Os novos Cavaleiros do Zodíaco e a representação de sua época

Não. Não vou fazer crítica sobre a nova versão da Netflix para os Cavaleiros do Zodíaco. Ao menos, não uma analise tradicional. Mesmo porque até o momento, apenas metade da primeira temporada foi liberada. Entretanto, com estes seis episódios já é possível pensar sobre a série animada e sua relação com o público. Seus diferentes públicos.

Vale mencionar, eu fui público da animação exibida pela extinta rede Manchete na década de 1990. Viciada por um tempo, mas não o suficiente para ir além da versão para a TV, ou continuar acompanhando a saga ao longo dos anos. Em outras palavras, sou o público médio, e esta análise parte daí.

E por falar no público da década de 90, uma coisa é bem clara na nova versão: ela não é para você. E nem precisava ser, afinal o "seu Cavaleiros", lançado na década de 1980 (no Brasil anos mais tarde), vai continuar a existir. A animação é para a molecada de hoje em dia, com o ritmo apropriado para estes pequenos espectadores acostumados coma velocidade do youtube.

Dito isso, são visíveis as mudanças para se adaptar não apenas ao novo público, mas também ao novos tempos. Assim, as batalhas são muito mais curtas, e menos sangrentas. A duração reduzida evita que os pequenos se desinteressem. O que infelizmente acarreta em uma perda na construção da relação entre personagens. Em outras palavas, o quarteto principal passa de desconhecidos à melhores amigos da vida, em um estalar de dedos. 

Orelhas estão à salvo nesse anime
Já a ausência de violência se encaixa com a era do politicamente correto e a preocupação de não traumatizar ou influenciar erroneamente as crianças. Embora eu mesmo não tenha ficado traumatizada, ou violenta assistindo à sanguinolência de outros tempos. Mas isso é uma discussão mais complexa, que vou deixar para outro momento. Por hora basta dizer, é um desenho com as características de obras infantis de 2019.

Falando em discussões complexas, nunca tinha pensado nisso, mas não é que Cavaleiro do Zodíaco era um anime com bastante diversidade para sua época? Seus guerreiros vinham de todas as partes do mundo, e até tinham algumas mulheres, embora o elenco principal fosse majoritariamente nipônico, e a única mulher nele fosse literalmente a donzela em perigo. - Nunca entendi, porque Saori não podia fazer mais, já que era uma deusa. Talvez não tenha me aprofundado o suficiente. - Para corrigir isso, a versão nova resolveu transformar um de seus protagonistas em mulher. Ótima ideia, escolha preguiçosa!

Shun já era considerado o "mais afeminado" do grupo, e usa rosa. A escolha dele passa mensagem de que meninos, não podem ser sensíveis, pacifistas, ou usar rosa! Uma escolha mais corajosa, mesmo que clichê, seria assumir a homossexualidade dele. Ainda cairia na caricatura do "gay usando rosa", mas traria um novo ponto de discussão para mentes jovens. Ao menos a jovem tem mais atitude (leia-se é menos chorona) que sua versão masculina. Transformar outro personagem em mulher, ou ainda dar mais ação à Saori também seriam escolhas mais interessantes.

Uma mudança menos bem intencionada, e mais pragmática é a criação de um vilão inédito. Vander Guraad, cria um antagonismo mais palatável até para os muito pequenos, e garante a inclusão de guardas, armas de fogo, helicópteros e explosões. Afinal a série é produto da parceria entre a Toei Animation e a Netflix, e esta última quer torná-lo mais atraente para os espectadores "estadunidenses". Ver os cavaleiros lutando contra soldados e helicópteros é esquisito, e rouba tempo das dramáticas lutas corpo a corpo. Mas a presença de Guraad, já trouxe mudanças interessantes para a origem de Seya, e pode trazer boas novidades para a trama, como um embate entre a humanidade e os deuses.

Observando o que foi liberado até aqui, o novo Cavaleiros do Zodiaco, é uma releitura eficiente em adaptar o universo para o público infantil atual, sem deixar de lado o mangá e o anime. Mas não precisa ficar triste pequeno nerd com três décadas ou mais de vida, você ainda é bem muito bem vindo. E algumas coisas não mudaram. A perseverança hercúlea, a amizade celebrada em frases dramáticas e meio bregas, e até o CGI parece apenas atualizar os traços e armaduras já conhecidos para sua estética. E claro, tem as vozes originais brasileiras! A maioria dos dubladores que imortalizou seus golpes favoritos em frases de efeito estão de volta. Porque a Netflix não é besta de tentar mudar!

Cavaleiros do Zodíaco sempre foi aquela mistura maluca de constelações, signos do zodíaco, mitologia grega, cavaleiros medievais, lutas de gladiadores e tradições japonesas, que curiosamente não apenas funcionava, mas ampliava nossos horizontes. As referências estão misturadas e alteradas, mas o nosso primeiro contato com muitas delas foi ali. Agora a molecada de hoje em dia pode ter a mesma curiosa experiência "miscelânica", enquanto os mais velhos podem lhes fazer companhia e ter uma dose rápida e divertida da tão estimada nostalgia.

Leia também a crítica de Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário

1 Comentários

  1. Olá tudo bem? Meu nome é Vitor Guariento, falo como dono do Guariento Portal, uma espécie de site que fala sobre curiosidades ele geral. Falo de jogos, de filmes, análises, viagens, culinária. Enfim, tudo que dá na telha. E uma das coisas que ligou o seu site ao meu foi exatamente esse post sobre Cavaleiros do Zodíaco. Eu falei em um post sobre a Saga de Asgard e como ela tem ligação óbvia e direta com a mitologia nórdica. Su puder dar uma passada lá eu agradeceria de montão. https://guarientoportal.com/2020/06/12/saga-de-asgard-mitologia/
    Valeu desde já.

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