The Umbrella Academy - 1ª temporada

Em um dia qualquer, sem nenhuma relação aparente 43 crianças extraordinárias nasceram ao redor do mundo. Todas de mulheres que não estavam grávidas horas antes. O cientista milionário Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) vê potencial nestes nascimentos incomuns e resolve adotar quantas destas crianças conseguir. Os sete bebês adquiridos por eles serão treinados para um dia salvar o mundo como a força-tarefa The Umbrella Academy.

Não se engane por esta apresentação inicial. Os quadrinhos criados por Gerard Way (o ex-vocalista da banda My Chemical Romance) e pelo brasileiro Gabriel Bá, tem sim argumento semelhantes à tradicionais supre-grupos como os X-Men, mas é bem diferente na forma como entrega sua jornada. Esta família disfuncional, seu universo e dilemas próprios acabam de ganhar uma adaptação pela Netflix que deve surpreender muita gente.

É 2019 e a morte de seu pai e mentor, reúne os membros da Umbrella Academy após anos separados. Ou melhor, os membros que sobraram, Luther, o Número Um (Tom Hopper); Diego, o Número Dois (David Castañeda); Allison, Número Três (Emmy Raver-Lampman); Klaus, Número Quatro (Robert Sheehan) e Vanya, Número Sete (Ellen Page). O grupo começa a apresentar os dramas desta família quebrada, até que Número Cinco (Aidan Gallagher), que desapareceu ainda na infância ao tentar usar seus poderes para viajar no tempo retorna com a alarmante missão de impedir que o apocalipse aconteça em poucos dias.

Disputas de infância mal resolvidas, as "desvantagens" e consequências da má administração de seus poderes, a morte misteriosa do pai, romances, segredos escondidos, o iminente fim do mundo, a perseguição por assassinos treinados... não faltam problemas para estes heróis-quebrados resolverem neste funeral. Surpreendentemente, a série consegue equilibrar a apresentação de um universo e seus personagens completamente novos, com o desenvolvimento destes obstáculos. O ritmo é frenético, e a trama aposta em abraçar o absurdo, combinado com uma escrita dinâmica, para tornar coeso seu universo com super-poderes, viagens no tempo, robôs e macacos mordomos.

Assim, a única surpresa esboçada quando Pogo (Adam Godley) fala, é do espectador quanto a qualidade da tecnologia aplicada, considerando que trata-se de uma série com muitos episódios e orçamento limitado. Os personagens não se espantam quanto ao fato de existir um chipanzé de terno entre eles. O que também torna crível o porte incomum de Luther, a arquitetura curiosa da mansão Umbrela, e até momentos mais caricatos e exagerados, como a incompetência cronica daqueles que são considerados os melhores assassinos de seu departamento Hazel e Cha-Cha (Cameron Britton e Mary J. Blige).

O elenco bem selecionado é um ponto forte, todos entregam o trabalho a que lhes foi proposto de forma eficiente. O rosto mais conhecido em cena é o de Ellen Page, que dá vida à propositalmente apagada Vanya. A única dos sete irmãos que não tem poderes, a jovem cresceu isolada e desvalorizada pela família. Sua jornada é previsível, mas o bom trabalho de Page compensa a obviedade da jornada.

Os destaques ficam com os números Quatro e Cinco. Com o poder de invocar os mortos, Klaus vive à base de entorpecentes para silenciar as vozes em sua mente. Robert Sheehan consegue imprimir muito carisma, enquanto o personagem tenta fugir ou esconder seus tormentos e preocupações atrás das drogas e de um comportamento descompromissado e altamente debochado. Já o Número Cinco, é um homem de 58 anos preso em um corpo de 13. O jovem Aidan Gallegher consegue transmitir a urgência, experiência e impaciência de alguém que não tem tempo a perder com os receios da juventude.

A trilha sonora completa o tom tresloucado ao pontuar bem as cenas. Desde com os dramáticos solos de violinos de Vanya, até o uso de grande sucessos como "Don't Stop Me Now", do Queen, que torna frenética e divertida uma bem elaborada cena de tiroteio. E por falar em cenas de ação, a série tem muitas. Estas combinam, a luta corporal, o uso de armas, e claro dos super-poderes. Bem coreografadas, na maioria das vezes apostam no bom humor, gerado por suas possibilidades absurdas.

Vale apontar ainda, os figurinos e cenários que fazem referência ao material original ilustrado por Gabriel Bá. E o elenco bastante diverso, que foge da versão dos quadrinhos. Diferente de suas versões prioritariamente caucasianas das páginas, as crianças aqui realmente parecem ter vindo de diferentes partes do mundo.

A arquitetura da Mansão onde as crianças foram criadas, parece unir imóveis distintos através de buracos nas paredes que o conectam, oferecendo ambientes completamente diferentes. De uma área comum com um grande saguão que lembra um imaculado museu, apesar de ser habitado por sete crianças, até o "puxadinho" mal decorado onde ficam seus quartos, a mansão parece uma combinação mal planejada de coisas completamente diferentes, assim como seus moradores.

É apenas o final abrupto, cheio de questões a serem resolvidas em uma segunda temporada é que pode frustar alguns. Mas, é o comum em séries de TV, e ao menos promete uma continuação.

The Umbrella Academy é a reação da Netflix que busca franquias próprias, agora que os demais estúdios começam a lançar seus serviços de streaming próprios e retirar seus produtos da plataforma. Uma série sobre super-heróis disfuncionais, que tem suas regra, mitologia e personalidade próprias. Personagens complexos e carismáticos, uma trama intricada e propositalmente absurda, é uma bem vinda novidade e um prato cheio para quem gosta do gênero.

The Umbrella Academy tem 10 episódios, com cerca de uma hora cada, todos já disponíveis na Netflix.

Leia a crítica de The Umbrella Academy: Suíte do Apocalipse, primeira aventura do grupo nos quadrinhos.

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