King Richard: Criando Campeãs

Geralmente, os pais são fatores determinantes na trajetória de seus filhos, quer eles errem, acertem ou mesmo sejam ausentes na criação. O personagem vivido por Will Smith nesta cinebiografia, no entanto, foi mais além, ele criou um plano detalhado para vida de suas filhas.  King Richard: Criando Campeãs mostra como Richard Williams transformou as filhas em tenistas de sucesso.

Richard (Will Smith), planejou a carreira das filhas cedo, colocando Serena (Demi Singleton) e Venus (Saniyya Sidney) nas quadras ainda pequenas. E usando métodos nada tradicionais para treiná-las. O longa aborda o período entre  a entrada de treinadores profissionais no plano de Richard, até a estreia de Venus como profissional, e os conflitos gerado pelas escolhas e atitudes pouco convencionais do pai.

Para os brasileiros, a relação imediata é com o Dois Filhos de Francisco, uma vez que a dedicação e atitudes incomuns do protagonista, lembram as do pai dos cantores. Mas, enquanto o longa nacional, não se priva de apontar a maior dificuldade da dupla, a pobreza e a falta de recursos. King Richard parece ter medo de apontar os muitos temas que sua história carrega, abordando de forma extremamente superficial. Desde o choque inevitável de duas jovens negras de um bairro pobre entrando em um esporte de elite, passando pela real escolha das meninas em seguir a carreira, e até a possível rivalidade entre as duas. 

Até o biografado tem temas deixados de lado, como seu casamento e família anteriores. Assunto que vem à tona em uma única fala, sem grandes explicações prévias, ou mesmo consequências, com a única funcção de aumentar a tensão e a discussão da cena em questão, sendo esquecido logo em seguida. Mesmo as motivações e parâmetros de seu plano, não vão muito além do "eu decidi assim, faz parte do plano". Escolha que cria tensão e surpresa quanto às atitudes do protagonista, mas que nunca entendemos porquê funcionam, e como ele chegou à certeza - se é que ele tinha - de que funcionariam.

Ainda sim, o roteiro de Zach Baylin consegue gerar tensão e interesse ao pontuar bem a evolução das meninas e os conflitos de Richard com técnicos, vizinhos e até a própria família. Além de equilibrar bem momentos o drama e momentos mais leves. A direção de Reinaldo Marcus Green é mais eficiente nas sequencias de treino e jogos, onde o diretor consegue passar o andamento do jogo mesmo para aqueles que não conhecem suas regras. Mas funciona bem também e cenas mais tensas.

O destaque da atuação, é claro, fica com Will Smith, que se esforça para criar os trejeitos do personagem, e personificar uma pessoa irritantemente determinada e sem muito freios ou tato, quando contrariado, sem que gere antipatia no público. Richard é chato, mas torcemos por ele. 

Entretanto, o ator perde um pouco de seu brilho quando Aunjanue Ellis e Saniyya Sidney aparecem para roubar a cena. Ellis compõe uma mãe e esposa guerreira, que acompanha a determinação do marido, e se impõe quando precisa. Já a jovem interprete de Venus, esbanja carisma e determinação em tela, difícil acreditar que ela de fato não jogue tênis. O elenco ainda conta, com Tony Goldwin e John Berntal, eficientes.


King Richard: Criando Campeãs, tem um retratado complexo, e uma trajetória rica para contar. Mas prefere ir pelo caminho mais simples, e elogioso (talvez por ter as próprias tenistas envolvidas na produção), sem se aprofundar demais nos temas mais pesados, focando na determinação e na história de sucesso. Escolha que funciona, o filme é leve, empolgante, divertido, e bem produzido. E vai agradar a maioria do público. Contudo, aqueles que conhecem a trajetória das atletas, e de seu pai, talvez esperem um pouco mais do que o filme está disposto à entregar.

 King Richard: Criando Campeãs (King Richard)
2021 - EUA - 148min
Biografia, Drama

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