tick, tick...BOOM!

Jonathan Larson não é um nome conhecido entre a maioria dos brasileiros. E mesmo entre aqueles tiveram o privilégio de consumir algo deste compositor, este consumo muito provavelmente veio da versão cinematográfica de seu musical de maior sucesso, Rent de 2005, dirigida por Chris Columbus. Logo, o mergulho em sua mente que tick, tick...BOOM! propõe, pode ser mais complicado para nós, que para aqueles que já são fãs e conhecedores da vida e obra deste compositor e escritor de peças estadunidense.

Jon (Andrew Garfield) é um jovem compositor que ganha a vida como garçom em Nova York. Trabalhando há mais de uma década no que acredita ser sua grande obra, e prestes a completar trinta anos, ele é tomado pela ansiedade e insegurança sobre os rumos de sua vida e carreira. Tudo isso no cenário boêmio de uma NY do final dos anos 1980, com a explosão da aids, e agravado pela confusão e complexidade de sua mente genial. 

Complexidade, esta é uma boa palavra para definir tick, tick...BOOM!, o musical da Netflix dirigido por outro gênio dos musicais Lin-Manuel Miranda de (Hamilton e Moana), utiliza o próprio musical homônimo de Larson como ponto de partida. Afinal o tick, tick...BOOM! dos palcos é uma espécie de monólogo autobiográfico musical, sobre a aflição de alcançar os 30 anos se ter emplacado um sucesso ainda. 

Assim, as canções do monólogo recriadas com Garfield no palco, servem como estopim para os momentos marcantes da versão novelizada de sua vida. Estas por sua vez também trazem músicas que expressam os dilemas pré criação deste mesmo musical. Na verdade, Larson está escrevendo Superbia, que nunca foi produzido, mas seu fracasso fora essencial para a criação de seu primeiro sucesso, tick, tick...BOOM! e consequentemente de seu maior sucesso Rent.

E por falar em Rent, não faltam referências à obra aqui. Seja em detalhes do cenário, falas e principalmente nos temas. Falta de dinheiro, homossexualidade, a perda de amigos para a aids, a vida boêmia, a busca por viver de seus sonhos, temas que cercavam a vida do verdadeiro Larson em povoaram suas obras da realidade e humanidade que as tornaram tão relacionáveis. 

O elenco que conta com Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens, Ben Ross e Bradley Whitford, entre outros, é eficiente e muito bem conduzido. Entregando o que é preciso tanto nas partes dramáticas quanto nas musicais. Entretanto, o destaque é inegavelmente de  Andrew Garfield, que aprendeu a cantar para o papel, e não apenas performa as canções com o tom e energia necessária, mas também compõe um personagem cheio de camadas, que transparece muito bem o choque entre a confusão e a criatividade.

Lin-Manuel Miranda faz sua estreia como diretor em grande estilo. Provando que não apenas tem controle da história que conta, por mais complexa que seja, mas também tem grande conhecimento e paixão por musicais. Além de respeito e admiração por Larson, já que tomou o caminho mais complexo e descobriu uma forma de colocar o próprio compositor na narração de sua história. Qualquer outro diretor teria adaptado a peça teatral e pronto. 

tick, tick...BOOM! é propositalmente confuso em alguns momentos, para ilustrar a fase pela qual seu protagonista está passando. Isto, e a pouca familiaridade do público brasileiro com a vida e obra de Jonathan Larson pode sim afastar parte do público. Entretanto, aqueles que tiverem boa vontade, vão encontrar uma produção bem conduzida, e de narrativa incomum, uma experiência única, embalada por canções enérgicas, viscerais e cheias das nuances da rica vida de uma mente brilhante. 

tick, tick...BOOM!
2021 - EUA - 121min
Musical, Drama, Biografia

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