Jurado Nº 2

O que você faria nessa situação? É o que Clint Eastwood está te perguntando em seu mais recente filme. Repetidamente! Não apenas no ponto de vista do protagonista, mas de vários personagens em cena. E a resposta que ele deseja? Acredito, que deixar o expectador completamente indeciso quanto ao que fazer. 

Em Jurado Nº 2, Um homem é convocado para ser jurado em um caso de assassinato do qual nunca ouvira falar. Ou ao menos é o que ele acredita, até que o caso é apresentado e o homem se descobre não apenas envolvido, mas em um complexo dilema moral, que pode afetar as vidas de muitas pessoas.

Justin Kemp (Nicholas Hoult) é uma pessoa comum, bem intencionada, com problemas, uma esposa prestes a dar a luz, que foi convocado para o inconveniente trabalho de ser jurado. Em um caso onde um homem (Gabriel Basso), é acusado de matar a namorada. E apesar de ser o suspeito perfeito, alega inocência ao ponto de negar acordos e preferir um julgamento. Já a advogada (Toni Collette) do caso, tem o interesse da mídia e a provável vitória fácil, como maior aliada em sua campanha para se tornar promotora pública. 

É claro, o dilema de Kemp é o mais urgente. Envolvido no caso, pode inocentar ou condenar uma pessoa, às custas de sua própria liberdade. Mas deixaria uma esposa em gravidez de risco sozinha, para libertar um homem, que é sim um criminoso, apenas não é culpado da acusação em questão. É inevitável não se colocar na pele do protagonista, e pesar os prós e contras das diversas possibilidades, que se expandem e complicam conforme novas informações e percepções vem à tona, enquanto o júri delibera. 

Confusão, que Nicholas Hoult transmite com maestria, com o agravante do isolamento que a posse dessas informações privilegiadas o colocam. Não é apenas se questionar, duvidar, é imperativo passar por todo esse sofrimento sozinho. Sem surtar, sem gritar, sem agir de modo estranho em público. Reservando à expressões sutis, constante desconforto e inquietação disfarçados em público, e poucos momentos de desespero solitário, toda a carga dramática da situação. 

Gabriel Basso, precisa transmitir a ambiguidade de um sujeito que é visivelmente uma pessoa ruim. Culpado de várias coisas, um criminoso de fato, mas ao mesmo tempo de fato inocente do assassinato em questão. Ou ao menos convencido de sua inocência, já que suas ações contribuíram indiretamente para a morte da moça. 

Já Faith Killebrew, advogada de acusação vivida por Toni Collette, é diretamente questionada por J.K. Simmons, em uma excelente ponta, sobre as verdadeiras motivações e qualidade de seu trabalho. Será que ela fez realmente todas as perguntas, ou apenas seguiu o caminho mais fácil? Quer mesmo fazer justiça, ou apenas uma vitória para se eleger? E o que fazer diante dessa percepção? Continuar o caminho cômodo, ou recalcular a rota e corrigir seus erros?

E você espectador? O que faria em cada uma dessas situações? Ainda há tempo para ver um pouco das motivações dos personagens menores, que interferem no cenário enfrentado pelo protagonista. Da analise crítica da juíza (Amy Aquino), à falta de vontade, preconceito e bagagem dos demais jurados. Jurado Nº 2 é um mosaico de vivências, possibilidades e escolhas, propondo uma grande reflexão ao público. 

Tudo isso em uma narrativa sem pressa. Que usa de flashbacks que revisitam o mesmo momento de diferentes pontos de vista, reforçando a ambiguidade das situações. E principalmente, da memória e percepção alheias, já que um caso judicial se baseia e muito em depoimentos. 

Vale mencionar que o elenco ainda conta com, Kiefer Sutherland, Zoey Deutch, Adrienne C. Moore, Leslie Bibb e Chris Messina. Todos em boas performances, ainda que em papéis pequenos, como o conselheiro/informante juridico express vivido por Sutherland.

Fazendo inevitável referencia e homenagem à 12 Homens e uma Sentença, Clint Eastwood atualiza os "filme de tribunais". Agora não se trata apenas da analise de evidencias e relatos. Quem os está analisando, e como o fazem, também são peças chave no resultado. A verdade e a justiça podem ser relativos!

Certamente uma produção que merecia o destaque da tela grande. Por um erro incompreensível dos executivos da Warner, Jurado Nº 2 não teve lançamento nos cinemas. Chegando diretamente nas plataformas online. Atualmente você pode conferir no Max. 

Jurado Nº 2 (Juror #2)
2024 - EUA - 114min
Drama, Mistério

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