Nesta recente onda de live-actions dos clássicos animados da Disney, algumas adaptações se destacam por dificuldades bastante particulares. A Bela Adormecida, Cinderela e Branca de Neve e os Sete Anões foram criadas em uma época de conceitos muito diferentes dos aceitáveis hoje em dia. Isso, falando em princesas, obras como Dumbo, e Peter Pan tem outras dificuldades.
Cinderela de 2015, se afastou do clássico, dispensou as músicas, mas manteve a história com uma construção mais complexa, e conceitos mais positivos. Malévola de 2014 revolucionou ao mudar a perspectiva e contar a história da vilã, ao invés da princesa. Mas para Branca de Neve as exigências pareciam ser ainda maiores. Seja pelo cansaço que essas releituras tem causado, pela importância do clássico, o primeiro longa-metragem animado da história, ou por alguns conceitos ultrapassados e até preconceituosos que carregam. A solução escolhida parece ser manter fidelidade ao clássico, contornando os pontos polêmicos, com ideias que outras adaptações já trouxeram.
Assim, Branca de Neve (Rachel Zegler, atriz latina, logo "não branca" o suficiente para muitos) recebeu este nome por nascer em meio à uma tempestade. Conhecemos sua infância e o reino próspero, antes da chegada da Rainha Má (Gal Gadot), que chega ao poder e relega a moça à servidão. Até que a ciência das dificuldades do reino, faz a moça se rebelar, ser jurada de morte pela rainha, poupada pelo caçador, fugir pela floresta até encontrar a residência dos "anões". Que aqui, para tentar fugir controvérsias, não são pessoas com nanismo, mas criaturas mágicas com mais de dois séculos de idade e habilidades especiais.
Some-se aí, uma gangue que luta contra os desmandos da rainha, um membro interesse romântico (não é um príncipe, mas existe), e a luta da princesa para recuperar o reino. Além, claro, da tentativa de assassinato com uma maçã e muita música. O resultado é sim uma recriação do clássico, mas com ideias recicladas de outras adaptações.
Brancas de Neve que lutam para libertar o reino, já vimos em Branca de Neve e o Caçador e Espelho, Espelho Meu (ambos de 2012). Este último inclusive trem o mesmo desfecho para a vilã. O grupo de foras da lei que lutam contra a Rainha, é claramente inspirado nas histórias de Robin Hood. Inclusive, Jonathan (Andrew Burnap), interesse amoroso da moça, é até caracterizado como tal.
E por falar em romance, este é um pouco mais construído. Colocando os pombinhos para interagir e lutar juntos, visivelmente se envolvendo romanticamente, e assim tornar o beijo em uma moça desacordada menos invasivo.
Escolhas que contornam as muitas polêmicas, mas não necessariamente as melhores ou mais criativas. O resultado é um filme previsível. O que não é problema, uma vez que trata-se de um remake. Mas também menos objetivo, mais cansativo e menos "mágico". Sim, explicar demais, as vezes estraga a magia. E todo desvio para incluir o bando de Jonathan, que desaparece quando o roteiro nãos os quer, cria uma barriga no filme.
Por outro lado, o filme é eficiente em criar sim uma atmosfera mágica, que mistura contos de fada, com caixa de brinquedos. Com muita cor, ambientes repletos de vida (em CGI, mas ok!) e boas caracterizações. Surpreendentemente os anões as criaturas mágicas em computação gráfica, que tanto geraram críticas, conseguem ultrapassar o estranhamento inicial e conquistar a audiência. A exceção é uma escolha que fizeram para Dunga, mas que não vou revelar, é um spoiler. Mas você reconhecerá assim que assistir. No geral, a molecada vai comprar a aventura sem problemas.
Outra falha na caracterização é a própria Branca de Neve. O vestido fiel às cores do desenho, e por isso bastante caricato, e principalmente o cabelo e maquiagem da princesa, simplesmente feios, são um dos pontos de distração e quebra a fantasia. Felizmente, Rachel Zegler convence na personalidade doce e suave da princesa, e brilha ao interpretar as canções.
O mesmo não pode ser dito de Gal Gadot, que não chega à desafinar nas músicas (não sabemos o quanto foi modificado na pós produção), mas entrega a atuação limitada que já conhecemos dela. Composição que não é um fracasso total, pois sua figura naturalmente alta e imponente, combinam com a pose original da Rainha. Uma pena que os números musicais que botam a malvada para dançar, quebram um pouco dessa imponência.
E por falar nas canções, do conto original retornam apenas Heigh-Ho, a canção dos anões e Whistle While You Work, a música da limpeza, ambas modificadas para se encaixar as novas ideias do roteiro. Entre as novas, os números musicais são bem construído, mas a maioria das músicas é esquecível. Entre elas, se destacam um dueto entre o casal principal Princess Problems, e principalmente Waiting on a Wish. A nova "I want song"* da princesa, substituindo a pouco feminista Someday my prince will come do original, é a única novidade que realmente nos acompanha pós sessão. E também é o ápice da interpretação de Zegler.
Somando erros e acertos, Branca de Neve é uma releitura mediana. Não é surpreendente ou inovador, e nem queria ser, afinal é um remake. Mas também não é uma mera cópia, sem nada de novo. Embora suas "novas ideias", sejam emprestadas de outras adaptações e contos. No final, homenageia o clássico de 1937, mas não o supera.
Branca de Neve (Snow White)
2025 - EUA - 109min
Fantasia, Aventura, Musical
*A "I want song", "canção do eu quero", em tradução livre, é aquela canção típica dos musicais animados da Disney onde o protagonista revela seus sonhos e anseios. Como Let it Go, e Part of Your World, de Frozen e A Pequena Sereia respectivamente.
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