Uma grandiosa, nada apressada e pontualmente equivocada introdução, é a descrição perfeita para a primeira temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder. Série ambiciosa e milionária do Prime Vídeo, que promete, como o nome sugere, mostrar a criação dos anéis poderosos da Terra Média de Tolkien. Esse ritmo mais lento, e as pontuais falhas, afastaram parte do público, que não acreditava, que tais erros poderiam ser corrigidos em temporadas futuras. Uma pena, pois a produção ouviu os pedidos e entregou um trabalho muito melhor neste segundo ano.
Partindo da revelação bombástica da verdadeira identidade de Sauron (Charlie Vickers) os primeiros episódios rapidamente recolocam as peças no tabuleiro, para avançar a jornada de fabricação das jóias mágicas e o crescimento do mal na segunda era. Colocando Galadriel (Morfydd Clark) e Elrond (Robert Aramayo) em lados opostos em relação ao uso dos anéis dos elfos. E isolando Celebrimbor (Charles Edwards), em sua própria curiosidade e vaidade. Dividindo-os e tornando mais fácil a conquista de Anatar. Nova forma de Sauron, que antes se apresentava como Hallbrand.
E por falar nas muitas faces do Senhor do Escuro, a sequencia inicial que mostra como o personagem ressurgiu em sua forma humana. Esclarece muitos dos questionamentos em relação à suas atitudes, ao mesmo tempo que enriquece suas motivações. Traído, o vilão conseguiu inesperadamente ressurgir em outra forma. Conforme se habitua a ela, e tira proveito de suas habilidades, é capaz de evoluir e novamente renascer, com ainda mais habilidades e segundas intenções.
Assim, sua revelação como Anatar, e a capacidade ímpar de dissimulação tornam sua relação com Celebrimbor o ponto alto da temporada. Com o elfo ferreiro sendo traído pela própria necessidade de se superar em seu ofício. Levando Eregion à destruição e ganhando uma bela redenção tardia.
Redimida também fora Galadriel, apresentada na temporada anterior com uma obsessão por vingança, intensificada pela convivência com Hallbrand. Alterna o hiper-foco para os benefícios dos anéis élficos, mesmo sem ter certeza de sua real pureza, arriscando sua amizade com Elrond. Para abdicar dele por motivos egoístas, e em sua ausência adquirir sabedoria, quanto ao seu real valor, e principalmente sobre a ameaça a ser combatida. Após muitos altos e baixos, a elfa termina a jornada da segunda temporada, também renascida. Mais sábia, literal e figurativamente iluminada, se aproximando cada vez mais da entidade de conhecemos durante a jornada de Frodo.
Outro que encara uma jornada para entrar em uma nova era é Durin IV (Owain Arthur). De príncipe que tenta constantemente provar seu valor a seu pai, à futuro regente que se mostra merecedor pela necessidade. Salvar Khazad-dûm de seu próprio regente. Sempre apoiado de perto pela sábia e carismática esposa Princesa Disa (Sophia Nomvete).
Durin III, é o exemplo perfeito da corrupção dos anéis de Anatar, e ao mesmo tempo contraponto, para a "pureza dos anéis élficos". Sim, tanto os anéis dos anões quanto os dos Elfos, tem influência sob seus portadores. Tornando-os indispensáveis para aqueles que os usam. Mas a dependência e o controle do artefato sobre o rei anão, é infinitamente mais poderosa. Assim como a cegueira, disfarçada de crescimento, que apenas alimentam a ganância já característica de sua raça.
Partindo para os núcleos não diretamente ligados aos anéis, ainda. A jornada do Estranho (Daniel Weyman), Nori (Markella Kavenagh) e Poppy (Megan Richards) é certamente a mais gostosa de acompanhar. E que traz mais surpresas, como um segundo grupo de pequenos, e a aparição de Tom Bombadil (Rory Kinnear), além da confirmação da identidade de um personagem muito querido. Uma pena que seu desenvolvimento tenha sido tão corrido, o que prejudicou especialmente a relação com Mago Sombrio (Ciarán Hinds). Se alguém souber quais as intenções desse personagem, aceito explicações nos comentários.
