o que a sociedade atual precisa. E claro, a qualidade técnica impecável, e as excelentes atuações, completam o pacote de uma excelente série.
The Handmaid’s Tale é uma obra da plataforma de streaming HULU, no Brasil ela é exibida pelo Paramount Channel, e suas duas primeiras temporadas estão disponíveis no Globo Play.
Leia as críticas da primeira e segunda temporadas.
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