Batalhão 6888

Às vezes me impressiono, como não se esgotam as histórias não contadas em torno de alguns eventos históricos. Sendo a Segunda Guerra Mundial o mais rico, e explorado deles, especialmente pelo cinema e TV, as plataformas que melhor difundem esses relatos para o mundo. E a mais nova história surpreendente revelada vem da Netflix, Batalhão 6888.

Baseado uma história real, a produção narra a contribuição do batalhão título na guerra. O único formado apenas por mulheres negras a pisar na Europa, apenas para executar uma tarefa que ninguém queria, em que todos apostavam que falhariam. E onde os que tentaram não deram conta. Entregar 17 milhões de cartas encalhadas em hangares em Birmingham, Inglaterra, em apenas seis meses.

Descrito assim, pode parecer uma tarefa pequena em meio a um conflito grandioso. Mas são cartas carregando noticias dos soldados a seus familiares, e vice-versa. palavras de saudade, conforto, despedidas. Não mudam o rumo da guerra diretamente, e por isso foram menosprezada pelos "oficiais importantes", mas são cruciais para as pessoas, mais relevante que qualquer conflito, essenciais para o resultado deles. 

Além disso, descobrimos que é uma tarefa logística assustadoramente complexa. De correspondências mal endereçadas, soldados com nomes similares, e cartas danificadas pela batalha, transporte e armazenamento, dificuldades que qualquer serviço postal enfrenta naturalmente. As moças ainda precisaram contornar a instabilidade de uma guerra, quando soldados vem e vão, e sua localização é quase sempre imprecisa. Empecilhos que encontraram conforme faziam o trabalho, e precisaram descobrir como contornar no processo, com as ferramentas e habilidades que possuiam. Enquanto lidavam com a interferência de superiores machistas e racistas, que as viam como ferramentas à disposição, e definitivamente não seriam capazes de cumprir a tarefa. 

Spoiler. É claro cumpriram! Na metade do tempo. E ainda repetiram o feito com as correspondências encalhadas na França. Não tão spoiler, é claro que não foram reconhecidas por isso na época. E é ai que reside o grande mérito do filme dirigido por Tyler Perry, apresentar a história, suas dificuldades e soluções com clareza, coerência e de forma que é impossível não torcer para o 6888. 

Por outro lado, o roteiro não escapa de algum cansaço ao não distribuir bem as muitas histórias que tenta retratar. O protagonismo é da Major Charity Adams (Kerry Washington) e na soldado Lena (Ebony Obsidian), mas o roteiro ainda tenta dar atenção à outras oficiais, além do foco na tarefa em si, e seus percalços. É na falta de equilíbrio, entre esses muitos pontos de atenção, que o roteiro acaba perdendo o ritmo e soando arrastado em alguns momentos. Com histórias pessoais interrompendo o desenvolvimento do desafio do Batalhão e vice-versa.

Felizmente, nada que atrapalhe de fato o andamento do filme. Transformando-o apenas numa versão mediana, de uma excelente história. Ainda gostamos de acompanhar, mas a sensação de que essa história, se melhor contada poderia ser algo mais impactante e extraordinário, é inevitável. 

As atuações eficientes e carismáticas, são outro ponto à favor de nossa torcida pelo grupo. Sempre eficiente Kerry Washington traz a oficial que nutre o "amor duro" pelas subalternas. Exige o máximo delas, para que sejam fortes diante do mundo. Ao mesmo tempo que tenta não ser achatada por um sistema, que-lhes colocou no papel de comandante, mas não quer lhes dar a voz para tal. 

Ebony Obsidian surpreende ao dar vida à uma jovem frágil, sem o perfil militar, mas que se supera pelo desejo de se despedir de um amor perdido (Gregg Sulkin), e talvez provar ser merecedora de tal herói de guerra. Já Milauna Jackson, Kylie Jefferson e Sarah Jeffery, completam o grupo principal, que tem um pouco de suas histórias e personalidades mais exploradas, que a massa do pelotão.

Entre os nomes mais famosos, estão Susan Sarandon e Oprah Winfrey, como personalidades reais chave para o recrutamento das moças, Eleanor Roosevelt e Mary McLeod Bethune, respectivamente. E Dean Norris fazendo o que faz de melhor, como o repugnante General Halt, superior misógino e racista da Major Adams. Impressionante em como esse ator é bom, em ser mau. 

No geral Batalhão 6888 é uma produção mediana, tem bons nomes, produção caprichada, mas um roteiro que poderia ser mais afiado, e uma direção menos lugar comum, considerando a força de sua história. Ainda sim, é uma excelente forma de apresentar o 6888 para o mundo, e reparar o apagamento que sofreram. Além de ser mais uma narrativa maravilhosa de milhares ocorridas durante o conflito. Oitenta anos se passaram, e ainda estamos descobrindo novas histórias, que precisam ser contadas!

Batalhão 6888 (The Six Triple Eight)
2024 - EUA - 127min
Drama, Guerra, Histórico

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