Outro núcleo com pouco tempo de tela foi Númenor, levado à uma guerra civil que pode representar o início de sua ruina. E certamente é o estopim para a vinda e estabelecimento de Elendil (Lloyd Owen) na Terra Média. Mas, diferente do núcleo dos pés peludos que gostaríamos de ver mais. A diminuição de tempo aqui é acertada. Eliminando quaisquer enrolação, e apresentando apenas o necessário para levar os personagens que serão relevantes aos seus devidos lugares.
Longe de sua terra natal, Isildur (Maxim Baldry), encabeça o terceiro núcleo reduzido nesta segunda temporada. Redução que não fora suficiente, gostaríamos de ver ainda menos. Dispensando o ensaio de romance com uma mulher suspeita, e toda a relação com o jovem Theo (Tyroe Muhafidin). Ao menos o tempo gasto, serve para tirar Arondir (Ismael Cruz Cordova) deste núcleo, após uma bem vinda aparição dos Ents. Ainda que o personagem ainda tenha pouca relevância (de fato achei que havia morrido em certa altura) em sua nova colocação.
Estes três núcleos, claramente sofreram reduções, diante de reclamações dos fãs na temporada anterior. E apesar dos resultados diferentes, Númeror alcançou o equilíbrio, gostaríamos de ver mais do Estranho e menos de Isildur, o saldo para a temporada como um todo foi positivo. A narrativa flui melhor, dando atenção ao que realmente à movimenta.
Faltou ainda falar um pouco de Adar (Sam Hazeldine). Mal assumido, que ao final se mostrou mais perto da luz que das trevas diante do mal ainda maior que escolheu combater. O elfo caído, ainda ansiava por sua antiga forma, muito mais que poder. Como se se arrependesse de sua queda, como vemos quando ele finalmente se empossa de Nenya, anel de Galadriel. Desejo que o diferencia radicalmente de Sauron, que tem controle de sua própria forma, mas nenhuma nostalgia por seu passado.
Mais acelerada e ativa que a temporada anterior, este segundo ano traz embates mais intensos, em maior quantidade e intensidade. Sendo o auge deles, a destruição de Eregion, em uma batalha que envolve diferentes povos da Terra Média. E em seu momento mais intenso, faz alusões assumidas à batalha do Abismo de Helm, de As Duas Torres, filme de Perter Jackson.
Tudo isso construído, e retratado com o melhor que seu orçamento astronômico pode oferecer, características já marcantes na primeira temporada. Direção de arte, fotografia, figurino e maquiagem impecáveis, que tornam aquele mundo fantástico, convidativo de deslumbrante para a audiência. A Terra Média do Prime Vídeo é perfeita.
Enquanto o elenco traz um trabalho eficiente, principalmente por ter diálogos melhores com que trabalhar. Entre eles os destaques ficam com o núcleo de Khazad-dûm, com o carisma de Sophia Nomvete em contraponto aos receios do Durin IV, criado por Owain Arthur. E a gradual perdição de Celebrimbor, seguida por uma redenção bem construída por seu intérprete Charles Edwards.
Os Anéis de Poder ouviu o público, e começou a ajustar os erros. Entregando uma temporada bastante superior, mais eficiente e coesa. E ainda sim, grandiosa e fantástica, como o dinheiro da Amazon e o rico repertório de Tolkien promete. Se seguir essa lógica só pode melhorar nas temporadas ainda por vir.
Dezenove dos vinte anéis já foram feitos, muitos ainda não tem portador. E o maior de todos ainda está por surgir. Ainda há muito que ver na segunda era da Terra Média. E honestamente posso afirmar, que mal posso esperar pela terceira temporada!
O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder tem duas temporadas, cada uma com com oito episódios com cerca de uma hora de duração, todos já disponíveis no Prime Vídeo.
Leia a crítica da Primeira Temporada!
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