Sobibor

Quase oito décadas após os eventos da Segunda Guerra Mundial e os temas relacionados à este episódio vergonhoso da história da humanidade parecem longe de se esgotar, ou mesmo perder a importância. Entretanto, se a necessidade de contar estas inúmeras histórias não muda, a forma como a contamos e compreendemos estes casos sim. Sobibor traz uma destes eventos que ainda precisam ser conhecido, mas aposta em um formato mais bruto, que talvez não ofereça o devido respeito e homenagem às personalidades retratadas.

Foi em Sobibor que ocorreu o único levante bem sucedido em um campo de extermínio nazista. Liderados por Alexander Pechersky (Konstantin Khabenskiy, que também dirige o longa), um oficial soviético recapturado após uma tentativa de fuga em outro campo. O motim possibilitou uma fuga em massa de centenas de prisioneiros, com muita violência e nenhuma certeza de um futuro melhor para a maioria deles, a maioria foi capturada e morta posteriormente.

Diante deste contexto, não é preciso muito para nos fazer criar empatia pelos prisioneiros. Ainda sim é preciso nos apresentar a eles, e a produção opta por fazer isso ao mostrar sem sutilezas alguma as atrocidades que sofriam. Se arriscando entre o complicado limite entre a veracidade e a glamourização da violência, e ignorando que são os dilemas humanos que melhor reforçam nossa empatia, muito mais que a violência gráfica.

Esta escolha pouco produtiva fica mais evidente nos poucos vislumbre de aprofundamento humano que a produção oferece, nas figuras do marido que enlouquece ao não conseguir processar à perda da esposa, e do garoto atento que age como um bobo bichinho de estimação de seus captores para sobreviver. Mal à tempo para decorar os nomes destes personagens, mas a preocupação por eles, é mais imediata e genuína que aquela construída para seus heróis.

De volta aos heróis da rebelião, suas motivações são explícitas, não necessitam de grandes explicações. É na interação entre eles, e sua posterior organização que o filme pretende focar, embora esteja sempre dividindo o foco com as atrocidades mencionadas anteriormente. Assim somos apresentados brevemente a cada um deles, o suficiente para compreender a localização e função de cada um no motim. Pechersky, o protagonista relutante, recebe um pouco mais de atenção, cobrindo um breve arco entre a inércia após uma derrota e a ascensão ao posto de líder. Antes de voltarmos às violência, agora cometidas pelos prisioneiros.

Sim, as atrocidades neste filme são cometidas pelos dois lados da disputa, e a produção tem ciência disso - Vocês ensinaram os judeus a matar! - afirma um dos personagens durante o motim. É claro, a violência cometida pelos prisioneiros é infinitamente menor, e tem sua justificativa, a sobrevivência. Mesmo assim, o filme não hesita em didaticamente mostrar os alemães como vilões unilaterais caricatos, durante a maior parte do filme. Assim, quando o roteiro decide humanizar o oficial Karl Frenzel (Christopher Lambert), a sequencia soa como uma pausa forçada, deslocada e ineficiente, já que a esta altura da projeção dificilmente compreenderíamos suas motivações, quaisquer que fossem.

E por falar em Lambert, o astro de Hollywood é o elo mais fraco do longa. Sem falar alemão, o ator filmou suas falas em inglês e foi posteriormente dublado na versão final. A solução causa estranhamento, e empalidece o esforço pela autenticidade da produção. Entre eles, o esforço para manter todas as línguas faladas no campo de Sobibor, a produção foi rodada em cinco idiomas, russo, polonês, alemão, holandês e iídiche. Variedade de línguas que o restante do elenco recita em grandes atuações ou destaques.

A reconstrução da época é melhor aspecto da construção. Desde o detalhismo na escolha de objetos e criação dos figurinos, até a recriação do campo de extermínio, realizado sob muita pesquisa. Sobibor foi destruído pelos alemães, que encobriram sua localização com uma floresta após o motim. Há ainda a importância história relacionada à produção, que faz parte da campanha para eternização da memória dos revoltosos.

Baseado no livro Alexander Pechersky: Breakthrough to Immortality, que traz memórias do líder da luga. Foi também o representante da Rússia no Oscar 2019. Com uma produção de qualidade, e uma história pouco conhecida, mas cheia de potencial, Sobibor peca ao não acertar na forma que escolheu contar sua história. Não basta apenas chocar e enraivecer o público, é preciso educá-lo. Essa ausência de sutileza não é tão contundente, quanto apresentar, esclarecer, e explicar bem cada um dos aspectos dessa história. Colocar o espectador na pele de seus heróis através da identificação e empatia, para assim certificar que atrocidades como essa não sejam repetidas. É por isso que continuamos contando e recontando estas histórias incansavelmente por quase um século.

Sobibor
2018 - Russia - 110min
Drama, Guerra


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