Maníaco do Parque

Logo nos primeiros minutos de O Maníaco do Parque, que conta a história do serial killer que chocou São Paulo na década de 1990, um dos personagens afirma: "Ponto de vista é tudo no jornalismo!". Acontece que no cinema também é! Mas aparentemente, o filme do Prime Vídeo não consegue encontrar o seu. 

Problema surgido daquele que talvez seja o maior dilema de obras sobre crimes reais. Mesmo que a intenção seja dar voz às vítimas, é praticamente impossível fazê-lo sem dar palco aos criminosos. E em se tratando de um assassino que alegadamente tinha a notoriedade como um de seus objetivos, recontar seus crimes é lhe dar a fama que ele desejava.

Assim, Maníaco do Parque tenta dar o protagonismo à personagem fictícia Elena (Giovanna Grigio).Uma jornalista de início de carreira, que tenta se provar e superar o machismo da redação através da cobertura desse caso. Criando um paralelo interessante, ao colocar uma mulher, para investigar um assassino de mulheres, em circunstâncias extremamente machistas. 

Uma pena que esse paralelo soe artificial e forçado, já que Elena não é mostrada como uma mulher forte e determinada. Mas como uma novata teimosa para quem as coisas dão certo quase que por acidente, e que no meio do caminho não consegue evitar a loucura obsessiva. E cujo arco pessoal, de desentendimento com o pai em nada acrescenta à trama principal. Giovanna Grigio bem que tenta, mas o roteiro nunca oferece nada realmente bom para a moça. 

Dividindo o protagonismo com a jornalista, mesmo que o roteiro tente negar, está o personagem título. Francisco (Silvero Pereira) beira a caricatura em muitos momentos. Apesar do excelente trabalho corporal de Silvério, nem sempre o tom funciona para uma produção inspirada na realidade. Apresentando o personagem quase como um assassino filmes slasher, exagerando nas expressões e oferecendo uma personalidade confusa, no mal sentido. 

Um bom exemplo, é a discrepância na descrição dada pela psicóloga vivida por Mel Maia, que didaticamente descreve psicopatas como frios e sem emoções. Cenas antes de vermos Francisco ser tomado por emoções. Na tentativa de não lhe dar fama, o roteiro não consegue decidir quem é seu vilão.

No restante do tempo, a produção emula os clichês de filme de detetives. De epifanias repentinas, ao obrigatório mosaico de pistas na parede. Um passo à passo fácil de prever. 

Já quanto à fidelidade, a produção fica no limite entre real e ficção. Assassino real, repórter inventada, crimes reais, vitimas com identidades diferentes, investigação policial ajudada pelo jornalismo investigativo. Parece que para cada elemento real há, uma licença poética. Alguns compreensíveis como a proteção dos nomes das vitimas verdadeiras, outros de execução duvidosa como a solução do caso vir praticamente de fora da polícia.

O filme cria seus passos próprios, mas ao mesmo tempo não hesita em usar imagens de reportagens reais. Ou ainda vestir o personagem título exatamente com as mesmas roupas que o assassino real foi capturado, para resgatar a memória de quem acompanhou pela mídia. Mesmo que na cena do momento da prisão seu figurino fosse outro.

Outros nomes conhecidos no elenco, tentam dar substancia ao roteiro, mas não conseguem tirar muito do texto. Também estão em cena Marcos Pigossi, Bruno Garcia, Augusto Madeira, Xamã e até o Gilberto Barros!

Confuso, e um pouco panfletário, Maníaco do Parque é uma daquelas produções que nos convencemos de que não precisava ser feita. Ao menos não dessa forma. Cheia de boas intenções (o inferno também é), mas incapaz de executá-las. Uma vez que frases de efeito, e rompantes rasos de feminismo, são pouco diante do holofote que a produção acende sobre alguém que não pode receber essa fama. 

Desde o chamativo título, Maníaco do Parque por mais que tente, não consegue não exaltar a figura do assassino. Que amará essa fama, e segundo o próprio talvez possa desfruta-la fora da cadeia já em 2028! É um desserviço! 

Maníaco do Parque 
2024 - Brasil - 103min
Crime, Drama

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