Todo Tempo que Temos

Relacionamentos são únicos por causa dos indivíduos que fazem parte deles. São as pessoas, e suas particularidades que tornam as relações especiais. Assim como na vida real, o drama romântico Todo Tempo que Temos, se destaca por causa dos envolvidos nele. Em outras palavras, trata-se de uma trama comum, mas que tem no carisma do elenco seu ponto forte. 

Acompanhamos o relacionamento entre a competitiva chefe de cozinha Almut (Florence Pugh) e o divorciado ávido por uma família Tobias (Andrew Garfield). Desde os primeiros instantes, surgidos de um acontecimento incomum, como todo bom romance fictício. Ela o atropela enquanto ele andava de roupão na rua a procura de uma caneta. Passando por grandes decisões da vida à dois, e individual. Até seu tratamento de um agressivo câncer, e a aceitação de ambos da possível perda da batalha contra a doença.

Calma, eu não dei nenhum spoiler na sinopse acima. A revelação da doença de Almut é uma das primeiras cenas do filme, e o desenrolar da narrativa não linear, não deixa muitas dúvidas quanto ao desfecho da trama. Este filme relata um relacionamento, mas também uma longa e dolorosa despedida. 

Nesse sentido, não há grandes novidades no desenrolar da vida do casal. Pelo contrário, o caminho é tão previsível que o roteirista opta por contar a história fora de ordem, apenas para oferecer um desafio maior, que prenda o interesse do público. Ao ponto que figurinos, maquiagem e direção de arte, não fazem questão de marcar os diferentes momentos no tempo. Cabe ao expectador ficar atento ao momento, desafios e emoções de cada fase do relacionamento. 

A alternância temporal também contrapõe bons e maus momentos da relação. Construindo uma sensação de leveza, mesmo quando retrata os momentos mais difíceis. Para cada perda, é relembrado que algo foi ganho em algum momento. O problema que essa construção de leveza, somada a obstinação da personagem de Florence Pugh em deixar uma marca no mundo, criam uma imagem romantizada do combate ao câncer. 

Transformando em uma luta edificante, e nobre a todo momento, deixando de lado os momentos de desesperança, dúvida, e insatisfação que inevitavelmente acometem quem a enfrenta em alguns momentos. Um tom nobre e bonito, para quem apenas está torcendo pelo casal. Pensado para fazer o espectador chorar. Mas que pode incomodar, quem conhece, ou pior, tem um histórico com a doença. É possível contar nos dedos os momentos em que a dura realidade toma Almut de assalto, e ela não consegue controlar seus sentimentos. 

Uma pena, pois se a atuação de Pugh já impressiona com um desafio calculado, imagina o que ela poderia fazer se o filme não fosse tão comedido. E por falar nas atuações, são elas o ponto alto do longa. Totalmente centrado na excelente química entre Florence Pugh e Andrew Garfield. A dupla não apenas nos faz acreditar que são um casal, mas que são pessoas comuns, com anseios, medos e falhas, além de um carisma invejável. São aquele casal de quem você desejaria ser amigo.

Todo Tempo que Temos é um drama romântico estrategicamente criado para arrancar lágrimas. Que disfarça sua história nada original atrás de uma narrativa não linear, e romantiza a doença que retrata. Por isso, talvez não consiga fazer todo o cinema chorar, mas certamente emocionará a maioria. 

Todo Tempo que Temos (We Live in Time)
2024 - Reino Unido - 108min
Drama, Romance

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