Exploração e revolução das máquinas, robôs conscientes, conexão neural com máquinas, ruptura da consciência humana com a realidade e dependência da tecnologia, The Electric State, novo filme da Netflix, traz uma reunião interessante, mesmo que já bastante conhecidos, de conceitos para construir seu universo. A questão é se o blockbuster dos Irmãos Russo, é capaz d explorar esses temas em prol da aventura na qual pretende nos levar.
Em um mundo onde robôs existem, provocaram uma revolução para deixarem de ser explorados, foram segregados a uma zona de exclusão no pós guerra, enquanto os humanos vencedores se mantém dependentes de novas tecnologias, uma adolescente se alia a um robô para tentar reaver sua família. Trata-se de Michelle (Millie Bobby Brown) órfã revoltada que além do doce robô de um personagem de desenho animado, também se alia ao contrabandista Keats (Chris Pratt) e seu robô parceiro e sarcástico Herman (dublado por Anthony Mackie), em uma missão que começa como algo particular, mas aos poucos se revela uma luta pela humanidade e pelas máquinas.
Baseado no livro Estado Elétrico de Simon Stålenhag, traz um universo interessante, que abriga todas as questões mencionadas no primeiro parágrafo desse texto, e várias outras. Entretanto, o roteiro escolhe o caminho mais fácil, trazendo discussões rasas e previsíveis, ao mesmo tempo que tenta criar imagens icônicas.
Assim, temos criativos designs de robôs carniceiros (que sobrevivem de peças de outros), e o paralelo com a prática de transplante de órgãos mencionados. Mas, a reflexão para no mero comentário. Vemos humanos usuários de tecnologia caídos em calçadas como usuários de drogas, mas a imagem icônica serve apenas para demonstrar a humanidade de um robô. E mesmo a discussão sobre a "humanidade" e consciência das máquinas é trocada por designs divertidos, de máquinas simpáticas.
Tudo em prol de uma aventura que não inova. Qualquer um com um pouco mais de bagagem consegue prever, as viradas e embates do roteiro. Tornando a espera por eles, por vezes cansativa. O filme acredita que está criando conexão e expandido o universo, mas está apenas infando a história. Alguns caminhos poderiam ser mais curtos, interações simplificadas, flashbacks e diálogos poderiam ser mais econômicos, e o resultado seria o mesmo.
Millie Bobby Brown deveria conduzir a aventura, mas sua adolescente rebelde não gera empatia, mesmo com seu passado sofrido. A atriz de apenas 21 anos, diferente de outros atores de sua idade, começa a não convencer mais como adolescente (e tá tudo bem, pessoas envelhecem em ritmos diferentes). Enquanto seu já assumido desinteresse em relação à arte que produz (ela já afirmou não conseguir assistir filmes) começa a pesar.
Uma vez que não é mais criança, a atuação responsiva frequentemente utilizada com atores mirins, já não lhe cabe mais. É preciso, conhecer, construir e desenvolver seus personagens. Mas a moça apenas replica a adolescente voluntariosa e determinada que já viveram em outras produções, resultando em caras e bocas, mas não em sentimento e envolvimento com o público.
Assim como o restante do elenco estelar, que repete tipos já bem conhecidos dos atores. Assim, o contrabandista de Chris Pratt, guarda muitas semelhanças com o Starlord que o ator viveu na Marvel. Ke Huy Quan é o cientista maluco, Stanley Tucci é o engravatado imponente, Giancarlo Esposito o antagonista frio e calculista.
Escalação previsível que se estende até o elenco de vozes de dá vida aos robos. Este conta com os talentos de Anthony Mackie, Alan Tudyk, Woody Harrelson, Colman Domingo, Hank Azaria, Brian Cox, Jenny Slate, entre outros. Todos eficientes, considerando a familiaridade com os papéis.
Dito tudo isso, não duvido nada que a produção seja um fenômeno da plataforma. Uma vez que, apesar de raso, oferece o escapismo momentâneo que o grande público procura. Personagens simpáticos, aventura, ação, explosões, efeitos especiais bastante eficientes, e boa música (a trilha sonora aposta em sucessos dos anos 1990 e anteriores, respeitando a época em que a história se passa).
Ao final das contas The Electric State entrega aquilo que propõe, entretenimento leve por um par de horas. O público mais interessado, no entanto, vai notar que a produção poderia oferecer muito mais, se optasse pelo caminho mais difícil. Diverte, mas para alguns a sensação de desperdício de bons temas será inevitável!The Electric State
2025 - EUA - 128min
Ação, Aventura, Ficção científica
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